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    Anderson Torres chega ao Brasil e é preso pela Polícia Federal

    Torres estava nos Estados Unidos; ele foi exonerado da secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal durante os ataques aos Três Poderes da República

    Da CNN

    O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal (DF) Anderson Torres chegou ao Brasil na manhã deste sábado (14), após viagem aos Estados Unidos, e foi preso pela Polícia Federal.

    Ele foi levado ao 4º Batalhão da Polícia Militar (PM), no Guará, uma região administrativa da capital federal.

    Ex-ministro Anderson Torres foi levado ao 4º Batalhão da Polícia Militar (PM), no Guará, uma região administrativa da capital federal.
    Ex-ministro Anderson Torres foi levado ao 4º Batalhão da Polícia Militar (PM), no Guará, uma região administrativa da capital federal. / CNN

    O mandado de prisão preventiva contra Torres foi decretado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

    Em nota, a PF informou que Torres “foi preso ao desembarcar no Aeroporto de Brasília e encaminhado para a custódia, onde permanecerá à disposição da Justiça”. “As investigações seguem em sigilo”, completou.

    O avião pousou por volta de 7h20 no Aeroporto Internacional de Brasília. De acordo com apuração da analista da CNN Basília Rodrigues, Torres foi o primeiro a descer do avião e foi recebido por um delegado da Polícia Federal (PF).

    Fontes relataram que a prisão foi rápida, tranquila e discreta.

    Avião com Anderson Torres pousa em Brasília
    Avião com Anderson Torres pousa em Brasília / CNN

    Ele foi levado diretamente do avião para o hangar da PF.

    Em seguida, carros da Polícia Federal acompanhado de carros descaracterizados partiram em direção à Superintendência da Polícia Federal do DF e, depois, ao Complexo Penitenciário da Papuda.

    De acordo com Basília Rodrigues, agentes da PF que cumpriram a ordem de prisão relataram que, ao mesmo tempo, outros carros da PF levaram o ex-ministro para o Batalhão da PM no Guará.

    A estratégia foi utilizada para dispersar a imprensa e garantir maior discrição à prisão de Torres, segundo a analista.

    A expectativa é que Torres preste depoimento ainda neste sábado (14), mas antes se reúne com sua equipe de advogados.

    CNN tenta contato com a defesa de Anderson Torres.

    Anderson Torres / Valter Campanato/Agência Brasil

    A defesa do ex-ministro é feita por um pool de advogados contratados por ele liderados por Rodrigo Roca, que já advogou para o ex-governador do Rio Sergio Cabral e para o senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ).

    Roca também assessorou Torres na Justiça. Além dele, o ex-senador Demóstenes Torres também integra o time.

    O ex-ministro da Justiça será investigado devido aos ataques às sedes do Congresso, do STF e ao Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, pois era secretário de Segurança do Distrito Federal — cargo ao qual foi exonerado no mesmo dia –, responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios na data.

    Torres é acusado de ser conivente e omisso na situação, não preparando um esquema capaz de proteger os Poderes contra os ataques, mesmo com a informação de que eles poderiam ocorrer.

    “As omissões do Secretário de Segurança Pública e do Comandante Geral da Polícia Militar, detalhadamente narradas na representação da autoridade policial, verificadas, notadamente no que diz respeito à falta da devida preparação para os atos criminosos e terroristas anunciados, revelam a necessidade de garantia da ordem pública”, afirma Moraes na decisão que determinou a prisão de Torres.

    O ministro do STF também ressalta a entrada de 100 ônibus fretados em Brasília “sem qualquer acompanhamento policial, mesmo sendo fato notório que praticariam atos violentos e antidemocráticos”.

    Ainda no domingo (8), a Advocacia-Geral da União (AGU) pediu ao STF a prisão do ex-secretário, conforme revelou o analista de Política da CNN Caio Junqueira.

    Próximos passos

    Segundo apuração da CNN junto a fontes da PF, Anderson Torres deve seguir para uma delegacia da corporação no aeroporto. Lá, pode ser ouvido ou se manter calado.

    Anderson Torres, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro / Vinícius de Melo/VGDF

    Em seguida, o ex-ministro deve passar por avaliação médica — exame de corpo de delito, como manda a lei antes do encaminhamento à prisão.

    O procedimento deve ser realizado no Instituto de Medicina Legal (IML) da Polícia Civil ou em dependências da própria Polícia Federal.

