Uso de maconha pode afetar capacidade de pensar e planejar, diz estudo
Impacto da maconha no cérebro pode ser particularmente prejudicial para o desenvolvimento cognitivo dos jovens, alertam pesquisadores
À medida que mais e mais estados se movem para legalizar a maconha nos Estados Unidos, os efeitos entorpecentes estereotipados da maconha se tornaram ultrapassados, muitas vezes substituídos por uma aceitação da droga como uma forma aceitável de socializar, relaxar e dormir melhor.
No entanto, enquanto a sociedade pode ter esquecido o impacto que a maconha pode ter no cérebro, a ciência não deixou de se dedicar a essa investigação.
Estudos há muito mostram que ficar chapado pode prejudicar a função cognitiva. Uma revisão da pesquisa de janeiro de 2022, publicada na revista Addiction, descobriu que o impacto pode durar muito além do efeito inicial, especialmente para adolescentes.
“Nosso estudo nos permitiu destacar várias áreas de cognição prejudicadas pelo uso de cannabis, incluindo problemas de concentração e dificuldades de lembrar e aprender, que podem ter um impacto considerável na vida diária dos usuários”, disse o coautor Alexandre Dumais, professor clínico associado de psiquiatria na Universidade de Montreal.
“O uso de maconha na juventude pode, consequentemente, levar a um menor desempenho educacional e, em adultos, a um desempenho ruim no trabalho e direção perigosa. Essas consequências podem ser piores em usuários regulares e intensos”, disse Dumais.
O impacto da maconha no cérebro pode ser particularmente prejudicial para o desenvolvimento cognitivo dos jovens, cujos cérebros ainda estão se desenvolvendo, disse a pesquisadora Megan Moreno, professora de pediatria da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, que não participou do estudo.
“Este estudo fornece fortes evidências dos efeitos cognitivos negativos do uso de cannabis e deve ser considerado uma evidência crítica para priorizar a prevenção do uso de cannabis na juventude”, disse Megan. “E, ao contrário da época de Cheech e Chong [dupla humorística que abordava o tema da maconha nos anos 1970 e 1980], agora sabemos que o cérebro continua a se desenvolver até os 25 anos.”
“Os pais devem estar cientes de que os adolescentes que usam cannabis correm o risco de danificar seu órgão mais importante, o cérebro”, alerta.
Pensamento de alto nível
A revisão de janeiro de 2022 analisou estudos com mais de 43 mil pessoas e encontrou um impacto negativo do tetrahidrocanabinol ou THC, o principal composto psicoativo da cannabis, nos níveis superiores de pensamento do cérebro. Essas funções executivas incluem a capacidade de tomar decisões, lembrar dados importantes, planejar, organizar e resolver problemas, bem como controlar emoções e comportamentos.
Você pode recuperar ou reverter esses déficits? Os cientistas não têm certeza.
“A pesquisa revelou que o THC é um composto solúvel em gordura que pode ser armazenado na gordura corporal e, assim, gradualmente liberado na corrente sanguínea por meses”, disse Dumais, acrescentando que pesquisas de alta qualidade são necessárias para estabelecer o impacto a longo prazo dessa exposição.
Alguns estudos dizem que os efeitos negativos no cérebro podem diminuir depois que a maconha é descontinuada, mas isso também pode depender da quantidade, frequência e anos de uso da maconha. A idade em que o uso de maconha começou também pode desempenhar um papel, se estiver dentro do período crucial de desenvolvimento do cérebro jovem.
“Até agora, as alterações mais consistentes produzidas pelo uso de cannabis, principalmente seu uso crônico, durante a juventude foram observadas no córtex pré-frontal”, disse Dumais. “Tais alterações podem potencialmente levar a uma interrupção de longo prazo das funções cognitivas e executivas.”
Além disso, alguns estudos mostraram que “o uso precoce e frequente de cannabis na adolescência prediz cognição ruim na idade adulta”, acrescentou.
Enquanto a ciência resolve isso, “medidas preventivas e interventivas para educar os jovens sobre o uso de cannabis e desencorajá-los de usar a substância de maneira crônica devem ser consideradas… já que os jovens permanecem particularmente suscetíveis aos efeitos da cannabis”, disse Dumais.