Estudo aponta que oito fatores colocam adultos negros em maior risco de morte nos EUA
Fatores socioeconômicos desempenham um papel relevante, respondendo por aproximadamente 50% da diferença entre negros e brancos na mortalidade observada no estudo
Os adultos negros que vivem nos Estados Unidos têm um risco 59% maior de morte prematura do que adultos brancos. É o que aponta um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Tulane, publicado no periódico científico Lancet Public Health.
De acordo com a pesquisa, essa diferença pode ser explicada por disparidades em oito áreas críticas para a saúde e o bem-estar: emprego, renda, segurança alimentar, nível educacional, acesso à saúde, qualidade do seguro de saúde, casa própria e estado civil. Esses oito fatores são chamados de determinantes sociais da saúde.
Para chegar ao resultado, os pesquisadores utilizaram dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição, um levantamento dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA que ajuda a determinar a prevalência e os riscos de doenças no país.
Na análise, os especialistas modelaram o impacto de cada fator sobre a expectativa de vida de um indivíduo. Ao contabilizar os determinantes sociais desfavoráveis, a disparidade de mortalidade de 59% foi reduzida a zero.
“Desapareceu totalmente”, disse Josh Bundy, principal autor e epidemiologista da Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical de Tulane, em comunicado. “Não há diferença entre as taxas de mortalidade prematura negra e branca após contabilizar esses determinantes sociais”, detalha.
Ao longo do tempo, a diferença de mortalidade tem sido amplamente atribuída a fatores socioeconômicos, como nível educacional, renda e emprego. Contudo, os pesquisadores apontam que esses fatores explicam apenas a maior parte da diferença.
“Esta é a primeira vez que alguém explicou completamente essas diferenças”, disse Bundy. “Não esperávamos isso e ficamos entusiasmados com essa descoberta porque sugere que os determinantes sociais devem ser os principais alvos para eliminar as disparidades de saúde.”
Os fatores socioeconômicos ainda desempenham um papel relevante, respondendo por aproximadamente 50% da diferença entre negros e brancos na mortalidade observada no estudo.
No entanto, os outros quase 50% da diferença foram explicados pelo estado civil, segurança alimentar e se alguém tem seguro de saúde público ou privado. Segundo o estudo, os determinantes sociais desfavoráveis da saúde foram mais comuns entre os adultos negros e foram considerados um risco enorme no contexto da mortalidade precoce.
Os pesquisadores observaram, por exemplo, que apresentar apenas um determinante social desfavorável dobra as chances de um indivíduo ter uma morte prematura. Com seis ou mais deles, uma pessoa tem risco oito vezes maior de mortalidade prematura.
Para Jiang He, coautor da pesquisa, os resultados “demonstraram que as disparidades de saúde baseadas na raça são construções sociais, não biológicas.”
A opinião é compartilhada por Josh Bundy, que acrescentou que os achados explicam como “o racismo estrutural e a discriminação levam a piores fatores de risco social, que podem levar à morte prematura.”
Desafios
Na definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), os determinantes sociais da saúde são os fatores não médicos que influenciam os resultados em saúde de uma população.
“São as condições nas quais as pessoas nascem, crescem, trabalham, vivem e envelhecem, e o conjunto mais amplo de forças e sistemas que moldam as condições da vida diária. Essas forças e sistemas incluem políticas e sistemas econômicos, agendas de desenvolvimento, normas sociais, políticas sociais e sistemas políticos”, descreve a OMS.
Pesquisas mostram que os determinantes sociais podem ser mais importantes do que os cuidados de saúde ou que escolhas de estilo de vida ao influenciar a saúde. Diversos estudos sugerem, por exemplo, que fatores representam entre 30 e 55% dos resultados de saúde. Além disso, estimativas mostram que a contribuição dos setores fora da saúde para os resultados de saúde da população excede a contribuição do setor da saúde.
Segundo a OMS, os determinantes influenciam significativamente no contexto da desigualdade. Em países com diferentes níveis de renda, a saúde e a doença seguem um gradiente social: quanto mais baixa a posição socioeconômica, pior a saúde.
“Esses determinantes sociais da saúde são a base dos problemas de saúde”, disse Bundy. “Eles precisam ser uma prioridade máxima daqui para frente e serão necessárias políticas, pesquisas e uma abordagem multidisciplinar para lidar com essas questões”, conclui.