    Então, Torres seguirá para a carceragem. Não está confirmado para qual prédio da PF ele será encaminhado após o exame.

    A PF conta com dois prédios em Brasília: o da Superintendência, no Setor de Polícia, e a Sede administrativa, perto do Setor Hoteleiro Norte, na região central da cidade.

    Por ser delegado federal e ter ocupado os cargos de ministro da Justiça e Secretário de Segurança Pública, não ficará no mesmo local onde estão os presos comuns. O objetivo é proteger sua integridade.

    “Sabotagem”

    Em entrevista à CNN na terça-feira (10), o interventor federal na segurança pública do DF, Ricardo Cappelli, acusou o ex-secretário de sabotar a segurança da capital federal nos atos criminosos. Ele teria alterado todo o comando da secretaria e viajado para fora do Brasil.

    “Houve uma operação estruturada de sabotagem comandada pelo ex-ministro bolsonarista Anderson Torres. Ele montou a sabotagem e fugiu do Brasil”, disse Cappelli.

    O interventor explicou que agora serão apuradas as responsabilidades. “Há farto material para identificar não só a conduta dos manifestantes, mas também a conduta daqueles que, como agentes da lei, não cumpriram o seu papel”, afirmou.

    Anderson Torres / Alan Santos/PR

    Minuta para alterar eleições

    Na quinta-feira (12), foi divulgado que a Polícia Federal (PF) encontrou na casa de Anderson Torres uma minuta (proposta) para um decreto para que o Bolsonaro instaurasse “estado de defesa”, visando alterar o resultado das eleições presidenciais.

    Especialistas ouvidos pela CNN classificaram como “gravíssimo” o episódio, que demanda mais apurações.

    Ainda assim, de acordo com o especialista em Direito Eleitoral, Arthur Rollo, o ex-ministro pode ter infringido o Código Penal por tentativa de “abolir o Estado Democrático de Direito”.

    O que diz Torres

    No início de segunda-feira (9), logo após ter sido exonerado do cargo de secretário, Anderson Torres publicou um pronunciamento pelo Twitter dizendo que foi “surpreendido pelas lamentáveis cenas” em Brasília durante seu “segundo dia de férias”.

    “Lamento profundamente que sejam levantadas hipóteses absurdas de qualquer tipo de conivência minha com as barbáries que assistimos. Estou certo de que esse execrável episódio será totalmente esclarecido, e seus responsáveis exemplarmente punidos”, escreve o comunicado.

    Em entrevista exclusiva à CNN, um dos advogados que o representa afirmou ele não foi omisso e não tem “a mínima parcela de culpa” nos ataques em Brasília.

    Já sobre o documento encontrado em sua casa após diligências da Polícia Federal, o ex-ministro ressaltou que havia na casa dele “uma pilha de documentos para descarte, onde muito provavelmente o material descrito na reportagem foi encontrado”.

    “Tudo seria levado para ser triturado oportunamente no MJSP. O citado documento foi apanhado quando eu não estava lá e vazado fora de contexto, ajudando a alimentar narrativas falaciosas contra mim”, destaca.

    O ministro da Justiça, Anderson Torres, ao lado do presidente Jair Bolsonaro
    À época, Anderson Torres, como ministro da Justiça, ao lado do então presidente Jair Bolsonaro / Foto: Carolina Antunes/PR (1º.mar.2019)

    Minutos antes da postagem de Torres, à CNN, o advogado pontuou que o documento não é de autoria de Torres.

    “Não é da autoria dele o documento. Eram diárias as abordagens feitas por populares ao ministro da Justiça e a mim mesmo como secretario nacional do Consumidor pedindo que levasse ao presidente algum tipo de sugestão”, disse.

    “Eram escritos, às vezes manuscritos, às vezes digitados, mas era muito comum isso, principalmente no Ministério da Justiça”, continua o advogado.

    O representante disse ainda à CNN ser “testemunha de que ele se desfazia disso, mas por cortesia e educação, não jogava fora na hora. A maior prova que ele não levava ao presidente é que foi encontrado na casa dele”.

    “O que posso afirmar é que ele nunca levou ao [ex-]presidente”, observou.

    *com informações de Gabriela Coelho, Marina Demori e Leonardo Ribbeiro da CNN

    *publicado por Tiago Tortella, da CNN

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