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    Parceria entre Google e NYT fortalece imprensa e é sinal contra fake news, dizem especialistas

    Em acordo, buscador irá pagar R$ 100 milhões ao New York Times por três anos pelo direito de divulgar conteúdos do jornal em suas plataformas

    Juliana Eliasda CNN , em São Paulo

    O jornal norte-americano The New York Times, um dos maiores e mais influentes do mundo, deve receber cerca de US$ 100 milhões pelos próximos três anos para permitir que o Google compartilhe suas publicações em diferentes plataformas. As informações foram reveladas na quarta-feira (10) por reportagem do Wall Street Journal.

    Para especialistas, o alto valor do contrato aponta para valorização do trabalho jornalístico, que vem aos poucos recuperando receitas globalmente nos últimos anos — depois de duas décadas em que sofreu com a perda de assinantes, com o advento da internet e a fome por conteúdo gratuito.

    Por outro lado, a união de gigantes também reflete a preocupação do Google e de sua controladora, a Alphabet, em reagir à crescente pressão de governos e da sociedade sobre as grandes plataformas digitais por maior comprometimento no combate à disseminação das “fake news”.

    “É, com certeza, uma resposta da empresa a toda essa movimentação, para ficar mais bem vista nos olhares da sociedade”, diz Lucas Cabral, analista de Business Intelligence da Play9, agência de conteúdo e impulsionamento para influencers e marcas no ambiente digital.

    Para o especialista em Tecnologia e Inovação Arthur Igreja, o contrato entre as empresas é “histórico” e deve abrir portas para que outros acordos nestes moldes sejam firmados ao redor do mundo.

    “Entendo que é um acordo histórico que pode abrir portas para inúmeros outros contratos nos moldes do que temos, por exemplo, no streaming de vídeo, em que é muito comum alguém produzir um conteúdo e depois ele ser licenciado e transmitido em inúmeros outros ambientes”, explicou.

    Acordo ocorre em meio a debate sobre fake news

    Os especialistas destacam que, entre outras questões que dizem respeito à regulação das mídias, nuances sobre conteúdos jornalísticos estão em pauta na Europa, nos Estados Unidos e também no Brasil.

    Atualmente é debatido no Congresso Nacional o PL 2630, que ficou conhecido como “PL das Fake News” e traz propostas para regular os limites e responsabilidades das plataformas digitais em relação aos conteúdos que veiculam.

    Entre os assuntos abordados pela proposta, estão, justamente, a remuneração ao conteúdo jornalístico, publicidade digital e regulações específicas para essas plataformas.

    Arthur Igreja aponta que o acordo fechado pelo NYT deve também ser conferida à influência e poder de barganha do jornal. Ele destaca a remuneração desigual de veículos de menor proporção e o debate sobre regulação como possível solução.

    “Esse debate [remuneração do conteúdo jornalístico e “distribuição de forças] está muito aquecido na Europa e também faz parte desse projeto de lei que está em discussão aqui no Brasil”, indica.

    “Muitos apontam, inclusive, que isso [direitos autorais e remuneração do conteúdo jornalístico] poderia ser desmembrado e não fazer parte do PL das fake news. Tenho certeza que esse acordo começa a ser visado como um potencial modelo em diversos países”, completa.

    Detalhes do acordo

    O acordo do Google com o maior jornal dos Estados Unidos foi firmado em fevereiro. O New York Times chegou a noticiar a parceria, mas não havia detalhado o valor, agora divulgados por uma fonte com conhecimento do assunto, de acordo com a reportagem do WSJ.

    Segundo o próprio NYT, as empresas trabalharão juntas em ferramentas para distribuição de conteúdo e assinaturas, usando as ferramentas do Google para marketing, experimentação de produtos publicitários e, posteriormente, no Subscribe with Google (assinatura de notícia) e no Google Ad Manager (anúncios).

    “A The Times Company e o Google já colaboraram anteriormente no uso de novas tecnologias para atender às necessidades de negócios, incluindo a transformação da infraestrutura de dados da empresa com o Google Cloud, expansão dos formatos de anúncios do The Times usando o Google Ad Manager, digitalização do arquivo de fotos e recortes do Times e aplicação de aprendizado de máquina de técnicas para moderação de comentários”, diz o comunicado do periódico.

    Para Lucas Cabral, a parceria milionária pode render frutos benéficos para ambos os atores envolvidos.

    “É mais investimentos para o jornal investir em mais redatores e mais produção de conteúdo. Para o Google, o interesse também é visível: quanto mais relevante for a notícia que ele veicula, mais ele vai atrair tráfego e mais vai poder fazer publicidade dentro das suas páginas”, completa.

    Procurado para comentar, o Google respondeu que não compartilha “detalhes de acordos comerciais confidenciais com parceiros”, mas destacou que a empresa remunera, globalmente, mais de 2.200 publicações em 21 países, por meio do Google Destaques, que é um programa de licenciamento de conteúdo.

    No Brasil, diz a plataforma, são mais de 150 veículos de notícias em 20 estados brasileiros. “Somos um dos maiores financiadores do jornalismo no mundo por meio de nossos programas, parcerias e produtos”, afirmou a empresa.

    O faturamento do New York Times foi de US$ 2,3 bilhões em 2022, um aumento de 11,3% sobre o ano anterior, impulsionado pelo crescimento das assinaturas digitais.

    Foi só em 2020 a primeira vez que o jornal, fundado em 1851, anunciou ter tido receitas maiores com suas operações digitais do que com a tradicional versão impressa da publicação.

    Publicado por Danilo Moliterno.

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