Saque-aniversário beneficia trabalhadores na quitação de dívidas e financiamentos, dizem economistas
Ministro do Trabalho afirmou que governo deve propor ao Congresso um projeto de lei para promover “mudanças drásticas” nas regras da modalidade
Economistas consultados pela CNN criticam as declarações do ministro do Trabalho, Luiz Marinho, sobre o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Marinho afirmou, nesta terça-feira (7), que o governo deve propor ao Congresso um projeto de lei para promover “mudanças drásticas” nas regras do saque-aniversário do fundo.
Segundo especialistas, a modalidade do saque-aniversário beneficia os trabalhadores ao possibilitar uma renda extra que pode ser investida na quitação de dívidas e financiamentos.
“Pelo contrário. O dinheiro no FGTS parado prejudica o trabalhador. Ele poderia ser muito melhor investido pelo próprio trabalhador, mesmo que seja para quitar financiamentos, para fazer baixa de empréstimos que ele contraiu a juros altos”, disse Denis Medina economista e professor da Faculdade do Comércio (FAC-SP).
A fala do ministro ocorreu após um almoço na Frente Parlamentar para o Empreendedorismo (FPE). Marinho foi perguntado por jornalistas se o benefício do saque-aniversário do FGTS iria acabar, como vem dizendo desde que assumiu a pasta.
“Eu não posso afirmar isso, porque aí eu estaria substituindo o parlamento, é uma lei estabelecida, o que nós vamos oferecer ao parlamento é a possibilidade de mudanças drásticas em relação a isso, até a possibilidade de acabar, mas depende do Congresso”, disse o ministro.
Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, diz que por trás dessa discussão está o uso do “funding”, a captação de recursos do FGTS. “O governo pensa em evitar esses saques para ter fundos disponíveis para, por exemplo, o mercado de imobiliário de baixa renda”.
Contudo, o economista lembra sobre o rendimento do FGTS. “Dado o rendimento extremamente baixo do FGTS, é razoável pensar que faz mais sentido entregar para o trabalhador para ele decidir melhor o que fazer com esse recurso”, disse.
Em relatório, o Inter também aponta que o rendimento do FGTS ainda é considerado baixo ao ser comparado com a Selic. Além da remuneração fixa de 3% ao ano mais a variação da TR, o FGTS passou a contar com a distribuição de lucros a partir de 2017.
Ainda assim, a rentabilidade do fundo empata com a inflação e perde para a Selic no acumulado dos últimos 5 anos. No acumulado entre 2017 o FGTS teve rendimento de 38%, contra 50% da Selic no período.
“Considerando o cenário de inflação e Selic maior para os próximos anos, será ainda mais vantajoso para o trabalhador sacar os recursos e investir em outros instrumentos, como tesouro Selic, ou tesouro IPCA+, por exemplo”, pondera o relatório.
“Ao invés do trabalhador pagar juros, ele reduz o volume dos juros que ele paga aos bancos, uma vez que o juros é muito maior do que a remuneração do FGTS e usa esse dinheiro para diminuir o valor das prestações de sua casa própria”, diz Medina ao exemplificar como um trabalhador poderia utilizar o valor do saque.
Essa não é a primeira vez que Marinho faz críticas ao saque. Em janeiro, em entrevista à CNN, Marinho confirmou que a pasta avalia acabar com o saque-aniversário. Na ocasião, segundo ele, a modalidade foi criada pelo governo anterior para injetar dinheiro na economia e seria “um absurdo”.
Já em fevereiro, durante reunião na capital paulista com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o ministro caracterizou o saque-aniversário como um “engodo”.
As falas no entanto ocorrem em meio a divulgações de dados pela Caixa Econômica Federal que demonstram o crescimento da adesão por parte dos trabalhadores ao saque.
Em janeiro, o número de resgates bateu recorde para o mês. Foram realizados 2,2 milhões de saques na modalidade, totalizando o valor de R$ 1,11 bilhão. No ano passado, o mesmo mês registrou 1,7 milhão de resgates, que somaram R$ 1,10 bilhão. Em janeiro de 2021, os números foram de 1,4 milhão e R$ 1,07 bilhão.
Saque-aniversário
O saque-aniversário foi criado em dezembro de 2020, disponibilizando ao trabalhador a opção de receber anualmente, no mês do seu aniversário, parte do saldo disponível no fundo.
O saque-aniversário é opcional. Para o contribuinte que não fizer o saque, nada muda e segue podendo fazê-lo na modalidade saque rescisão e em outras situações previstas nas regras do FGTS.
Na opção saque-aniversário, no caso de o trabalhador ser demitido, ele pode sacar o valor referente à multa rescisória, mas não poderá sacar o saldo remanescente. O trabalhador também pode voltar à opção saque rescisão após 24 meses.