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    Empresa quer deixar jatinhos mais verdes

    Especialistas dizem que setor de jatos particulares pode desempenhar um papel crucial na luta global contra as alterações climáticas

    Rym Bendimeradda CNN

    Grupos ambientais criticam há muito tempo o setor da aviação privada por se tratar de um grande emissor de dióxido de carbono em todo o mundo. O caso ganhou ainda mais destaque na semana passada, quando ativistas climáticos ganharam manchetes ao interromper uma feira de jatos privados na Suíça.

    Como muitas vezes viajam distâncias mais curtas do que os aviões comerciais, os jatos particulares são em geral menos eficientes em energia e suas emissões por passageiro são muito mais elevadas. De acordo com dados da ONG europeia Transport and Environment (T&E), os jatinhos podem ser cinco a 14 vezes mais poluentes do que os aviões comerciais, e 50 vezes mais que os trens.

    Mesmo assim, o setor de táxi aéreo e aviação privada registrou um crescimento considerável nos últimos anos. Um relatório do think tank americano Institute for Policy Studies revelou que o setor registrou recordes em 2021 e 2022. Para se ter uma ideia, o tamanho da frota global crescendo 133% desde 2000.

    Pesquisas encomendadas pela ONG ambientalista global Greenpeace mostram que jatos particulares na Europa emitiram 3,39 milhões de toneladas métricas de CO2 em 2022. O valor equivale, aproximadamente, às emissões de 753 mil carros movidos a gasolina nos EUA durante um ano.

    Mas os especialistas dizem que o setor ainda pode desempenhar um papel crucial na luta global contra as alterações climáticas. Vários players da indústria aeronáutica e dos táxis aéreos estão analisando formas inovadoras de reduzir os impactos ambientais.

    Como membro da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), junto com outras grandes companhias aéreas comerciais, a Jetex, empresa de aviação privada com sede em Dubai, tem como objetivo atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050.

    Lançada em 2005 pelo CEO Adel Mardini, a Jetex tem hoje 750 funcionários baseados em dezenas de terminais privados em todo o mundo, incluindo Dubai, Miami, Paris e Pequim.

    Desde 2021, graças a uma parceria com a empresa petrolífera finlandesa Neste, a Jetex passou a oferecer combustíveis sustentáveis de aviação (SAF na sigla em inglês), feitos de resíduos renováveis e matérias-primas de resíduos, em seu terminal do aeroporto de Helsinki, na Finlândia. Também em 2021, no terminal do aeroporto de Paris Le Bourget, a Jetex começou a oferecer SAF feito a partir de óleo de cozinha usado produzido pela empresa francesa TotalEnergies.

    A oferta limitada de SAF não permite que o combustível seja oferecido em todos os aeroportos, mas a empresa diz que quer torná-lo uma opção para seus viajantes em todas as suas localizações em todo o mundo.

    “Estamos constantemente pensando em como podemos trabalhar juntos com todos para que as mudanças climáticas tenham menos impactos em nossas vidas e no futuro”, disse Mardini à CNN, acrescentando que a Jetex está trabalhando na transformação de todas as suas localizações em terminais privados totalmente verdes no futuro.

    Escassez de combustível

    A aviação representou mais de 2% das emissões globais de CO2 relacionadas com energia em 2021. Mas, de acordo com a IATA, o SAF pode reduzir as emissões de CO2 em 80% e será o maior contribuinte único para atingir a meta líquida de emissões de carbono zero do setor em 2050.

    A escassez do combustível, no entanto, continua sendo o maior desafio nessa mudança, de acordo com a doutora Suzanne Kearns, professora associada de aviação da Universidade de Waterloo, no Canadá.

    “A gente imagina que talvez 60 a 70% das reduções de emissões do setor da aviação venham da integração de combustíveis sustentáveis para a aviação. Mas a realidade é que, hoje, ele é duas a oito vezes mais caro que os combustíveis tradicionais da aviação, e sua acessibilidade é limitada, por isso não está disponível em todos os aeroportos”, explicou a doutora Kearns à CNN.

    Ela acrescentou que, se o setor da aviação privada se tornasse um dos primeiros a adotar o SAF, “a economia de escala poderia vai tornar o combustível mais acessível, o que poderia atingir outros aspectos da indústria da aviação”.

    A Jetex começou a implantar o SAF em alguns de seus terminais
    A Jetex começou a implantar o SAF em alguns de seus terminais / Nicolas Dumont

    Embora nem todos os aeroportos tenham SAF, na semana passada a Jetex assinou um acordo que lhe permite oferecer o produto a seus clientes em todo o mundo. Ao fazer uma parceria com a 360 Jet Fuel Ltd, os passageiros (que são muitas vezes donos do jatinho) poderão usar o que é conhecido como “Sistema de Reserva e Crédito”. Eles pagam pelo SAF em um aeroporto que o tenha, para compensar parte ou todo o combustível normal usado pelo avião no qual viajam. Na prática, isso significa que eles podem “fornecer” SAF para voos de aeroportos que não têm o produto.

    O uso de SAF na aviação privada está lentamente se tornando mais difundido. A plataforma de fretamento de jatos Victor, sediada no Reino Unido, também tem uma parceria com a petrolífera Neste e anunciou recentemente que 20% dos seus passageiros estão voluntariamente optando por usar algum tipo de SAF para seus voos, num sistema estilo reserva e crédito que eles chamam de “pagar aqui, usar lá”.

    “Verde puro”

    A Jetex também revelou no ano passado planos para lançar o que chama de primeiro terminal privado “verde puro” do mundo, no Aeroporto Neuhardenberg, em Berlim, que abriga uma das maiores fazendas solares da Europa.

    “Há uma fazenda solar ao redor do aeroporto que cobrirá totalmente as necessidades energéticas do aeroporto. Do nosso lado, também planejamos usar veículos elétricos para alcançar emissões líquidas zero de carbono”, contou Mardini.

    Com o terminal em Berlim ainda em desenvolvimento, a empresa vem dando pequenos passos para transformar alguns de seus outros locais, incluindo Dubai, Londres, Paris e Singapura, em terminais totalmente “verdes” até o final de 2024.

    Para o futuro, a Jetex está considerando o uso de aeronaves elétricas e implementou parcerias estratégicas com empresas de mobilidade aérea urbana, incluindo a Volocopter e a EVE Air Mobility, para acelerar o desenvolvimento de aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOLs), às vezes chamadas de táxis voadores.

    As aeronaves eVTOL têm autonomia mais limitada que os jatos particulares, e seriam usadas para voos curtos em torno e entre cidades. No futuro, elas podem ser uma opção ecológica para as muitas celebridades que são criticadas por viajarem curtas distâncias em seus jatinhos.

    “Há inovações realmente empolgantes vindo da aviação privada”, celebrou a doutora Kearns.

    “As eVTOLs são fundamentais para o que imaginamos que será a mobilidade aérea avançada”, acrescentou. “Elas vão transportar pessoas em ambientes urbanos sem as emissões que seriam produzidas pelo combustível de aviação tradicional ou convencional”, disse.

    “Todo o setor está crescendo de forma muitíssimo rápida e isso é empolgante porque a aviação privada está liderando a mudança para um futuro sustentável para o transporte aéreo”.

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