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    Briga por cervejarias faz Liesa prometer mudança em camarotes do Carnaval do Rio

    Em carnaval de público recorde, venda de ingressos e camarotes se tornou maior fonte de renda para pagar desfiles na Sapucaí

    Pedro Duranda CNN , no Rio de Janeiro

    Com arrecadação de cerca de R$ 50 milhões para a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa), a venda de ingressos se tornou em 2023 a maior fonte de renda para custear as despesas do Carnaval da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Apesar disso, a Liga das Escolas de Samba não está contente com o formato atual dos camarotes e planeja uma mudança que deve valer já em 2023.

    O motivo é financeiro e ponto central, os patrocínios de cervejarias. Hoje os camarotes negociam por conta própria os patrocinadores de suas festas paralelas. Concorrentes disputam espaços nas colcheias da Sapucaí. Heineken, dona da Amstel e Ambev, dona da Brahma, rivais no mercado de cervejas, distribuem suas marcas por diferentes camarotes.

    Em entrevista exclusiva à CNN minutos antes das primeiras escolas entrarem na avenida no primeiro dia de desfiles, o presidente da Liesa, Jorge Perlingeiro, afirmou que as mudanças já passarão a valer no Carnaval do ano que vem.

    “Eu posso adiantar que nós estamos estudando e alguma mudança vai ter, não sabemos que tamanho é nem qual, mas alguma coisa vai ser feita para tentar ajustar um pouco melhor essa independência de cada um de vender seus patrocínios — e a Liga não age dessa forma porque não tem essa sociedade ou esse encontro junto com os ‘camaroteiros'”, afirmou ele.

    “Nós vamos tentar nem que seja um, ou a cerveja ou alguma coisa, que tenha que passar pela Liga para sair para todos depois. [Um patrocinador único?] Seria o ideal”, completou o mandatário do Carnaval carioca.

    A CNN ouviu donos de três dos maiores camarotes da Sapucaí. Embora estejam, todos, preocupados com o debate, eles não acreditam que estarão desalojados dos espaços ocupados há décadas na avenida.

    “Hoje os grandes camarotes já têm suas cervejarias contratadas, contratos exclusivos com cervejarias. E a própria liga não tem porque talvez os patrocinadores de cerveja prefiram ter toda a mordomia dos camarotes trazendo os seus diretores, os seus parceiros, seus convidados especiais para aqui fazer negócio. E a gente tá deixando de ter esse produto”, afirmou Perlingeiro.

    Márcio Esher, sócio do Camarote N1, entende que uma mudança precisaria passar por um debate mais amplo, incluindo a prefeitura e a Riotur, donas do sambódromo.

    “Eu acho muito difícil o lance de a Liesa falar que vai acabar com os camarotes. Eu acho que existe sim uma intenção da Liesa em profissionalizar cada vez mais o negócio Carnaval e com isso estabelecer algumas regras pra cada um dos camarotes aqui se adequarem ao que eles querem fazer buscando ter uma maior receita, um maior resultado ou uma maior qualidade e segurança no evento como um todo”, defende o empresário.

    Modelo Rock in Rio

    Um dos modelos estudados é o do Rock in Rio, em que os camarotes são dedicados aos patrocinadores da festa, que pagam um valor fechado aos organizadores e ganham o direito de erguer, manter e levar convidados para estruturas montadas na arena do evento.

    Há ainda uma discussão que passa pela TV Globo, transmissora do Carnaval e uma das maiores fontes de renda para a Liesa. Integrantes da Liesa revelaram à CNN que há uma preocupação com a exibição de marcas que não patrocinam o Carnaval da emissora ao longo do passeio das câmeras pela avenida.

     A ascensão dos camarotes

    Se antigamente os camarotes da Sapucaí tinham espaços de 600m², hoje há locais onde a área passa dos 1.500m². Somados os andares, a área pode superar 4.000m². No Carnaval de 2023 são mais de 100 camarotes, sendo que cerca de 30 deles são os chamados mega-camarotes, com abadás, open bar, comida à vontade, shows de grandes artistas e brindes para os convidados, além, claro, de patrocinadores próprios.

