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    ‘Eu matei um homem hoje’, diz soldado russo acusado de crimes de guerra à revelia após arquivos de áudio interceptados

    Ele é acusado de tentativa de assassinato de um civil

    Rebecca WrightIvan WatsonOlha KonovalovaTom Boothda CNN , Izium, Ucrânia

    Um soldado russo que supostamente atirou em um civil, em um ataque extraordinário capturado pela câmera de um drone ucraniano, está sendo acusado de crimes de guerra à revelia pela polícia ucraniana.

    O dossiê de provas contra o soldado inclui telefonemas entre ele, sua esposa e um amigo, interceptados durante uma investigação de meses sobre o ataque russo perto da cidade de Izium em junho passado.

    Os arquivos de áudio foram compartilhados exclusivamente com a CNN antes de uma entrevista coletiva, nesta terça-feira (21), em Kharkiv, para anunciar as acusações.

    A polícia identificou o soldado como Klim Kerzhaev – um comandante de 25 anos de Moscou, que serviu na 2ª Divisão de Fuzileiros Motorizados do 1º Exército de Tanques no Distrito Militar Ocidental. Ele é acusado de tentativa de assassinato de um civil – um crime de guerra nos termos do artigo 438 do Código Penal da Ucrânia.

    O ataque também foi capturado em imagens aéreas por soldados ucranianos, que lançaram uma missão de resgate única anexando um pedaço de papel com as palavras “siga-me” a um pequeno drone – uma operação que apareceu em um documentário recente do cineasta ucraniano Lyubomyr Levytsky.

    “Estamos vendo isso como se fosse na TV, como uma novela. Um filme de terror em que os russos matam civis”, disse à CNN o chefe do departamento de investigação da polícia de Kharkiv, Serhii Bolvinov.

    Além das imagens do drone, Bolvinov disse que sua investigação incluiu exames forenses do veículo e da cena – conduzidos depois que Izium foi libertado pelas tropas ucranianas em setembro – junto com evidências coletadas pela polícia cibernética que rastreou as contas de mídia social e telefonemas do soldado.

    A CNN solicitou comentários sobre o caso ao Ministério da Defesa da Rússia no momento da publicação nesta terça-feira (21), depois que o embargo às informações foi suspenso.

    Bolvinov disse que este é apenas um das centenas de supostos crimes de guerra russos que sua equipe está investigando atualmente na região de Kharkiv, incluindo a descoberta de centenas de corpos em valas comuns em Izium. Ele tem mais de 900 investigadores em sua equipe, e a maior parte de seu trabalho atual é focada em casos de crimes de guerra.

    Na sexta-feira, o Tribunal Penal Internacional emitiu mandados de prisão para o presidente russo Vladimir Putin e para a autoridade russa Maria Lvova-Belova – sob a acusação de deportar ilegalmente milhares de crianças ucranianas para a Rússia.

    ‘A vida deles poderia ter acabado’

    No verão passado, o casal Valeria Ponomarova e Andrii Bohomaz estavam dirigindo para Izium, na Ucrânia, para ajudar os pais idosos e doentes de Bohomaz a escapar da cidade sob controle russo.

    O casal fez uma curva errada e inadvertidamente se aproximou da linha de frente onde as tropas russas estavam baseadas, e seu carro foi atingido por tiros.

    Soldados ucranianos baseados nas proximidades detectaram o incidente de longe usando um drone de reconhecimento – que eles enviaram para mais perto do local para capturar as imagens extraordinárias do casal tentando fugir.

    O vídeo mostra o casal abandonando o carro para correr em segurança, mas se virando quando as explosões caíram muito perto deles. Eles foram alvejados novamente, deixando Bohomaz gravemente ferido. Ponomarova tentou mover o marido para trás do carro e enrolar toalhas em seus ferimentos para estancar o sangramento.

    Soldados russos estavam a cerca de 30 metros do carro do casal, segundo a polícia, por isso era muito perigoso para as tropas ucranianas retirar o casal.

    Então eles enviaram o drone de volta depois de recarregá-lo e anexar um pedaço de papel branco com as palavras “siga-me” – para guiar Ponomarova para um território mais seguro.

    Ela viu um drone no alto, mas não tinha certeza de que lado estava. “Eu me virei e caí de joelhos e gritei com o choro mais agonizante”, disse Valeria Ponomarova. “Eu não sabia [de quem era o drone]. Nossas forças, ou o inimigo”, ela disse mais tarde durante o documentário.

    Ponomarova disse que acabou seguindo o drone, pensando que era a única maneira de obter ajuda para o marido ferido.

    Mas logo depois que ela saiu, uma equipe de soldados russos se aproximou do carro a pé, pegou o ferido Bohomaz e o jogou em uma vala próxima.

    Milagrosamente, ele sobreviveu.

    ‘Conversas carregadas de palavrões’

    A filmagem do drone mostrou que Ponomarova não viu isso acontecendo atrás dela, enquanto ela continuava a pé pela estrada marcada pela batalha, e até mesmo contornando as linhas de minas antitanque.

    Quando os soldados conseguiram colocar Ponomarova em segurança, eles disseram a ela que não era possível voltar para buscar seu marido, pois as tropas russas estavam no local.

    Até agora, um soldado russo foi acusado. Além das imagens do drone, as evidências compiladas pelos investigadores ucranianos contra ele incluem gravações de telefonemas interceptados com sua esposa e um amigo.

    Em uma das conversas carregadas de palavrões, o soldado disse à esposa que “matou um homem hoje”, depois de atirar em um carro de seu veículo de combate de infantaria da era soviética. Imediatamente depois disso, o soldado volta à conversa casual, pedindo à esposa para “colocar algum dinheiro no meu telefone hoje, ok?”

    Em uma ligação para um amigo um dia depois, ele repetiu a confissão de ter matado um homem e, quando seu amigo perguntou como se sentia, ele respondeu: “a porra do carro levou um tiro. Eu não dou a mínima.” A CNN traduziu as interceptações de áudio fornecidas pela polícia, mas não pode verificar os arquivos de forma independente.

    Bohomaz conseguiu sair da trincheira para buscar ajuda, apesar dos ferimentos graves.

    “Eu escutei que estava começando a chover e comecei a tremer”, disse Bohomaz no documentário “Follow Me”. “Depois de uma noite na trincheira, voltei a mim por causa da chuva.”

    “Eu entendi que tinha que sair de alguma forma”, acrescentou.

    Bohomaz conseguiu mancar em segurança em direção à posição ucraniana.

    “Demorou cerca de 30 ou 40 minutos”, disse ele. “Mas andei com paradas, porque senti muita dor.”

    Nove meses desde que sobreviveu ao ataque, Bohomaz ainda está em tratamento para vários ferimentos causados ​​por estilhaços no cérebro, tórax e coluna.

    A CNN procurou o casal para comentar o processo legal que está sendo iniciado contra o soldado russo, mas não recebeu resposta.

    “É um crime terrível”, disse Bolvinov. “A vida deles poderia ter acabado nessa encruzilhada, mas felizmente eles conseguiram sobreviver.”

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