Petroleiras são acusadas de “sequestrar o debate sobre clima” em fóruns globais
Empresas do setor ampliam presença nas discussões sobre meio ambiente em COPs e no Fórum Econômico Mundial
Militantes do clima estão aumentando os seus protestos e críticas contra a maior participação de empresas de petróleo nas principais discussões sobre mudanças climáticas no mundo.
Os ativistas acusam as gigantes do petróleo de tentar “sequestrar o debate sobre o clima” em eventos como as COPs (as cúpulas mundiais do clima que são organizadas pela ONU) e o Fórum Econômico Mundial, cuja edição deste ano começa nesta segunda-feira (16).
Reagindo a isso, os militantes passaram a organizar protestos mais frequentes.
No domingo (15) e nesta segunda-feira (16) houve protestos seguidos em Davos, na Suíça, onde tradicionalmente acontece a reunião anual do Fórum Econômico Mundial.
No maior deles, um grupo de ativistas conseguiu bloquear um aeroporto de jatinhos usado pelos participantes que chegavam ao fórum na manhã de segunda-feira.
Os ativistas acusam os “ricos participantes do fórum” de financiar negócios que afetam o clima e pedem que eles sejam responsabilizados pelos danos climáticos e ecológicos.
“Exigimos uma ação climática concreta e real”, disse Nicolas Siegrist, o organizador do protesto de domingo. Segundo Siegrist, as empresas petroleiras “estarão na mesma sala com os líderes mundiais e defenderão seus interesses”.
CEO de petroleira vai presidir a COP28
Na semana passada, o governo dos Emirados Árabes Unidos anunciou que o sultão Ahmed Al Jaber, CEO da Abu Dhabi Oil Company, uma das maiores petroleiras do mundo, vai ser o presidente da COP28, que acontece em Dubai no fim deste ano.
A sua nomeação enfurece ainda mais os ativistas e entidades ligadas ao meio ambiente.
Eles viram a escolha de Jaber como a prova mais definitiva de que as petroleiras tentam influenciar de maneira cada vez mais fortes os debates sobre o clima.
A própria candidatura dos Emirados Árabes para organizar a cúpula do clima já havia causado controvérsias, já que o país é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.
Autoridades mundiais e os ativistas defendem uma forte redução no uso de combustíveis fósseis no mundo todo, já que o petróleo é o maior responsável pela emissão de gases do efeito estufa, que causam o aquecimento global.
A indústria de petróleo e gás, no entanto, diz que precisa fazer parte das discussões sobre a transição para uma energia mais limpa, pois os combustíveis fósseis continuarão a desempenhar um papel importante na matriz energética mundial.
Assessores de Al-Jaber disseram que ele teve “papel proativo” em mais de uma dezena de COPs e tem experiência em negociações globais.
A sua nomeação, no entanto, levanta sérias dúvidas sobre um quase inevitável conflito de interesses entre sua atuação profissional e as decisões que terá que tomar na cúpula do clima.