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    Maurício Pestana: Quando a nota sai pior que o soneto

    Em casos de discriminação, preconceito e racismo que envolvem consumidores, pude perceber que o pior que pode acontecer nesses casos é ter que resolver a crise da crise

    Maurício Pestanada CNN

    Em minha longa jornada na área de diversidade e inclusão e, mais precisamente, auxiliando em comitês de crises em casos de discriminação, preconceito e racismo que envolvem consumidores, pude perceber que o pior que pode acontecer nesses casos é ter que resolver a crise da crise.

    Ou seja: corrigir a nota apressada com critérios apenas técnicos ensinados nas escolas de comunicação, para comunicadores que não foram preparados para lidar com questões delicadas como discriminação.

    Alguns erros primários cometidos por assessorias de comunicação, com pouco ou nenhum entendimento sobre questão racial, caem nas comunidades ofendidas muitas vezes até reforçando ou incriminando a empresa no ato de racismo.

    São vários os erros nessas notas; não irei me ater aqui em apontar todos, mas vou citar os que considero mais gritantes e mais comuns:

    1) Dizer: nossa empresa não discrimina ninguém. Isso não precisa estar estampado em nota. Isso o mínimo que se espera de qualquer pessoa ou instituição em um país que, inclusive, penaliza racismo como crime inafiançável;

    2) Dizer: Temos aqui negros trabalhando inclusive em cargo de gerência. Isso é o mínimo que se possa esperar de qualquer empresa e isso não isenta de um colaborador da empresa cometer um ato de racismo;

    3) Este talvez o pior deles: não assumir a responsabilidade por um ato ocorrido em um estabelecimento ou em uma situação que envolva a empresa.

    Nos casos recentes de racismo envolvendo grandes corporações e consumidores, discriminação racial, as notas de esclarecimento público cometeram um e, em alguns casos, até esses três e outros erros juntos, complicando mais ainda a situação da empresa.

    Mas, o que fazer em uma situação como essa, primeiro por mais difícil que seja se manter sensato e ter empatia, solidariedade, respeito e entender que a parte ofendida quer uma interlocução, no mínimo, com alguém que possa entender sua dor, isso no que diz respeito à relação pessoal ou à relação institucional com o público, por nota na imprensa incluindo a imprensa negra?

    Existem outras ações, medidas primárias que devem ser tomadas que, em geral, o mundo institucionalizado branco não tem a mínima noção e preparo para lidar com essa situação.

    É exatamente por isso que, muitas vezes, acabam querendo apagar o fogo com gasolina, como tem acontecido com muita frequência nos casos envolvendo racismo, empresas e consumidores no Brasil.

    A dica é sempre recorrer a uma consultoria especializada, sensível e com interlocução com a comunidade ofendida. Fora isso, é dar um tiro no escuro e muitas vezes apagar o incêndio com gasolina.

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