    Neste ano, o Carnaval na Sapucaí deve bater um recorde de público. Serão cerca de 100 mil pessoas por noite, nos desfiles do grupo de acesso (a série Ouro) e também do grupo Especial. Em alguns dias há expectativa de que o público chegue a 120 mil pessoas. Ou seja, nos cálculos da Liesa, público de mais de meio milhão de pessoas incluindo foliões, trabalhadores e convidados.

    Os ingressos dos camarotes já estão quase todos esgotados. No último lote, os ingressos do Nosso Camarote, um dos mais procurados pelo público, chegaram a custar R$ 7,5 mil. São mais de 3 mil pessoas por dia com direito a shows de Luisa Sonza, Anitta, Ludmilla e Pedro Sampaio.

    “Além dos shows, que a gente tem atrações de muito peso aqui dentro, a gente tem serviço de open food, open bar, com chef assinando apra opções veganas, opções vegetarianas, tudo isso para atender qualquer tipo de cliente”, afirma o sócio do Nosso Camarote, Santiago Vieira.

    Pegada inclusiva, responsável e sustentável

    Um dos impactos da expansão dos camarotes é a invasão do som dos shows durante os desfiles, algo que tem preocupado a Liesa. Para evitar isso, o camarote Rio Praia, que tem a estrutura toda montada bem no meio da avenida, instalou uma parede gigante de acrílico e mudou a posição dos shows.

    “A gente sempre se preocupou muito no camarote Rio Praia com a acústica do camarote, só que esse ano a gente redobrou essa preocupação. Esse ano a gente colocou isolamento acústico aqui perto da avenida na varanda e a gente mudou a posição do palco. Antigamente o palco ficava virado para avenida e agora fica virado para a lateral porque o som ele vai para dentro do camarote”, conta o RP do camarote, Alan Victor.

    A sócia do camarote Folia Tropical, Agnes Nilsson, conta que o camarote é fonte de recursos para bancar três projetos sociais tocados pela família dela. O camarote é um dos poucos que respeita todas as regras de acessibilidade e eles também buscam para o staff pessoas pretas, LGBTQIAP+ e idosos.

    “Eu acho que é um espetáculo que vem quase que 90% da comunidade, queremos inserir essas pessoas de certa forma dentro de um evento como esse”, explica ela.

    No camarote do grupo SOMA, o maior conglomerado de vestuário do Brasil, decidiu transformar o espaço de 1.075m² em carbono neutro. Dono de marcas como Farm, Animale e Hering, o grupo terá 1.300 convidados por noite. Nas duas primeiras, estarão presentes apenas colaboradores.

    Os paetês espalhados pelo teto e pelas paredes foram delicadamente colados pela Spectaculu, escola sem fins lucrativos, de arte e tecnologia, para jovens de escolas públicas das periferias do Rio. As escadas têm uma luminária feita pelo projeto Pirilampos do Planeta, de educação ambiental que faz esculturas com resíduos reaproveitados.

    Eles também destinaram tecidos reaproveitados para escolas de samba. Em 2022, o Salgueiro, recebeu aproximadamente 7 toneladas de rolos de tecidos e a Escola Mirim, 8 toneladas.

    Os funcionários também foram estimulados doar alimentos para a CUFA (Central Única das Favelas). O ingresso para os dias de festa reservado exclusivamente para eles reverteu-se em 1 kg de alimento não perecível. Eles acreditam que vão recolher 3 toneladas de alimentos ao longo do funcionamento do camarote.

    “Queremos celebrar a riqueza e beleza do Carnaval, expressão artística e cultural que tanto nos inspira. O Carnaval dita moda e comportamento. É um prazer enorme poder levar nossa gente e nossa alegria para a Sapucaí”, conta Kátia Barros, sócia-fundadora do grupo Soma.

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