Rachel Maia: “Você não precisa me dar valor, só me dê oportunidade e eu vou mostrar a que eu venho”
CEO da RM Consulting e fundadora do Instituto Capacita-me narra sua trajetória de vida no quadro Vozes Pretas
“A minha voz tem força? Quando me fazem essa pergunta, eu repito alto para mim mesma. Às vezes, eu quero ter a certeza.” Certeza que não gera dúvida assim que a gente encontra com Rachel de Oliveira Maia, a Rachel Maia.
Ela carrega força em sua presença de quem domina o espaço que está e tem voz de comando. Algo que notamos, logo no primeiro minuto da entrevista, assim que ela – intencionalmente – definiu onde gravaríamos: num espaço de leitura cercada por livros de escritoras negras.
“É fundamental impulsionar mulheres, em especial mulheres pretas, que sempre estão na base da pirâmide. Então, se vocês olharem aqui atrás de mim, vocês vão ver vários livros de mulheres pretas que, por muitas vezes, passam despercebidas e nós não podemos deixar isso acontecer. O nosso Brasil está cheia de mulheres pretas, com vozes potentes, que escrevem as suas histórias ou escrevem as histórias do seu ecossistema.”, diz Rachel Maia, CEO da RM Consulting.
Esse olhar de empatia pelo próximo vem de casa.
“A minha base é o que eu trago de mais forte. Minha mãe sempre olhou o próximo, ajudou o próximo. Temos que fazer isso independente da posição que ocupamos porque posição é um momento presente que não nos define na vida.”, destaca a filha da Dona Preta e do Seu Antônio – seus maiores mentores na vida –, que cresceu no bairro de Jordanopolis, na região do Grajaú, extremo sul da periferia de São Paulo.
“Minha relação com a minha casa é o que eu tenho de mais precioso. É onde quando a balança fica meia descompensada, eu procuro voltar para o meu eixo.”, revela Rachel Maia, que também tem em Deus um dos seus maiores aliados (ela foi catequista por mais de 23 anos).
“Quelzinha” – nome carinhoso que ela recebe dos seus familiares – teve na educação a mola propulsora na sua vida.
“A sorte, por si só, ela não é nada. Eu tive a perspicácia de entender as oportunidades que passavam na minha frente e eu agarrei. Me dê oportunidade e me ajude a gerar oportunidade para o ecossistema onde eu vivo e onde eu estou. É dessa forma que eu acredito que a gente vai fazer a virada de página”, conta a fundadora do Instituto Capacita-me.
Oportunidades que a levaram até a cadeira número 1 – Rachel Maia foi CEO de grandes empresas no segmento de luxo, representando o número ainda baixo de CEOs negros no país (menos de 1%).
“Meu caminho até a cadeira número um foi de mais “não” do que “sim”. Foi de mais reuniões com homens, onde a minha ideia era repetida por homens que estavam sentados ao meu lado e era ovacionada por eles, enquanto a minha voz não era ouvida.”, conta Rachel Maia.
“Dessa forma, eu aprendi a entender qual seria o momento exato para fazer minha voz ser ouvida. Então, eu sempre tive a necessidade de estar todo momento alerta.”
Voz potente no mundo dos negócios, Rachel Maia é hoje fundadora do Instituto Capacita-me, focado em capacitar, desenvolver em empregas pessoas da periferia.
“A gente quer capacitar e devolver a dignidade das pessoas, capacitar e fazer com que as pessoas possam comprar o seu próprio mantimento, capacitar e fazer com que elas possam sair com os seus filhos e, simplesmente, proporcionar um benefício, uma diversão.”
Além de ser uma pessoa importante no mundo business, Maia tem se dedicado muito a impulsionar e potencializar mulheres (em especial, mulheres negras) a também alcançarem cargos de liderança.
“A gente não quer mais o resto, nós queremos também o melhor. Nós queremos também ser bem remuneradas, os melhores lugares na liderança, estar nas melhores universidades, concorrer nas melhores vagas. Para isso, é necessário se abrir as melhores vagas para nós de forma equânime. De forma propositiva. Para isso, nós temos que estar dentro dos índices. É isso que as mulheres pretas merecem.”
Diversidade, inclusão e multiplicidade são três palavras que trazem propósito na vida de Rachel Maia e que ela carrega sempre em seus discursos.
“A diversidade para mim, não é o acúmulo de corpos pretos. Quando a gente traz a inclusão, a gente tem que gerar o pertencimento e este tem que ser consciente. Hoje, nós não podemos só dar valor para resultados. Hoje é resultado e pessoas.”
E para isso acontecer, Rachel Maia acredita demais na força dos aliados. “Eu acredito na força dos aliados, tanto acredito que eu tenho muitos aliados brancos no meu entorno. Hoje, são eles que estão sentados, na sua grande maioria, nas cadeiras de liderança. Então, se eles não nos apoiarem a abrir espaço para mais diversidade, eles vão continuar sendo os únicos a sentarem nessas cadeiras.”
Mulher executiva, conselheira e mãe da Sara Maria (11 anos) e do Pedro Antonio (3 anos), Rachel Maia conta que tem uma agenda bem desafiadora, que carrega sem culpa alguma com relação a sua maternidade.
“Às vezes, eu consigo dar 5% do meu dia, faz parte. Às vezes, eu chego, eles estão dormindo, faz parte. Às vezes, eu dou um bom tempo para eles no final de semana, faz parte. Olha, eu parei de me culpar. Eu quero deixar um legado para os meus filhos que a mãe deles os amou de uma forma incondicional. Do meu jeito.”
Um jeito que ela mesma define muito bem: “Eu acho que sou uma trabalhadora, cara. Sou o resultado de um dia inteiro de trabalho.”