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    Mais de 131 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe não têm acesso a dieta saudável, alerta ONU

    ONU destaca que a falta de acessibilidade a uma dieta saudável observada em toda a região está associada a diferentes indicadores socioeconômicos e nutricionais

    Lucas Rochada CNN , em São Paulo

    Mais de 131 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe não têm condições de comprar alimentos saudáveis, de acordo com um novo relatório das Nações Unidas (ONU). O documento aponta que 22,5% dessa população não tem acesso a uma dieta saudável. Enquanto na América do Sul esse número atinge 18,4%, no Caribe chega a 52%.

    Os dados referentes ao ano de 2020 representam um aumento de 8 milhões em comparação com o ano anterior. A análise aponta os índices ao custo médio diário mais alto de dietas saudáveis na América Latina e no Caribe em comparação com o resto das regiões do mundo, que chega a um valor de cerca de R$ 18 na América do Sul e de R$ 21 no Caribe.

    A ONU destaca que a falta de acessibilidade a uma dieta saudável observada em toda a região está associada a diferentes indicadores socioeconômicos e nutricionais. O relatório apresenta uma evidente relação entre a incapacidade de arcar com uma dieta saudável e variáveis como o nível de renda de um país, a incidência da pobreza e o nível de desigualdade.

    O relatório também revela que o aumento dos preços internacionais dos alimentos experimentado desde 2020, exacerbado após o início do conflito na Ucrânia, e um aumento regional da inflação dos alimentos acima do nível geral, aumentaram as dificuldades para o acesso das pessoas a uma dieta saudável.

    O documento também inclui recomendações baseadas em evidências e uma análise das políticas já implementadas para melhorar a disponibilidade e a acessibilidade dos alimentos nutritivos, principalmente a fim de apoiar às pessoas mais vulnerabilizadas e famílias de baixa renda, que gastam uma proporção mais significativa de seu orçamento em alimentos.

    “Não existe uma política individual que possa resolver este problema de forma independente. Os mecanismos de coordenação nacional e regional precisam ser reforçados para responder à fome e à desnutrição”, disse Mario Lubetkin, diretor assistente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, em inglês) e representante regional para a América Latina e o Caribe.

    Para contribuir para a acessibilidade de dietas saudáveis, é necessário criar incentivos para a diversificação da produção de alimentos nutritivos destinados principalmente à agricultura familiar e aos pequenos produtores, tomar medidas para a transparência dos preços desses alimentos nos mercados e no comércio, e ações como transferências de dinheiro e melhoria dos cardápios escolares

    Mario Lubetkin, diretor assistente da FAO

    As políticas comerciais e de mercado podem desempenhar um papel fundamental na melhoria da segurança alimentar e nutricional. Uma maior transparência e eficiência melhoram o comércio agroalimentar inter-regional, substituindo a incerteza pela previsibilidade e estabilidade do mercado.

    “Estamos falando da região do mundo com a dieta saudável mais cara, que afeta particularmente as populações vulnerabilizadas – pequenos agricultores, mulheres rurais e populações indígenas e afrodescendentes – que alocam uma porcentagem maior de sua renda para a compra de alimentos”, disse a diretora regional do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (IFAD) Rossana Polastri.

    Ela defende que, para reverter esta situação, é necessário promover soluções inovadoras com o objetivo de diversificar a produção e aumentar a oferta de alimentos saudáveis.

    O relatório também descreve como alguns programas de proteção social sensíveis à nutrição têm funcionado para apoiar as dietas da população mais vulnerável, particularmente em períodos de crise.

    “A insegurança alimentar continuará a aumentar devido à crise de preços dos alimentos e combustíveis causada pelo conflito na Ucrânia e pelas consequências da COVID-19″, disse Lola Castro, Diretora Regional do Programa Mundial de Alimentos (PMA) da ONU. “Devemos agir agora, mas como podemos fazer isso? Apoiando os governos para expandir as redes de proteção social porque a pandemia mais uma vez demonstrou que a proteção social é útil para melhorar a acessibilidade de uma dieta saudável, evitando que crises como esta atinjam ainda mais as populações afetadas”.

    Outras políticas alimentares, tais como rotulagem nutricional, subsídios a alimentos nutritivos e tributação para alimentos não saudáveis ou não nutritivos que não contribuem para dietas saudáveis. Os especialistas apontam que as ações podem melhorar a acessibilidade econômica de dietas saudáveis, prevenir condições debilitantes e doenças relacionadas ao excesso de peso e à obesidade.

    Devemos redobrar os esforços para combater a má nutrição em todas as suas formas, promovendo políticas públicas para criar ambientes alimentares saudáveis, eliminar as gorduras trans produzidas industrialmente, implementar rótulos de advertência frontal, regular a publicidade de alimentos insalubres, estabelecer impostos a bebidas açucaradas, apoiar a alimentação saudável e a atividade física nas escolas

    Carissa F. Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde

    Para Carissa, é preciso entender os fatores que determinam as más práticas alimentares com o objetivo de encontrar soluções para o acesso a alimentos saudáveis. Por exemplo, países com níveis mais altos de pobreza e desigualdade tendem a ter dificuldades mais significativas de acesso a uma dieta saudável, que está diretamente associada a uma maior prevalência da fome, desnutrição crônica em meninos e meninas, e anemia em mulheres de 15 a 49 anos.

    “Para que as crianças cresçam saudáveis, não é apenas urgente apenas garantir a disponibilidade de alimentos nutritivos, mas também é necessário desenvolver políticas públicas que garantam uma nutrição adequada, além de aconselhamento nutricional, focado em ações para as populações mais vulnerabilizadas”, disse Garry Conelly, diretor regional do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para a América Latina e Caribe.

    Panorama preocupante

    O relatório da ONU aponta desafios no panorama socioeconômico da América Latina e do Caribe. O número de pessoas com fome na região segue aumentando. Os grupos populacionais mais afetados são as crianças menores de cinco anos e as mulheres, que sofrem uma maior prevalência de insegurança alimentar do que os homens.

    Entre 2019 e 2021, a cifra da fome na região aumentou em 13,2 milhões, atingindo 56,5 milhões de pessoas em 2021. O maior aumento foi na América do Sul, aingindo mais 11 milhões de pessoas. Entre 2019 e 2021, a fome atingiu uma prevalência de 7,9% na América do Sul, 8,4% na Mesoamérica, e 16,4% no Caribe.

    Em 2021, 40,6% da população regional passou por uma insegurança alimentar moderada ou grave, em comparação com 29,3% no mundo inteiro. A insegurança alimentar severa também era mais frequente na região (14,2%) do que no mundo (11,7%).

    Outros números apresentados no relatório indicam que a região registra uma evolução importante e positiva em relação à prevalência da desnutrição crônica em crianças menores de cinco anos de idade. Em 2020, este número era de 11,3% na América Latina e no Caribe, aproximadamente dez pontos percentuais abaixo da média mundial. Entretanto, 3,9 milhões de crianças de até cinco anos de idade estão acima do peso.

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