De último colocado a candidato ao título: o extraordinário ressurgimento do Manchester United
Confira cinco motivos que ajudaram o time inglês a reconquistar a autoridade que obtinha na Inglaterra
Durante anos, o Manchester United dominou o futebol inglês, conquistando 13 títulos da Premier League entre 1992 e 2013, assim como os melhores jogadores do mundo e legiões de torcedores.
Mas, desde a aposentadoria do lendário técnico Alex Ferguson, em 2013, os torcedores do United viram seu reino desmoronar, enquanto outro foi construído do outro lado da cidade, no Manchester City.
No entanto, uma vitória por 2 a 1 sobre o City no sábado (14) colocou, de repente, o Manchester United de volta na disputa pelo título da Premier League e parece finalmente confirmar o ressurgimento dos torcedores do United.
Agora, a equipe soma 12 vitórias nos últimos 13 jogos, em todas as competições, e nove vitórias consecutivas após um péssimo início de temporada, em que chegou a ficar na parte de baixo da tabela e foi goleado pelo City (6 a 3) em outubro.
O que levou ao ressurgimento do Manchester United, um dos maiores clubes do mundo?
- Erik ten Hag
Desde que Ferguson se aposentou em maio de 2013, o United teve seis técnicos e dois interinos, cada um com desempenho abaixo do esperado em um clube acostumado a ganhar troféus.
Só José Mourinho durou mais de dois anos.
Depois de um início desastroso no comando, Erik ten Hag parecia estar se conformando com o esquema, mas reconquistou a autoridade do United dentro e fora do campo.
Fora de campo, Ten Hag impôs a disciplina: Marcus Rashford foi afastado no mês passado por motivos disciplinares, assim como Alejandro Garnacho depois de ter perdido os primeiros encontros da equipe durante a pré-temporada.
“Em um clube importante como este, tem que ser”, disse o defensor Luke Shaw, de acordo com a ESPN, depois que Rashford foi dispensado por Ten Hag.
O craque Cristiano Ronaldo deixou o clube depois de ter se recusado a ser reserva em um jogo.
“Acho que as pessoas não podem fazer o que quiserem e talvez isso tenha sido parte do problema no passado, com as pessoas se safando com pequenas bobagens”, opinou Shaw.
“O treinador leva tudo isso em consideração. Se você não mantém a barra alta, você não joga”.
- Marcus Rashford
Contra o City no sábado, foi Rashford quem marcou o gol da vitória, acertando um cruzamento de Garnacho para a rede.
Com esse gol, Rashford se tornou o primeiro jogador do Manchester United a marcar em sete jogos consecutivos desde Ronaldo em abril de 2008, e sua forma brilhante de jogar é um ponto importante do sucesso do United nesta temporada.
“Ele já aprendeu, sabe que no futebol de elite você tem que sofrer, tem que se sacrificar, tem seus momentos dolorosos, especialmente um jogador como ele, que é imparável”, disse Ten Hag depois da partida, segundo a Reuters.
É um grande contraste com o ano passado, quando o jogador de 25 anos marcou apenas quatro gols em 25 jogos na Premier League, perdeu seu lugar na seleção da Inglaterra e parecia que sua promissora carreira estava desmoronando.
Sob o comando de Ten Hag, Rashford parece ter recuperado alguma confiança e tem adotado uma abordagem mais direcionada ao seu jogo, marcando mais gols de perto – 78% de seus chutes vieram de dentro da área nesta temporada, em comparação com apenas 59% em 2019-2020, de acordo com a Sky Sports.
- Contratações do verão
Casemiro transformou o meio-campo do United desde que chegou ao clube em agosto em uma transferência de £ 60 milhões (R$ 365 milhões) do Real Madrid.
Assistindo à humilhante derrota do United por 4 a 0 para o Brentford pouco antes de assinar, Casemiro enviou uma mensagem de texto para seu agente, dizendo: “Diga a eles que vou consertar isso”, informou o Daily Telegraph da Inglaterra.
Sem o pentacampeão da Liga dos Campeões, a defesa do United sofreu nesta temporada 1,5 gol e 11,5 finalizações por jogo quando está fora, em comparação com 0,6 gol e 8,4 finalizações quando joga, de acordo com o Telegraph.
Mas Casemiro fez muito mais pelo United do que simplesmente preencher as lacunas defensivas, trazendo uma distribuição de primeira classe e aquela indescritível “mentalidade vencedora”.
“É muito importante”, disse Ten Hag, segundo a BBC. “Ele é o cimento entre as pedras. Sua defesa, sua organização, ele sabe sua posição, antecipa e aponta para os jogadores a posição correta, ganha bolas no meio-campo”.
O recente campeão mundial Lisandro Martínez também contribuiu para o renascimento do United desde que ingressou no verão, formando uma dupla impressionante com Raphael Varane no zaga para reforçar a então frágil defesa do clube.
- Mudança de tática
Sob o comando de Ten Hag, as táticas do United têm sido mais ágeis e às vezes não convencionais, como mover o lateral-esquerdo Luke Shaw para o centro da defesa.
Inicialmente, essa mudança foi forçada por lesões e compromissos internacionais, mas Shaw permaneceu nessa posição desconhecida.
Na semana passada, sua velocidade foi usada para conter o Wolverhampton Wolves na direita e seu pé esquerdo para “obter melhores ângulos em campo”, disse Ten Hag ao site oficial do United.
Também contra o City, Shaw jogou como zagueiro, defendendo o artilheiro Erling Haaland e vencendo duelos aéreos no final do jogo.
A versatilidade de Shaw dá ao United outra opção na defesa, quase como contratar outro zagueiro na janela de transferências, como brincou Bruno Fernandes no Instagram após o clássico de Manchester.
- Cristiano Ronaldo
Nem mesmo o estatuto de Ronaldo como emblema do Manchester United o isentou da reestruturação da equipe por Ten Hag.
As atuações de Ronaldo em campo foram decepcionantes nesta temporada: em 10 jogos da Premier League, ele marcou apenas um gol.
Em últina instância e para sua frustração, Ronaldo ficou no banco e Ten Hang optou por alinhar Rashford ou Anthony Martial no seu lugar, jogadres que oferem mais perigo e se adaptam melhor ao estilo holadês de pressão mais em cima.
Tudo culminou em novembro, quando Ronaldo disse que se sentia “traído” pelo United e não tinha respeito por Ten Hag, em uma polêmica entrevista com Piers Morgan na TalkTV, e posteriormente deixou o clube com efeito imediato.
A saga de Ronaldo consolidou a autoridade do Ten Hag em vez de enfraquecê-la, oferecendo um sinal tangível de que nenhum jogador é maior que o time.
Assim, os primeiros frutos da recuperação do United parecem estar surgindo, mas isso já aconteceu antes no período de declínio que se seguiu à idade de ouro do clube. A questão agora é se o trabalho de Ten Hag dará mais frutos do que seus predecessores.