Coronavírus pode se espalhar pelo corpo, revela estudo a partir de autópsias
Pesquisa indica que o coronavírus pode causar infecção sistêmica e persistir no corpo por meses em alguns pacientes
A Covid-19 pode causar impactos ao organismo que vão além de alterações no sistema respiratório, com sintomas prolongados que podem durar semanas ou meses. A chamada Covid longa está associada a alterações neurológicas, de comportamento, insônia, dores musculares e nas articulações.
A carga de infecção pelo coronavírus fora do trato respiratório e o tempo de eliminação viral ainda não são totalmente esclarecidos pela comunidade científica. Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos realizou achados relevantes sobre a capacidade de disseminação do vírus no organismo humano.
De acordo com o estudo, o coronavírus pode se espalhar para diversos tecidos do corpo humano, para além do sistema respiratório, incluindo o cérebro. Os resultados foram publicados no periódico Nature em dezembro.
Os pesquisadores fizeram autópsias em 44 pacientes vítimas de Covid-19. Eles analisaram uma ampla amostragem do sistema nervoso central em 11 desses pacientes, para mapear e quantificar a distribuição, replicação e especificidade do tipo celular de SARS-CoV-2 em o corpo humano, incluindo o cérebro, desde a infecção aguda até mais de sete meses após o início dos sintomas.
A partir da análise, eles descobriram que o vírus é capaz de se distribuir de maneira ampla pelo organismo, principalmente entre aqueles pacientes que morreram com quadros graves da doença. Além disso, a replicação do vírus está presente em vários tecidos respiratórios e não respiratórios, incluindo o cérebro, no início da infecção.
O RNA, que é o material genético do vírus, persistiu em diversos locais do corpo, incluindo em todo o cérebro, até 230 dias após o início dos sintomas em um dos casos estudados. Os pesquisadores afirmam que, apesar da extensa distribuição RNA viral, foram observadas poucas evidências de inflamação ou modificações celulares causadas pelo vírus fora do trato respiratório.
Os dados indicam que, em alguns pacientes, o coronavírus pode causar infecção sistêmica e persistir no corpo por meses.
Pesquisas anteriores propuseram que a detecção do vírus em tecidos não respiratórios pode ser devido a sangue residual ou contaminação cruzada dos pulmões durante a coleta de tecidos. No entanto, os pesquisadores do estudo recente afirmam que os dados encontrados indicam o contrário.
Especificamente, apenas 12 dos casos avaliados tinham RNA detectável em uma amostra de plasma após a morte, sendo que apenas dois casos tinham RNA subgenômico SARS-CoV-2 detectado no plasma.
“Nossos resultados mostram que, embora a maior carga de SARS-CoV-2 esteja nos tecidos respiratórios, o vírus pode se disseminar por todo o corpo. Nossos dados apoiam uma fase virêmica precoce, que dispersa o vírus por todo o corpo após a infecção do trato respiratório”, diz trecho do artigo.