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    Conselho da Americanas decide afastar diretores e executivos

    De acordo com fato relevante, companhia diz que afastamento não representa antecipação de juízo e deve durar todo o período de apurações sobre as inconsistências contábeis

    Ana Carolina Nunesda CNN , em São Paulo

    A Americanas divulgou fato relevante nesta sexta-feira (3) comunicando que, após deliberação do conselho administrativo da empresa, decidiu pelo afastamento de três diretores e três executivos durante o curso das apurações sobre as inconsistências contábeis, da ordem de R$ 20 bilhões, que acarretaram em um pedido de recuperação judicial pela empresa e a declaração de R$ 42 bilhões em dívidas.

    Os diretores estatutários Anna Christina, José Timotheo e Márcio Cruz foram afastados. Assim como os executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva  Nunes também estão afastados de todas suas funções e atividades na Companhia durante o curso das apurações sobre as inconsistências contábeis comunicadas em 11 de janeiro, informa o documento.

    O fato relevante diz ainda que o afastamento não representa qualquer antecipação de juízo.

    A CNN procurou a Americanas para um posicionamento e aguarda resposta.

    A companhia destaca ainda que “várias medidas foram implementadas com o objetivo de garantir a integridade da preservação de informações e documentos da Companhia, tudo com o objetivo de contribuir plenamente com as apurações em curso e autoridades envolvidas”, e elenca a contratação do IBPTECH Ibptech, instituto de perícias forenses e da FTI Consulting  para a preservação de dados, mediante cópia forense (byte a byte, com geração de código hash com registro
    em ata notarial por tabelionato de notas).

    A empresa também cita implementação de medidas internas adicionais para proteção de dados e informações, com a contratação, para esta finalidade, da ICTS Security; a contratação da empresa Alvarez & Marsal para atuar no processo de recuperação judicial em andamento e a contratação da consultoria da Deloitte para assessoria contábil.

    Empréstimo

    Na último terça-feira (31), a Americanas informou ao mercado que estar pedindo à Justiça o direito de tomar um crédito extra de R$ 1 bilhão. Se for concedido, os acionistas de referência – Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira – também avaliam aportar um valor semelhante.

    Conhecido como DIP, esse tipo de empréstimo é concedido por firmas especializadas em empresas em recuperação judicial. Com autorização da Justiça, esse dinheiro é utilizado para a empresa continuar funcionando e tem preferência de receber em relação aos demais credores quando a companhia voltar a pagar suas dívidas.

    Recuperação judicial

    A empresa enfrenta uma crise desde que, em 11 de janeiro, comunicou ao mercado inconsistências contábeis em torno de R$ 20 bilhões, levando a varejista entrar com um pedido de recuperação judicial dias depois, que foi aceito pela Justiça.

    companhia divulgou dívidas de R$ 42 bilhões e 7.720 credores oficiais, conforme solicitado pela Justiça do Rio de Janeiro. O processo se tornou o 4ª maior de recuperação judicial do Brasil.

    Mais da metade da dívida da empresa é com os maiores bancos brasileiros. São mais de R$ 22 bilhões divididos entre apenas nove bancos. Deutsche Bank responde pela maior exposição à varejista, de US$ 1 bilhão de dólares (R$ 5,2 bilhões).

    Além dos bancos, tem até empresas de tecnologia, como Facebook, Twitter e LinkedIn. No documento divulgado também constam dívidas com transportadoras, companhias aéreas, empresas de serviços menores e milhares de pessoas físicas. Entre os credores a receber, consta, inclusive, a brasileira Ambev, que pertence aos mesmos acionistas-referência da Americanas: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.

    Fraldas, xampu, chocolate e balas de goma no formato de dentadura que custam alguns reais somam uma dívida milionária com todos os grandes fornecedores da empresa. Entre as grandes marcas, uma das dívidas que mais chama atenção é com a sul-coreana Samsung, que tem a receber R$ 1,209 bilhão da Americanas.

    A dívida tributária, de acordo com a  procuradora-geral da Fazenda Nacional, Anelize Almeida, é de R$ 657 milhões.

    A varejista fez também um pedido de reconhecimento de processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, conhecido como “Chapter 15”, que funciona com efeitos de proteção (notadamente a suspensão de pagamentos a credores) assegurados em seu processo de recuperação judicial no Brasil.

    A varejista contratou a Alvarez & Marsal para ajudar a coordenar o processo de recuperação judicial.

    Na terça-feira, cerca de 50 empregados terceirizados da Americanas foram demitidos. As demissões aconteceram no Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP) e em Porto Alegre (RS).

    A empresa também entrou com um pedido na Justiça para obter a manutenção dos serviços de luz, água e esgoto no processo que trata de sua recuperação judicial.

    Na sexta-feira (27), as centrais sindicais entraram com um processo na Justiça para resguardar os direitos trabalhistas dos cerca de 44 mil funcionários da Americanas. Para isso, a ação pede que a Justiça amplie as responsabilidades sobre a crise na varejista para os principais sócios e solicita o bloqueio de R$ 1,53 bilhão do patrimônio de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles para eventual pagamento em ações trabalhistas.

    Na quinta-feira (26), a Justiça de São Paulo autorizou a busca e apreensão de e-mails dos diretores e integrantes dos conselhos de administração e auditoria da Americanas dos últimos dez anos. A decisão é uma resposta a um pedido feito pelo Bradesco.

    A B3, a bolsa brasileira, excluiu os títulos da Americanas (AMER3) de todos os seus índices desde a segunda-feira (23). Em seu último pregão listada no Ibovespa, as ações da companhia fecharam o dia valendo R$ 0,71. No pregão anterior ao fato relevante de 11 de janeiro, a cotação era de R$ 12.

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