Marco fiscal e dados de inflação levam juros futuros às mínimas de 2023
Especialistas indicam que avanço da regra fiscal e resultado do IPCA-15 ajustam projeções do mercado sobre queda dos juros
Os títulos pré-fixados do Tesouro (LTN) com vencimentos mais distantes apresentam sequência de queda e batem suas mínimas em 2023. Especialistas consultados pela CNN conferem a tendência ao avanço do marco fiscal no Congresso Nacional e a dados recentes de inflação.
Os títulos com vencimento para 2025 ficam em torno de 11,56% ao ano na quinta-feira (25); aqueles com vencimento em 2026, 11,07%; e aqueles com vencimento para 2029, 11,54%.
“Vemos queda de juros por vários dias seguidos aqui no Brasil, especialmente na ponta longa, isso está ligado ao novo marco fiscal, que está praticamente aprovado, sem grandes dificuldades. O Congresso acabou colocando até algumas restrições a mais”, aponta Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master e professor de economia da FGV-SP.
Essas três categorias de títulos pré-fixados não atingem níveis tão baixos desde o primeiro semestre de 2022 — quando a taxa Selic ainda não tinha atingido o patamar atual, de 13,75% ao ano.
As projeções de juros, segundo os especialistas, também são impactadas por dados recentes de inflação. O IPCA-15 desacelerou para 0,51% em maio, resultado abaixo do projetado pelo mercado.
Com o resultado, os investidores ajustaram posições na curva a termo, retirando prêmios em meio à percepção de que o Banco Central terá espaço para iniciar o ciclo de cortes da taxa básica Selic mais cedo do que se supunha antes.
“A gente sabe que a inflação dos serviços tem sido um dos focos de preocupação do Banco Central, e o mercado, com esses dados, começou a antecipar o início do ciclo de corte de juros, de setembro, agora, para agosto”, comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho à CNN.
Paulo Gala classifica o resultado do IPCA-15 como uma boa notícia. Para o especialista, os dados recentes justificam o “otimismo” que passa a girar em torno da inflação e do crescimento do país.
“Está se criando um clima de que a inflação pode ficar mais perto de 5%, e o crescimento, mais perto de 2%. Poderia sair um ano bem melhor do que o encomendado, começa a se criar um clima mais otimista”, avalia Gala.
Cristina Helena de Mello, professora de economia da ESPM, aponta ainda para a junção de conjunturas econômicas nos Estados Unidos e no Brasil. Por lá, apesar da alta dos juros atrair quem busca títulos mais rentáveis, também há um ambiente de risco maior.
“O cenário de risco também aumentou, como o debate sobre o teto da dívida, esse ambiente de instabilidade, faz que muitos busquem títulos com maior rentabilidade, mas com segurança. Então a tendência de buscar títulos brasileiros, o que faz com que preços subam e as taxas de juros tendam a cair”.
Aliado a isso, diz a professora, tem ainda o avanço do projeto do marco fiscal e os dados positivos sobre inflação. “A inflação parece estar reagindo finalmente e convergindo para dentro da meta. “Tanto o cenário nos EUA — com percepção de risco — como o brasileiro, contribuem para a curva de juros futuro.”
(Com colaboração de Ana Carolina Nunes e Juliana Elias, da CNN)