MP-SP denuncia cabeleireiro por racismo, homofobia e injúria
Dono de salão de beleza teve áudios vazados em que diz que não contratava "gordo", "petista", "preto" e "viado"
O Ministério Público de São Paulo denunciou um cabeleireiro por racismo, homofobia e injúria racial. Ele se chama Diego Beserra Ernesto, é dono de um estabelecimento na capital paulista, e teve áudios divulgados com ofensa a negros, pessoas obesas e homossexuais.
A denúncia aconteceu a partir dos áudios nos quais o profissional ri e afirma não contratar “preto”, “gorda” nem “viado”. Em janeiro de 2023, um profissional que estava atendendo no local realizou um teste com uma mulher interessada em atuar como sua assistente. O dono do salão, porém, estava presente e “lançou contra ela olhares de desprezo e desdém, o que a deixou constrangida”, fazendo com que a vítima desistisse do posto de trabalho.
Ao tomar conhecimento da desistência da mulher em ocupar a vaga, o profissional entrou em contato com o dono do salão “expressando inconformismo”. Em resposta, ele recebeu áudios nos quais o dono do estabelecimento fez comentários negativos em relação a pessoas negras, gordas e com determinada posição política, afirmando que não as contrataria. Ele ainda afirmou não contratar homossexuais, usando termos pejorativos para se referir a eles.
Além de oferecer denúncia, o Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância (Gecradi) pediu o reconhecimento do dano moral coletivo e a fixação de indenização à coletividade e à vítima.
Gravação viralizou nas redes sociais
Em fevereiro deste ano, os áudios viralizaram nas redes sociais. Na mensagem, Diego diz ao colega de profissão, que pretendia contratar uma auxiliar negra, gorda e com cabelos curtos, que não contrata “gordo”, “petista”, “preto” e “viado”. Na época, a defesa afirmou que a conversa foi tirada de contexto.
O material foi recebido pelo cabeleireiro Jeferson Dornelas no dia 12 de janeiro. Ele explicou que alugava parte do salão de Diego, no bairro de Perdizes, na zona oeste de São Paulo, onde atendia clientes. Ele disse que o cabeleireiro já havia dado indícios deste comportamento, mas nunca verbalizado desta forma.
No áudio, Diego diz: “Eu coloquei uma regra ‘pra’ mim. Eu não contrato gordo, petista e não contrato preto. No caso do preto, alguns se fazem de vítima da sociedade. No caso da mulher tem duas coisas. Gorda e preta. Ela não cuida nem do próprio corpo. Como vai ter responsabilidade na vida? Essa minas que usam cabelo curto é [sic] feminista. A gente não sabe. Eu não sei. Não ‘tô’ generalizando, dizendo que todas são, mas tem uma grande probabilidade de ser feminista. Feminista é um saco, mano! Você não pode falar nada. Esqueci de falar, mano. Não contrato mais viado. Só se a pessoa estiver mentindo”.
Jeferson fez um boletim de ocorrência. Ele foi procurado por Diego pedindo um acordo sobre o caso e dizendo que estaria disposto a uma retratação.
Na época, a mulher que realizou o teste no salão declinou a oferta de trabalho. Após a repercussão na internet, ela disse que tinha se sentido constrangida com “a cara que ele fazia olhando para mim, como se eu estivesse incomodando de estar no espaço dele”, referindo-se a Diego.