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    Falta de órgãos controladores e diferenças entre países inviabilizam moeda comum no Mercosul, dizem especialistas

    Haddad e embaixador da Argentina discutiram criação de uma moeda unificada para negócios entre membros do bloco comercial

    Diego Mendesdo CNN Brasil Business , São Paulo

    A criação de uma moeda comum para o Mercosul é um projeto ainda longe de se concretizar, segundo especialistas ouvidos pela CNN. As diferentes políticas monetárias dos países e a falta de órgãos controladores inviabilizam a realização deste projeto.

    Na última terça-feira (3), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniu com o embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, para discutir sobre a criação de uma moeda única para o bloco.

    Em entrevista, Scioli disse que não significa que cada país abrirá mão de sua moeda para adotar a mesma entre todos. Segundo ele, a ideia seria uma unidade para integração e aumento do intercâmbio comercial entre os países que formam bloco regional. “Como disse o presidente Lula, fortalecer o Mercosul, ampliar a união latino-americana, é muito importante”, disse Scioli.

    Mas, o professor de Economia Internacional do Insper, Roberto Dumas, disse que não dá para se ter duas moedas. “Se quiser ter uma moeda única dentro do Mercosul, precisa saber se ela vai valer nos países ou só para transações comerciais do bloco. Caso contrário, isso nunca vai acontecer”.

    De acordo com o jurista Ives Gandra, é muito difícil essa intenção sair do papel na situação em que os países da região estão. “Se compararmos com a Zona do Euro, as discussões para a criação da moeda única começaram lá na década de 50. Em seguida foram implantadas as zonas franca, de livre comércio, aduaneira e mercado comum. A partir daí, com um parlamento forte, foi criado uma comissão capaz de dirigir os trabalhos, além de um conselho e um tribunal europeu”.

    Segundo Gandra, o tribunal do Mercosul tem uma importância muito pequena nesse cenário e não chega ao nível de uma “união” — como a europeia. “Para gerir essa política econômica unificada seria preciso a criação de um Banco Central do Mercosul e ao, mesmo tempo, um tribunal de contas, o que não existe por aqui”.

    Dumas reforça que ter uma moeda comum para todos os países de um bloco é muito difícil. “A Europa começou a implantar o euro na economia doméstica em 1973, mesmo sem conseguir colocar todo o arcabouço em pé naquela época”.

    Diferentes cenários econômicos

    Aqui no Mercosul, Gandra diz que os países tem muitas diferenças. “Se levarmos em conta as tarifas aduaneiras, o Brasil tem uma dificuldade enorme de ter um controle orçamentário por meio de um sistema tributário. Hoje o país tem três – IPI, ICMS e ISS – enquanto a Argentina tem apenas um, que é o imposto sobre valor agregado. Isso já torna a moeda única inviável”, afirma.

    Ele diz que o Mercosul está longe de ser uma União Europeia, que gere uma moeda única, além de não ter os órgãos de controle. “Imagina uma moeda comum com o Brasil, com uma inflação de 5,9% ao ano, e com a Argentina, que está com a inflação em 100% no mesmo período. Não há viabilidade”, pontua.

    Assim como Gandra, Dumas aponta também que, para se ter uma moeda unificada, é preciso ter uma única política monetária para todos os países e um Banco Central do Mercosul. “Não se sabe qual taxa de juros esse BC Mercosul pode adotar. Além disso, a Argentina está com uma inflação a 100% ao ano e os outros países estão com o índice bem abaixo”.

    Agora, Dumas diz que se existir um plano para montar uma moeda única em um prazo de 20 ou 30 anos. “Aí sim dá tempo para preparar. Porém, em um prazo de 4 anos, como o que foi dito pelo embaixador argentino, não há chance de acontecer.”

    “Os países do Mercosul estão vivendo ciclos econômicos completamente diferentes. Além disso, não há discussão para a implantação de uma só política econômica e um só Banco Central. Se não for assim, não há uma moeda comum”, avalia o economista.

    Para o professor, nem o euro conseguiu substituir o dólar, então não será uma moeda única na América do Sul que vai ter alguma preponderância no cenário econômico mundial. “Para isso se concretizar, é preciso mudar toda a política monetária de todos os países e entrar em um ciclo econômico semelhante”, conclui.

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