Eleições no Paraguai: candidato que pediu morte de “100 mil brasileiros bandidos” dá salto em pesquisa
Levantamento feito pela AtlasIntel aponta candidato da oposição Efraín Alegre e o governista Santiago "Santi" Peña empatados tecnicamente na liderança da corrida eleitoral
Os paraguaios vão às urnas, no próximo domingo (30), para as eleições gerais que decidirão o próximo presidente, vice, deputados, senadores, além dos governadores e deputados estaduais, para um mandato de cinco anos.
Uma pesquisa AtlasIntel, divulgada nesta terça-feira (25), mostrou que os dois principais candidatos estão à frente em empate técnico – deixando um cenário nebuloso para o país, que não prevê segundo turno nas eleições.
De toda forma, a surpresa desta pesquisa foi o terceiro colocado – um candidato polêmico, que já teve mandato como senador cassado após pedir a morte de “100 mil brasileiros bandidos”, e deu um salto de 8 pontos percentuais (pp) em relação ao último levantamento, do início do mês.
A empresa entrevistou virtualmente 2.230 eleitores paraguaios entre os dias 20 e 24 de abril. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiança de 95%.
Segundo os dados, o ex-ministro de Obras Públicas, Efraín Alegre, que lidera o bloco de oposição “Concertación Nacional para un Nuevo Paraguay”, que agrupa partidos desde a esquerda até a centro-direita, lidera a corrida eleitoral com 34,3% das intenções de voto.
Colado logo atrás, com 32,8% das intenções de voto, está o candidato governista Santiago “Santi” Peña, do Partido Colorado, o mesmo do atual presidente direitista Mario Abdo Benítez.
A diferença próxima à casa dos dois pontos percentuais entre os dois líderes da pesquisa se mantém desde a última pesquisa AtlasIntel, porém houve uma surpresa em relação ao terceiro colocado: o advogado Paraguayo “Payo” Cubas, do partido nacionalista de direita Cruzada Nacional (PCN).
O advogado paraguaio nascido nos Estados Unidos – envolvido com a política do Paraguai desde o final da década de 1990, que se apresenta como candidato antipolítica – saiu de 15% das intenções de voto, em 5 de abril, para 23% das intenções nesta nova pesquisa.
Payo Cubas chamou a atenção, em novembro de 2019, quando viralizou nas redes em um vídeo pedindo a morte de “100 mil brasileiros bandidos”.
https://twitter.com/UNO650AM/status/1199046914504876033?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1199046914504876033%7Ctwgr%5Ecb04f2f3e62127bb9661dffe1e5cfb740cbd70a1%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fveja.abril.com.br%2Fmundo%2Fpolitico-que-pediu-morte-de-brasileiros-e-destaque-em-eleicao-no-paraguai%2F
A gravação aconteceu durante uma ação policial de apreensão de madeira ilegal em uma fazenda de um brasileiro no município paraguaio de Minga Porá.
“Esses brasileiros bandidos. Invasores. Agora estão desmatando o país. Tem que matar pelo menos 100 mil brasileiros bandidos. Sabe quantos brasileiros tem no Paraguai? Dois milhões. 100 mil são bandidos. Paredão para esses brasileiros”, disse Payo.
Durante a ação, ele também foi visto agredindo e hostilizando os policiais que participavam da apreensão de madeira.
Poucos dias após esse episódio, o Senado paraguaio cassou o mandato de Payo, que tinha sido eleito em 2018, por “comprovado uso indevido de influência”.
O senador Enrique Bacchetta, que propôs a Comissão que cassou o mandato Payo, citou as agressões a policiais e a declaração sobre morte de brasileiros ao justificar a proposição da medida.
Agora, ele tenta reingressar na política paraguaia mirando o cargo mais alto do Executivo. Entre as propostas de seu “programa de governo” divulgadas em suas redes estão, por exemplo: “eliminar todo benefício político”, “redução de salários públicos” e “reduzir impostos”.
Eleições paraguaias
No próximo domingo, 30 de abril, os paraguaios elegerão os seguintes cargos: presidente e vice-presidente da República; 45 senadores titulares e 30 suplentes; 80 deputados titulares e 80 suplentes; 17 governadores; e, finalmente, 257 membros titulares e igual número de suplentes para os Conselhos Departamentais [assembleias legislativas estaduais do Paraguai].
As regras da política paraguaia preveem não haver segundo turno, nem possibilidade de reeleição. O candidato eleito ganha um mandato único de cinco anos.
A pesquisa da AtlasIntel questionou os cidadãos paraguaios sobre os principais problemas no país.
A corrupção foi o tema mais apontado, por 64,5% dos respondentes. Em seguida, está o acesso a serviços de saúde e medicamentos gratuitos, com 59,9%; e a insegurança, com 39,1%.
Quanto às principais características que o próximo presidente do Paraguai deve ter, foram destacadas pelos entrevistados honestidade, inteligência e patriotismo.
Os cidadãos paraguaios terão 13 opções diferentes para escolher nas eleições presidenciais. No entanto, duas chapas se destacam na liderança.
Santi Peña
É economista e foi ministro da Fazenda no governo de Horacio Cartes. Apresenta-se como o candidato a promover o desenvolvimento integral do país.
“Emprego, investimento em capital humano, saúde, educação. Os próximos anos podem ser os melhores para o Paraguai. Mas temos que colocar em prática todo o nosso conhecimento, experiência e determinação”, disse Peña à CNN.
Em janeiro, os Estados Unidos sancionaram Cartes (e o atual vice-presidente do país) por supostos atos de corrupção “que minam as instituições democráticas”, disse o Departamento do Tesouro na época. Esta é uma declaração que o líder do Partido Colorado rejeitou.
Efraín Alegre
É advogado e foi ministro de Obras Públicas durante o governo do presidente Fernando Lugo até 2011.
Sua proposta de governo se concentra na luta contra a corrupção para alcançar o bem-estar.
“Setenta anos vimos o governo (oficialista). Dê uma chance à Concertación e vamos mostrar que realmente podemos ver outro Paraguai, o do trabalho, o do esforço, um Paraguai solidário que tem uma resposta às grandes necessidades do povo”, disse Alegre à CNN.
Relações com China e Taiwan pautam eleições
A pressão dentro do país sul-americano tem aumentado, especialmente de seu poderoso lobby agrícola, para mudar os laços com a China e abrir os lucrativos mercados do país asiático para a soja e a carne bovina do Paraguai, seus principais produtos de exportação.
“Somos uma nação produtora de alimentos que não está vendendo para o maior comprador mundial de alimentos”, disse Pedro Galli, chefe da Associação Rural Paraguaia (ARP). Sua organização representa cerca de 3 mil agricultores locais.
Se o Paraguai reconhecer a China, seria um golpe para Taiwan, que enfrenta uma batalha difícil contra a força econômica de Pequim para manter seus 13 aliados restantes em todo o mundo, e um novo sinal da crescente influência da China em uma área que Washington há muito considera seu quintal.
O candidato da oposição Efraín Alegre, que representa uma coalizão de centro-esquerda, disse em janeiro e novamente em abril que favoreceria as relações com a China, o maior importador mundial de carne bovina e soja, se eleito presidente.
O candidato conservador do Partido Colorado, Santiago Peña, prometeu ficar com Taiwan. Uma delegação multipartidária visitou a ilha em fevereiro, buscando acalmar o nervosismo taiwanês.
Taipé, que afirma fornecer apoio econômico a seus aliados, disse na semana passada que estava “perplexa” com a posição da oposição paraguaia e que faria o possível para manter suas relações diplomáticas com o país.