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    STF julga se provas colhidas com base na cor da pessoa podem ser consideradas inválidas

    Perfilamento racial ocorre quando as buscas pessoais não são feitas com base em critérios objetivos, mas sim na cor, descendência ou nacionalidade do alvo da abordagem

    Leandro Resende

    O Supremo Tribunal Federal discute na próxima quarta-feira (01) se provas colhidas pela polícia durante uma abordagem motivada pela cor da pessoa podem ser consideradas inválidas.

    O chamado “perfilamento racial” ocorre quando as buscas pessoais não são feitas com base em critérios objetivos, mas com base na cor, descendência ou nacionalidade do alvo da abordagem.

    O caso no qual o assunto será discutido é o de um homem negro condenado a quase oito anos de prisão por tráfico de drogas depois de ser flagrado com 1,53 grama de cocaína.

    Inicialmente, o tema do perfilamento racial não aparecia no caso – passou a aparecer após voto divergente do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Sebastião Reis Júnior.

    Após a leitura do processo, ele concluiu que a “fundada suspeita” dos policiais militares se deu apenas pelo fato de o homem preso ter a pele negra.

    Agora, o STF analisará um habeas corpus apresentado pela Defensoria Pública de São Paulo e relatado pelo ministro Edson Fachin – ele admitiu que diversas entidades como a Coalização Negra Por Direitos, a Educafro e o Instituto de Defesa do Direito de Defesa participem do julgamento.

    O defensor público Pedro Henrique Pedretti Lima, que atua no caso, explica que se o STF considerar inválidas as provas obtidas no caso que tiveram apenas a cor como motivação da abordagem, a decisão pode servir de “paradigma” em casos semelhantes.

    “O caso não tem força vinculante, mas seria a primeira vez que o STF acata a tese do perfilamento racial e é uma forma de colocar alguns limites à atuação policial”, afirmou.

    Na peça apresentada ao STF, o defensor lembrou que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos reconheceu, em 2018, a existência do perfilamento racial no Brasil.

    Segundo a Comissão, existem “processos sistêmicos de violência perpetrados por agentes do Estado, especialmente por aqueles vinculados às instituições policiais e sistemas de justiça baseados em padrões de perfilamento racial com um objetivo de criminalizar e punir a população afrodescendente”.

    Números

    Uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Segurança Pública e Cidadania (Cesec) mostrou, no ano passado, que 63% das abordagens policiais na cidade do Rio de Janeiro têm como alvo pessoas negras.

    De acordo com o levantamento, um quinto (17%) dessas pessoas já foi abordada pela polícia mais de 10 vezes.

    Ao olhar para o local das abordagens, os pesquisadores perceberam que as atividades comuns para pessoas brancas são vistas como suspeitas para pessoas negras.

    Os negros são 68% das pessoas abordadas andando a pé na rua ou na praia, enquanto apenas 25% dos brancos são parados pela polícia nas mesmas circunstâncias.

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