Inflação reduz ritmo em janeiro, mas tendência é que volte a acelerar, dizem analistas
Indicador oficial da inflação do país registrou avançou 0,53% no mês passado, informou o IBGE
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país, registrou alta de 0,53% no mês de janeiro, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (9).
O dado representa uma redução do ritmo de alta, tendo em vista que, no mês anterior, o IPCA avançou 0,62%. Ainda que indique uma certa desaceleração, a expectativa é que a inflação volte a acelerar, pelo menos pelos próximos dois meses, disseram especialistas à CNN.
“É um resultado até mais positivo do que o esperado, com melhora nos núcleos e na difusão, além de um aumento menor em relação a dezembro”, afirmou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Mas temos uma questão falha: a desoneração dos combustíveis. Se os tributos voltarem a incidir mesmo, é provável que a inflação de março ilustre um repique.”
Quando tomou posse, em 1.º de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou uma medida provisória que prorrogava a desoneração dos tributos federais PIS e Cofins sobre gasolina e álcool por dois meses, e sobre diesel, biodiesel e gás natural por um ano.
Com a data de vencimento da MP batendo à porta, Alexandre Padilha (PT), chefe da pasta de Relações Institucionais, disse que não há discussões para prorrogar a isenção.
A volta dos tributos “tem potencial para deixar as taxas de inflação muito altas entre fevereiro e março”, diz Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec, no Rio de Janeiro.
“Isso deve fazer com que a inflação fique acima de 1%, provavelmente em março.”
Além disso, os próximos dois meses serão pontos de pressão inflacionária também por causa do período de volta às aulas.
“A variação das mensalidades escolares vão começar a aparecer em fevereiro, e é um serviço importante. O Banco Central terá muito trabalho esse ano com o setor de serviços, exatamente por essa inércia inflacionária que esse grupo tem”, afirma André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
“Você vê a mensalidade escolar indexada na inflação, o aluguel e o condomínio indexados nos serviços. É um grupo que responde por 30% do IPCA e vai desacelerar de forma muito mais lenta ao longo desse ano, e é isso que vai ser, de fato, uma das expressões destaques do IPCA em 2023.”
Diante disso, o Bank of America revisou para cima a projeção de inflação de todo o ano de 2023, de 4,8% para 6%.
“O reajuste dos custos com educação e o aumento do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) superaram nossas expectativas iniciais. Também contribuíram para a revisão o fim das isenções de impostos federais sobre gasolina e etanol, previsto para o final de fevereiro, e o aumento do preço da gasolina anunciado pela Petrobras”, disse o banco em comunicado.
“Esses aumentos devem elevar a inflação plena, embora ainda esperemos que as medidas subjacentes diminuam ao longo do ano. A tendência de desaceleração do núcleo da inflação continua, reforçando nossa percepção de espaço para cortes de juros a partir de agosto.”
Inflação em janeiro
O resultado do IPCA de janeiro, de forma geral, não surpreendeu.
Na análise de André Braz, o resultado é reflexo de eventos sazonais de cada setor. O grupo de alimentação e bebidas, por exemplo, que registrou o maior impacto positivo no índice, a 0,59%, é puxado pelo volume de chuvas nas regiões produtoras, “uma variação climática própria do verão”.
“E ainda houve arrefecimento de alguns grupos. Vestuário trouxe o primeiro número negativo depois de quase dois anos de taxas positivas, e isso tem a ver com a liquidação. Daqui a pouco o verão vai embora e a liquidação da moda verão vai começar de novo, então a sazonalidade entra no dado.”
O grupo — única queda do IPCA de janeiro — registrou recuo de 0,27%.