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    Delegação ucraniana no Brasil critica “genocídio” praticado pela Rússia e promete que país “continuará lutando”

    Grupo se reuniu com parlamentares e empresários brasileiros para expor a situação do país e pedir apoio

    Lourival Sant'Anna

    Uma delegação de três ucranianos veio a Brasília e a São Paulo explicar a visão do país sobre a guerra com a Rússia. Eles se reuniram com os influentes senadores Jaques Wagner (PT-BA), Renan Calheiros (MDB-AL), que preside a Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), líder do governo na Casa.

    Também se encontraram com seis deputados federais e com Murilo Komniski, assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência.

    Os três concederam entrevistas exclusivas à CNN depois de um seminário na Fundação Fernando Henrique Cardoso.

    À pergunta sobre se os ucranianos estariam dispostos a ceder território em troca de paz, Olexiy Haran, professor de política comparada da Universidade Nacional da Academia Kiyv-Mohyla, respondeu: “Sempre faço essa pergunta no Sul Global: imagine que o seu país foi invadido, todo bombardeado. Um império colonial anuncia que
    parte do seu território pertence a ele. O que você faria? Os ucranianos estão lutando.”

    Com base em pesquisas feitas por sua universidade, Haran afirma que “90% dos ucranianos estão otimistas, acreditam na vitória, e não aceitam a paz sob as condições de Putin, às custas do território ucraniano”.

    “E nós mostramos que somos capazes de liberar nosso território”, continuou o professor. “Nosso espírito é imenso. O Exército russo é corrupto. [Vladimir] Putin está mandando milhares de soldados para a morte. Para que eles estão morrendo? Nós estamos lutando por nossa liberdade. E vamos continuar lutando. Nós liberamos muito do nosso território e vamos liberar toda a Ucrânia. É só isso que queremos. Mas definitivamente precisamos de apoio.”

    Haran rejeitou a justificativa de Putin para invadir a Ucrânia, de que estaria combatendo nazistas: “Os nazistas matavam as pessoas por causa do sangue delas, a etnia delas. Os soldados ucranianos estão bombardeando a Rússia? Eles invadiram a Rússia? Não. É Putin que está nos bombardeando.”

    “Putin começou o genocídio contra os ucranianos. Os nazistas criaram um império para todos os que falavam alemão. Putin faz a mesma coisa. Nós temos ucranianos, russos étnicos, tártaros da Crimeia. Nosso presidente é judeu, sem problemas. Os russos dizem que estão protegendo os russos étnicos. Eles destruíram Kharkiv e Mariupol, onde a maioria da população eram russos étnicos”, acrescentou.

    Outra integrante do grupo é Anna Liyubima, diretora do Departamento de Cooperação Internacional da Câmara de Comércio e Indústria Ucraniana. Ela se reuniu com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

    O Brasil se opõe às sanções contra a Rússia e aumentou em 38% as importações de produtos russos no ano passado, enviando US$ 7,85 bilhões para o país, principalmente na compra de fertilizantes.

    Liubyma observou que a Ucrânia é um dos maiores produtores e exportadores de fertilizantes do mundo, tanto químicos quanto orgânicos. “Por isso é essencial apresentar os produtos ucranianos para o mercado brasileiro”, disse ela. “Tive reuniões com várias empresas no Brasil e decidimos organizar uma conferência online para colocar as empresas ucranianas em contato com elas.”

    Ela reconheceu: “Existe um aspecto sensível em relação ao preço, por causa do bloqueio russo aos nossos portos. Mas temos a Agência de Crédito às Exportações, que voltou a operar, e há uma lista das indústrias críticas. Ela pode apoiar nossos exportadores, já que essa é uma das questões mais importantes para nosso governo”.

    O Produto Interno Bruto (PIB) da Ucrânia encolheu 30% em 2022 e as exportações, 35%, mas as previsões eram mais pessimistas ainda, observou Liyubima.

    “Nossas empresas são muito resilientes. Mesmo durante a guerra, continuam a operar, a abrir escritórios, relocando de lugares destruídos e mais perigosos para mais seguros. E mesmo se instalando em outros países, como o Brasil, em busca de oportunidades.”

    O maior problema é a logística, especialmente o bloqueio dos portos marítimos pela Rússia. Antes da guerra, a Ucrânia tinha 18 portos em operação. Hoje, são só três, e que só funcionam para o corredor dos grãos, fruto de acordo internacional envolvendo a Rússia e a Ucrânia.

    Ou seja, só produtos agrícolas podem passar pelos portos. As outras empresas só podem usar ferrovias e caminhões para exportar ou importar produtos. O segundo maior problema são os blecautes.

    “Os russos atacam nossa infraestrutura de eletricidade e, depois desses ataques, nossas empresas ficam sem energia, o que significa que não têm conexão de internet e celulares nem aquecimento, e o inverno é frio. No caso dos hospitais, é questão de vida e morte”, disse Liubyma. “Mas as empresas ucranianas são corajosas. Compramos geradores e continuamos operando.”

    As cadeias de valores foram rompidas. Com as relocações e reconstruções, precisam encontrar novos colaboradores, novos clientes, novas cadeias de distribuição, explica a executiva.

    “É muito complicado, mas é possível. A partir de abril do ano passado, o número de novas empresas cresceu, e companhias estrangeiras voltaram. Por exemplo, o McDonald’s suspendeu as operações até julho, mas desde então está de volta. Os investimentos estrangeiros estão voltando de forma sustentável.”

    Com o grupo veio também o reverendo Ihor Shaban, da Igreja Católica Grega na Ucrânia. “Nesses dias que passamos no Brasil aprendemos que os brasileiros estão muito abertos para a paz, da mesma forma que os ucranianos”, afirmou ele.

    “Nós entendemos a paz da forma certa. Nossos vizinhos da Rússia entendem de outra forma. Eles vêm e matam ucranianos, mulheres e crianças. Isso não é paz.”

    Shaban continuou: “Se os brasileiros entendem o que é a paz, devem diferenciar o bem do mal. Entendo perfeitamente a situação econômica e política do Brasil em relação à Rússia. Mas, como sacerdote, preciso dizer francamente que as pessoas precisam escolher seu lado: apoiar o bem ou o mal. Quem não apoia o bem e fica em silêncio está apoiando o mal”.

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