Ibovespa fecha em queda de quase 2% em dia de sessão reduzida; dólar sobe a R$ 5,17
Temor sobre juros permanece em patamares elevados por mais tempo no Brasil e nos Estados Unidos, e voltou a rondar com mais força nos últimos dias, aumentando a aversão a risco dos investidores
O Ibovespa fechou em queda de 1,85% nesta quarta-feira (22), aos 107.152,05 pontos, no primeiro dia útil após dois dias seguidos sem operação na B3 por conta do feriado de Carnaval, em sessão mais curta na volta do Carnaval, refletindo preocupações com os próximos movimentos de política monetária do banco central norte-americano.
Já o dólar fechou em leve alta de 0,15% nesta quarta, cotado a R$ 5,170, em um dia de sessão reduzida e baixa liquidez no Brasil. O avanço ocorreu em função dos ajustes de preços no mercado brasileiro ao movimento de alta da moeda norte-americana no exterior nos últimos dias, quando os negócios domésticos estiveram paralisados pelo Carnaval.
Nos Estados Unidos, a ata da última decisão de juros do Federal Reserve (Fed) mostrou que “quase todas” as autoridades do banco central norte-americano apoiaram reduzir o ritmo do aperto monetário, para 0,25 ponto percentual.
Mas também concordaram que os riscos de uma inflação elevada continuam sendo um “fator-chave” que molda a política monetária e justifica incrementos contínuos na taxa de referência até que as pressões de preços sejam controladas.
Na visão de Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, o documento mostrou a percepção dos membros do Fed de que a inflação está “um pouco mais teimosa” do que eles achavam que estaria, o que esfria expectativas de corte nos juros em 2023.
Ele afirmou que, no mercado, havia apostas de possíveis cortes do juro norte-americano, atualmente na faixa entre 4,5% e 4,75%, no segundo semestre, mas que a ata sugeriu ser bem provável que não tenha nenhuma redução até o final do ano.
Wall Street, que na véspera teve o pior desempenho em um ano, abandonou o sinal positivo que vinha registrando desde a abertura e o S&P 500 .SPX fechou em baixa de 0,16%.
Para Leonardo Santana, analista da casa de análise Top Gain, a ata corroborou a visão de que o Fed pode promover um aumento mais forte da taxa de juro, talvez 0,5 ponto nas próximas reuniões.
“O mercado está muito preocupado realmente…quanto o Fed vai ter que aumentar a taxa de juros para poder controlar a inflação”, afirmou, lembrando que na sexta-feira será divulgada a nova leitura do índice de preços (PCE) dos EUA, bastante monitorado pelo Fed.
As negociações tiveram o horário alterado devido à Quarta-feira de Cinzas, abrindo os negócios do dia às 13h. Mesmo com a B3 sem negociações no dia anterior, a queda de empresas brasileiras com ADRs nos Estados Unidos em Wall Street já ditava o mau humor do mercado. Seguindo o pessimismo global sobre juros, o Brazil Titans 20 caiu mais de 2%, enquanto o ETF EWZ recuou 1,67% na véspera.
Também em razão do feriado de Quarta-feira de Cinzas, o Boletim Focus foi publicado mais tarde que o habitual, às 14h. O mercado financeiro elevou a projeção de inflação para este ano e para 2024, indo a 5,89% e 4,02%, respectivamente.
Já os futuros americanos operam em leve queda, estendendo o tombo de 2% de ontem. O recuo mais forte sinaliza medo do mercado sobre os próximos passos do Fed. Depois da inflação ao consumidor e no atacado virem acima do esperado, voltou a pairar um pessimismo acerca de uma política monetária mais agressiva do banco central americano.
No radar dos investidores também está a viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à Índia. Eles se encontrarão com outros ministros das Finanças de países do G-20.
(Com informações de Thais Herédia, da CNN, e de Reuters)