O que o corte na produção de petróleo da Opep+ pode significar para a Rússia
Produtores e exportadores de petróleo anunciaram redução na produção em mais de 1,6 milhão de barris por dia a partir de maio
Alguns dos maiores exportadores de petróleo do mundo chocaram os mercados no último domingo (2) ao anunciar que reduziriam a produção de petróleo em mais de 1,6 milhão de barris por dia.
A Opep+, uma aliança entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e um grupo de países produtores de petróleo que não são da OPEP, incluindo Rússia, México e Cazaquistão, disse que os cortes começariam em maio, estendendo-se até o final do ano.
A notícia fez com que os contratos futuros de petróleo Brent — a referência global do petróleo — e o WTI — a referência dos EUA — subissem cerca de 6% nas negociações de segunda-feira.
A Opep+ foi formada em 2016 para coordenar e regular a produção de petróleo e estabilizar os preços globais do petróleo. Seus membros produzem cerca de 40% do petróleo bruto mundial e têm um impacto significativo na economia global.
A decisão da Opep+ de cortar a produção de petróleo pode ter grandes implicações para a Rússia.
Depois que a Rússia invadiu a Ucrânia no ano passado, os Estados Unidos e o Reino Unido pararam imediatamente de comprar petróleo do país. A União Europeia também parou de importar petróleo russo enviado por via marítima.
Membros do G7 também impuseram um teto de preço de US$ 60 por barril para o petróleo exportado pela Rússia, mantendo as receitas do país artificialmente baixas. Se os preços do petróleo continuarem a subir, alguns analistas especulam que os EUA e outras nações ocidentais podem ter que afrouxar esse limite de preço.
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse na segunda-feira que as mudanças podem levar à reavaliação do teto de preços — embora ainda não. “Claro, isso é algo que, se decidirmos que é apropriado revisitar, poderia ser mudado, mas não acho que seja apropriado neste momento”, disse ela a repórteres.
“Não sei se isso é significativo o suficiente para ter qualquer impacto no nível apropriado do teto de preço”, acrescentou ela.
A Rússia também anunciou recentemente que reduziria sua produção de petróleo em 500.000 barris por dia até o final deste ano.
Na semana passada, Putin admitiu que as sanções ocidentais poderiam desferir um golpe na economia da Rússia.
“As restrições ilegítimas impostas à economia russa podem de fato ter um impacto negativo sobre ela no médio prazo”, disse Putin em comentários televisionados na quarta-feira, relatados pela agência de notícias estatal TASS.
Putin disse que a economia da Rússia vem crescendo desde julho, em parte graças a laços mais fortes com “países do leste e do sul”, provavelmente referindo-se à China e alguns países africanos.
A Opep+ já havia anunciado que cortaria dois milhões de barris por dia em outubro de 2022, e a Arábia Saudita havia dito anteriormente que suas cotas de produção permaneceriam as mesmas até o final do ano.
“A medida para reduzir a oferta é bastante estranha”, escreveu Warren Patterson, chefe de estratégia de commodities do ING, em nota na segunda-feira.
“Os preços do petróleo se recuperaram parcialmente da turbulência observada nos mercados financeiros após a evolução do setor bancário”, escreveu ele. “Enquanto isso, espera-se que os fundamentos do petróleo fiquem mais apertados à medida que avançamos ao longo do ano. Antes desses cortes, já esperávamos que o mercado de petróleo tivesse um déficit bastante considerável no segundo semestre de 2023. Claramente, será ainda maior agora.”
A Arábia Saudita afirmou que o corte é uma “medida de precaução destinada a apoiar a estabilidade do mercado de petróleo”, mas Patterson diz que provavelmente “levará a uma maior volatilidade no mercado” ainda este ano, já que menos petróleo disponível aumentará os feitos inflacionários.
Ainda assim, as medidas sinalizam mudanças nas alianças globais com Rússia, China e Arábia Saudita em torno dos preços do petróleo, disseram analistas da ClearView Energy Partners. O preço mais alto do petróleo pode ajudar a Rússia a pagar por sua guerra contra a Ucrânia e também aumentar a receita na Arábia Saudita.
A Casa Branca, por sua vez, se manifestou contra a decisão da Opep+. “Não achamos que cortes sejam aconselháveis neste momento devido à incerteza do mercado – e deixamos isso claro”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby, na segunda-feira.
– Paul LeBlanc e Hanna Ziady da CNN contribuíram para esta reportagem.