Vi abertura na ABL e percebi que poderia entrar, diz Mauricio de Sousa à CNN sobre candidatura
Entradas de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil estimularam tentativa, diz criador da Turma da Mônica; eleição está marcada para 27 de abril
Com mais de cinco décadas prestadas à cultura brasileira, que inclui a criação da Turma da Mônica e algumas das principais histórias em quadrinhos do país, Mauricio de Sousa encontrou um novo desafio para sua carreira: a concorrência a uma vaga na Academia Brasileiras de Letras (ABL).
A ABL, instituição inaugurada por Machado de Assis em 1897, tem como objetivo o cultivo da língua e da literatura nacional. Ao todo, são 40 membros fixos e perpétuos; quando há alguma renúncia ou morte de um membro, é aberto o processo seletivo para a eleição de uma nova pessoa.
Após as inscrições, os demais membros votam, e aquele que tiver mais votos consegue a vaga na ABL. No dia 27 de abril, Mauricio de Sousa, de 87 anos, e outros escritores disputam a cadeira de número 8 deixada por Cleonice Berardinelli, que morreu em 31 de janeiro.
Em entrevista exclusiva à CNN, o autor relatou que não vislumbrava uma cadeira na ABL até às recentes entradas de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil, quando ele viu uma possibilidade para ingressar na lista dos imortais – a alcunha dada aos membros.
“Durante muito tempo, eu não pensava nisso, não. Mas daí eu comecei a perceber que estavam aceitando não só escritores, mas pessoas que vieram da música, como o Gilberto Gil. Ou a Fernanda Montenegro, que veio com tudo do teatro. Eu vi a abertura de que poderia chegar até lá”, conta.
“Só falta a eleição”
Às vésperas da eleição, o autor não esconde a expectativa e a ambição de colocar o seu nome no hall da literatura brasileira. Caso ela seja confirmada, segundo ele, será resultado de muito trabalho e teimosia.
“Vejo [uma eventual eleição] como fruto de um trabalho muito forte na criação de personagens, textos, no lançamentos de livros. Tudo isso não foi fácil para mim. [São] Mais de 50 anos lutando para estar com os nossos produtos nas bancas, nas livrarias, mas, principalmente, no coração das crianças e leitores”, relata.
“Estou muito feliz com tudo até agora, só falta realmente a eleição. Tudo o que eu conquistei foi fruto de muito trabalho, teimosia e confiança”, completa.
Segundo ele, sua principal motivação para chegar à ABL é a experiência na Academia Paulista de Letras (APL), onde é membro desde 2011. A ideia é “repetir a dose”, só que em âmbito nacional, e o mandato na APL poderia ajudar.
“Estou adorando estar com eles na APL, é um bom lobby. Mas queria repetir a dose no Rio de Janeiro. “O que for para acontecer, acontecerá, e eu estarei feliz do mesmo jeito”, afirmou.
“Eu estou insistindo na proximidade com meus amigos autores, escritores, poetas, gente tão bacana de ouvir. Essa convivência vai me fazer bem, sem dúvida alguma.”
A torcida
O apoio a Mauricio de Sousa não se restringe ao conteúdo de seu currículo. Paulo Coelho, por exemplo, cadeira 21 da ABL, declarou abertamente seu apoio pelo criador da Turma da Mônica. “Ele pode ter certeza do meu voto. O momento é agora”, disse Coelho, nas redes sociais, em março.
O cartunista se mostra grato pelo apoio. “Logicamente, eu estou torcendo para mim mesmo, né?”, brinca. “Depois, comecei a descobrir que outros colegas também estão torcendo pela minha eleição, alguns abertamente. Estou aguardando e espero que eu entre. Percebi que tenho boas amizades.”
Ele ainda relatou conversas com acadêmicos e membros da ABL e ressaltou que a eleição, para ele, seria o “suprassumo do aprendizado”.
“A gente conversa, bate papo, faz parte de um processo pré-eleição. Eu até pergunto se eles conhecem a Turma da Mônica [risos]. Então, minha proximidade com esse pessoal maravilhoso vai me fazer aprender. Seria o suprassumo do que eu poderia de ter como aprendizado”, afirma.
Mas a tentativa de Mauricio de Sousa não passa ilesa de polêmicas. O jornalista e escritor James Akel, que também concorre à vaga na ABL, criticou a candidatura do rival em entrevista à Folha de S. Paulo, em março, dizendo que uma eventual eleição do criador da Turma da Mônica seria “o fim da literatura escrita nos livros”.
O cartunista, por sua vez, é sucinto na resposta. “Eu não aceito [o comentário], porque nem ele acredita nisso”, diz Mauricio de Sousa.
“Há muito trabalho a ser feito”
Apesar de manter o otimismo, Mauricio de Sousa se disse preparado para uma resposta negativa dos imortais da ABL, caso seja esse o resultado nas urnas.
“Se vier, tudo bem, e se não vier, tudo bem. Eu não sei ser infeliz, não sei ser triste, então eu estou preparado para celebrar o que vier”, define.
Com 87 anos, Mauricio de Sousa disse, que independentemente do resultado, não pensa em um fim para a carreira. Segundo ele, ainda há trabalho a ser feito. Um dos planos, inclusive, já foi divulgado pelo escritor: a criação da Turma da Mônica Idosa.
“Eu não acho que seja um final de carreira ou o ponto principal da minha vida. Vou estar com a criançada sempre que lerem as histórias e verem meus filmes. Eu não posso me queixar da vida, ainda há muito trabalho a ser feito, apesar da idade”, resume.
Por fim, ele se esquiva sobre a possibilidade de ter conversado com o Cebolinha para tramar um “plano infalível” e garantir a entrada na ABL.
“Eu não posso, de maneira alguma, abrir a boca e o coração e passar os truques do Cebolinha. É uma coisa sagrada. Vamos deixar isso para a Mônica e o Cebolinha”, decreta o pai da Turma.