Aliados de Lula pedem economista sem ideias heterodoxas no BC
Lideranças estão alertando ao Palácio do Planalto que um nome visto como antimercado só vai azedar clima com investidores e terá dificuldades de tramitação no Senado
Líderes da base aliada no Congresso Nacional defendem a indicação de um economista sem ideias heterodoxas à diretoria de política monetária do Banco Central e a antecipação da proposta de novo arcabouço fiscal como estratégia para reverter o mal-estar entre governo e mercado financeiro.
Essas lideranças estão alertando ao Palácio do Planalto que um nome visto como antimercado só vai azedar o clima com investidores e terá dificuldades de tramitação no Senado.
A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), responsável pela sabatina e primeira análise das indicações ao BC, será presidida pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO) — que é declaradamente bolsonarista.
Cardoso definirá, nessa condição, o ritmo da análise. Diante do histórico de indicações ao BC, uma rejeição do nome escolhido pelo governo é tida como altamente improvável.
No entanto, se o nome desagradar o mercado, interlocutores do senador avaliam que ele poderá travar o processo e adiar a data de sua sabatina — impondo um desgaste de semanas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O atual diretor de política monetária do BC, Bruno Serra, está perto de encerrar o mandato e o governo indicará um substituto no fim de fevereiro. A escalada de críticas feitas por Lula faz integrantes do PT cogitarem um nome mais heterodoxo, pouco alinhado ao mercado, para o cargo. É isso o que líderes de partidos da coalizão governista têm sugerido ao Planalto não fazer.
Nesta quarta-feira (8), a CNN mostrou que integrantes do PT defendem que o indicado seja de um perfil semelhante ao do economista André Lara Resende — ou até mesmo o próprio.
Lara Resende foi um dos formuladores do Plano Real e depois ocupou postos estratégicos no governo Fernando Henrique Cardoso, como assessor especial e presidente do BNDES. Nos últimos anos, porém, deu uma guinada no pensamento econômico e se aproximou da esquerda.
Outra recomendação é antecipar as discussões sobre o novo arcabouço fiscal. O governo tem sinalizado que levará ao Congresso, antes, sua proposta de reforma tributária.
Para um aliado de Lula no Senado, a ordem deveria ser invertida. A regra que substituirá o teto de gastos tem condições de balizar as expectativas do mercado e de mostrar mais claramente aos próprios parlamentares até onde uma reforma do sistema de tributos pode avançar, afirma esse senador.
De acordo com fontes da equipe econômica, o Ministério da Fazenda corre para concluir até o fim de fevereiro uma proposta interna de nova âncora fiscal. A partir da virada do mês, essa proposta começaria a circular dentro do governo para receber contribuições de outras pastas, como o Planejamento.