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    Comunicado com alerta sobre inflação aponta que Copom deve manter Selic em patamar elevado, dizem economistas

    Especialistas consideram que o BC está incorporando expectativas piores para a economia brasileira em seu modelo de avaliação e fazem alerta para autoridades e mercado

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business em São Paulo

    O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) decidiu nesta quarta-feira (1°) por manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano.

    A reunião desta quarta é a primeira durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e se dá em meio a um ambiente de expectativa de manutenção da pressão inflacionária  e de incertezas sobre a política econômica, conforme aponta o próprio comunicado do Copom.

    Na avaliação de especialistas, o BC foi duro no comunicado ao alertar para os riscos de desancoragem da inflação e incertezas com relação ao arcabouço fiscal. No cenário atual, a avaliação é de que os juros devem se manter mais elevados por mais tempo.

    “O comitê reiterou a palavra “vigilante” em relação ao aumento da percepção de risco no cenário internacional, com inflação ainda acelerando lá fora, guerras, e cadeia de oferta fragilizada, enquanto que no âmbito doméstico o perigo fiscal segue pressionando a tomada de decisão de todos na economia, consumidores, empresários, investidores. Se a expansão fiscal realmente vier no volume previsto, a pressão inflacionária vai ser, sem dúvidas, uma demanda contratada”, disse Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil.

    Esta é a quarta vez seguida que o Comitê decide pela estabilidade da taxa, após uma sequência de 12 altas, iniciada em março de 2021, quando a Selic estava em 2% ao ano. O atual patamar é o mais alto desde novembro de 2016, quando a taxa básica estava em 14% ao ano.

    O boletim Focus, coletado pelo BC para captar as expectativas do mercado, mostra que a mediana das expectativas para a inflação deste ano passou de 5,08% logo após a reunião do Copom de dezembro para 5,74% nesta semana – quase 1 ponto acima do teto da meta para o período.

    Para 2024, atual foco da atuação da autoridade monetária, a projeção foi de 3,50% para 3,90%. O efeito também é sentido em 2025, com expectativa subindo de 3,02% em dezembro para 3,50% agora, e em 2026, passando de 3% para 3,5%. Até as projeções para 2027, que começaram a ser colhidas este mês, também já aumentaram, de 3,25% para 3,50%.

    As metas para a inflação perseguidas pelo BC são de 3,25% em 2023 e de 3,00% em 2024 e 2025, com margem de tolerância de 1 ponto percentual. A meta de 2026 deve se fixada neste ano pelo governo.

    Para Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital, a revisão da inflação para o próximo ano foi uma forte mensagem e mostra que o Banco Central está incorporando expectativas piores para a economia brasileira em seu modelo de avaliação e estão alertando as autoridades e o mercado.

    O especialista avalia que ainda existe uma chance de a taxa de juros iniciar uma queda no fim de 2023. No entanto, o governo deve buscar novamente seguir a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

    A expectativa de uma possível redução ainda neste ano se torna cada vez menos unânime entre os economistas.

    “A autoridade afirmou que manterá o juro por período “mais prolongado do que no cenário de referência”. No Boletim Focus os cortes se iniciam na reunião de setembro, ou seja, o BC aponta para a necessidade de manutenção da Selic em 13,75% por mais tempo, aproximando-se mais da nossa projeção de que o ciclo de cortes se iniciará apenas a partir da terceira reunião de 2024”, afirma Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

    A projeção da Ativa é de que o Copom deverá deixar a Selic encerrar 2023 em 13,75%, com inicio dos cortes apenas no segundo trimestre de 2024, ao ritmo de 0,50 ponto percentual.

    Idean Alves lembra ainda que outros fatores e debates se somam aos riscos com relação ao arcabouço fiscal e corroboram para um cenário mais difícil para o BC, podendo fazer, inclusive, com que o “preço” chegue aos consumidores.

    “A autonomia do Banco Central questionada, o fim do incentivo do PIS/Cofins sobre os combustíveis, o aumento da energia elétrica, e o novo reajuste do salário mínimo que deve passar a valer a partir de de 1º de maio de 2023, somados aos benefícios sociais, junto a necessária elevação da carga tributária para o aumento dos gastos públicos, devem, sem dúvida, respingar em cascata para as empresas, as quais terão que repassar via “preço” para os consumidores”, disse.

    Na avaliação de Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, a austeridade da mensagem frustrou a expectativa, “haja visto a incerteza fiscal e as discussões em curso”. Para Moorsel, o comunicado do Copom será, provavelmente, “interpretado como dovish pelos mercados no pregão de quinta-feira.”

    A última vez que o Banco Central mexeu na Selic foi na reunião de 3 de agosto, quando aumentou de 13,25% para os atuais 13,75%.

    Na primeira decisão de manutenção da taxa, em 21 de setembro, o comunicado do Copom apontava que, apesar da manutenção, não estava descartada nova alta caso “o processo de desinflação não transcorra como esperado.”

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