Mistério sobre autoria de sabotagem dos oleodutos Nord Stream segue após 6 meses
Kremlin acredita que ataques a gasodutos Nord Stream ocorreram com apoio estatal; Ucrânia nega
A Ucrânia negou qualquer envolvimento na sabotagem dos oleodutos Nord Stream após uma reportagem da mídia citar novas informações de que um “grupo pró-ucraniano” pode estar por trás do ataque do ano passado visando o fornecimento de gás da Rússia para a Europa.
A demissão de um alto funcionário ucraniano na terça-feira (7) veio em resposta a uma reportagem do jornal “New York Times” que citou novas informações que foram revisadas por autoridades dos Estados Unidos.
“Embora eu goste de colecionar divertidas teorias da conspiração sobre o governo [ucraniano], devo dizer: [a Ucrânia] não tem nada a ver com o acidente no Mar Báltico e não tem informações sobre ‘grupos de sabotagem pró[-Ucrânia]’”, disse Mykhailo Podolyak, principal conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no Twitter.
A reportagem informou que a nova inteligência revisada por autoridades dos EUA sugere que um grupo leal à Ucrânia, agindo independentemente do governo de Kiev, estava envolvido na operação.
O mistério cercou quem poderia ser o responsável pela sabotagem descarada em setembro passado, que danificou dois dutos de transporte de gás russo para a União Europeia e atingiu uma fonte crucial de receita para Moscou.
Ambos os oleodutos foram fechados no momento do ataque, que ocorreu meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Uma fonte familiarizada com a inteligência dos EUA disse à CNN que a avaliação não foi feita com muita confiança e não é a visão predominante da comunidade de inteligência, e que o serviço ainda não identificou um culpado pelo ataque.
Há uma seção da comunidade de inteligência dos EUA que acredita que os atores pró-ucranianos teriam motivos para sabotar os oleodutos por causa de como a Rússia os estava armando contra a Ucrânia e a Europa.
A comunidade de inteligência não tem evidências de que os líderes ucranianos, incluindo Zelensky, tivessem qualquer conhecimento ou envolvimento na sabotagem do oleoduto, disse a fonte.
O incidente, no qual ocorreram explosões subaquáticas antes de os oleodutos estourarem em vários lugares continua sendo um importante ponto de discórdia entre a Rússia e o Ocidente.
Os oleodutos que ligam a Rússia e a Alemanha através do Mar Báltico para canalizar gás da Rússia para a União Europeia eram controversos muito antes de o Kremlin declarar guerra à Ucrânia, principalmente por causa dos temores em torno da dependência europeia da energia russa.
O dano deles se tornou mais uma reviravolta no impasse energético que eclodiu após a invasão, quando a Europa tentou se livrar do combustível russo.
Várias investigações por parte das autoridades europeias estão em andamento.
Os promotores suecos confirmaram em novembro que as explosões nos oleodutos foram um ato de sabotagem depois que os investigadores descobriram evidências de explosivos nos locais, mas sua investigação preliminar ainda não havia determinado quaisquer acusações.
Falando a repórteres na terça-feira, o coordenador do Conselho de Segurança Nacional dos EUA para comunicações estratégicas, John Kirby, encaminhou as perguntas para as autoridades europeias de investigação e disse que “não vai se adiantar nesse trabalho investigativo”.
“Vários nossos parceiros europeus – na verdade, três deles na Alemanha, Suécia e Dinamarca – já abriram investigações sobre o que aconteceu com o gasoduto Nord Stream 2, e essas investigações não estão encerradas. Eles ainda estão trabalhando duro nisso”, disse Kirby.
Nos dias que se seguiram ao incidente, avistamentos de embarcações russas operando na área onde ocorreram os vazamentos levantaram suspeitas sobre o potencial envolvimento da Rússia, que na época chamou a atenção de autoridades europeias e americanas como o único ator na região que se acredita ter tanto a capacidade quanto a motivação para danificar deliberadamente os oleodutos.
A Rússia negou publicamente ter atingido os oleodutos e culpou o Ocidente pelas explosões ainda inexplicáveis. Em setembro, um porta-voz chamou as acusações contra Moscou de “previsivelmente estúpidas e absurdas”.
Durante uma reunião dos Ministros das Relações Exteriores do G20 em Nova Délhi no início deste mês, o Ministro das Relações Exteriores Sergey Lavrov insistiu na necessidade de uma “investigação justa e imediata” sobre as explosões.
Otan diz que ainda não está claro quem estava por trás dos vazamentos
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que não há nenhum autor identificado da sabotagem dos gasodutos Nord Stream.
“Não conseguimos determinar quem estava por trás [da sabotagem]”, disse Stoltenberg.
“Existem investigações nacionais em andamento e acho que é certo esperar até que sejam finalizadas antes de dizermos mais alguma coisa”.
Kremlin acusa Ucrânia
O Kremlin afirmou nesta semana que duvida que os ataques aos gasodutos Nord Stream em setembro do ano passado possam ter sido realizados sem o apoio de um Estado.
“Quanto ao ângulo pró-ucraniano, é difícil de acreditar na ideia de que algum vilão o organizou. Era uma tarefa muito difícil, da qual provavelmente apenas um serviço especial de Estado bem treinado era capaz, e não há muitos deles em nosso mundo”, disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, quando questionado sobre a reportagem do “New York Times”.
“Continuamos a exigir uma investigação rápida e transparente, continuamos a exigir que nos seja permitido participar desta investigação”, disse Peskov a repórteres em um briefing regular do Kremlin.
“É necessário identificar quem o executou e quem o ordenou. Cometer um ataque terrorista contra uma parte crítica da infraestrutura energética internacional é um precedente muito perigoso”, acrescentou.
Com informações da Reuters