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    Trump, Putin, juros altos: cenários que devem agitar os EUA neste ano

    Proximidade com a eleição presidencial já está esquentando os bastidores políticos nos Estados Unidos

    Stephen Collinsonda CNN

    A tomada da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos pelo Partido Republicano nesta semana inaugura um período político de dois anos que ameaça trazer confrontos para o governo.

    Ao mesmo tempo, um presidente da Câmara republicano e um presidente democrata tentam exercer o poder nas extremidades opostas da Pennsylvania Avenue, a sede do poder em Washington.

    A possibilidade inédita de que o ex-presidente Donald Trump, que já se lançou candidato à Casa Branca novamente, possa enfrentar os tribunais pode dividir o país ainda mais num momento em que a democracia norte-americana sofre grave pressão.

    Agitada desde já, a campanha presidencial de 2024 vai anuviar ainda mais o cenário, já que os dois partidos sentem que a Casa Branca e o controle do Capitólio estão em disputa após eleições de meio de mandato muito apertadas.

    No exterior, a guerra na Ucrânia vive a possibilidade constante e alarmante de virar um conflito entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a Rússia. O cenário testará a vontade dos contribuintes norte-americanos de continuar enviando bilhões de dólares para sustentar os sonhos de liberdade de outros povos.

    Enquanto lidera o Ocidente nessa crise, o presidente Joe Biden enfrenta também desafios cada vez mais fortes da China e dos alarmantes avanços nos programas nucleares do Irã e da Coreia do Norte.

    Se 2022 foi um ano tumultuado e perigoso, 2023 pode ser tão complicado quanto.

    Mudança de poder de Washington

    Washington está se preparando para um forte choque. Desde novembro, só se fala da grande onda vermelha (ou seja, republicana), que não se consolidou. Mas a realidade de um governo dividido finalmente começará nessa semana.

    A maioria republicana da Câmara, na qual os conservadores radicais têm agora uma influência desproporcional, assumirá mais de metade do Capitólio.

    Os republicanos vão iniciar investigações, promover obstruções e farão possíveis pedidos de impeachment contra a Casa Branca. A ideia é sufocar a presidência de Biden e arruinar as suas esperanças de reeleição.

    Ironicamente, os eleitores que rejeitaram a política circense ao estilo Trump e o negacionismo eleitoral terão de engolir ainda mais desse cardápio. É que a maioria apertada do GOP (sigla que representa o Partido Republicano) significa que aliados do ex-presidente, como o deputado Jim Jordan, de Ohio (apontado como possível chefe da Comissão de Justiça da Câmara) e a deputada Marjorie Taylor Greene, da Geórgia, terão influência significativa na casa.

    A nova Câmara republicana representa uma volta ao poder do trumpismo num canto poderoso de Washington. Se Kevin McCarthy, o líder do GOP na casa, vencer sua luta desesperada contra os radicais do seu partido para garantir a presidência do congresso, ele estará em constante risco de andar na prancha depois de fazer várias concessões para a extrema-direita.

    Um presidente da Câmara fraco e uma facção totalmente pró-Trump no GOP ameaçam produzir uma série de confrontos com a Casa Branca no tópico gastos. Um dos pontos mais perigosos é a necessidade de elevar a capacidade de empréstimos do governo até meados do ano, o que pode levar o país à inadimplência se não for feito.

    Com os democratas em minoria e uma nova geração de líderes, é mais provável que aconteçam impasses no governo –e não um bipartidarismo produtivo. O GOP está prometendo investigar os laços comerciais do filho do presidente, Hunter Biden, e a crise na fronteira com o México.

    Mas os republicanos podem ser derrotados se os eleitores acharem que eles estão passando dos limites –um fator que Biden pode aproveitar ao concorrer à reeleição.

    No Senado, os democratas ainda estão comemorando a expansão de sua pequena maioria nas eleições de meio de mandato (depois de dois anos divididos em 50-50, o senado agora está com 51 a 49 a favor do Partido Democrata).

    Sem perder tempo para mostrar como essa força é importante, o presidente viaja para o Kentucky essa semana. Ele participará de um evento com a presença também de republicanos, incluindo o líder da minoria republicana no senado, Mitch McConnell, para promover o pacote de infraestrutura foi aprovado com apoio bipartidário em 2021.

    O potencial terremoto de um indiciamento de Trump

    O procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, pode enfrentar em breve uma das decisões mais difíceis na política moderna: indiciar ou não Trump por sua tentativa de roubar a eleição de 2020 e por seu acúmulo ilegal de documentos sigilosos.

    Uma acusação criminal de um ex-presidente e atual candidato à presidência pelo governo que o sucedeu sujeitaria as instituições políticas e judiciais a uma tensão mais extrema até do que aquela provocada por Trump.

    O ex-presidente já alegou que sofre de perseguição –e uma declaração antecipada da sua campanha de 2024 deu-lhe a oportunidade de enquadrar tudo como politização.

    Se Trump for indiciado, o tumulto pode ser tão corrosivo que é justo perguntar se tal ação seria realmente de interesse nacional –imaginando que o advogado especial indicado para o caso, Jack Smith, monte um processo com uma chance razoável de sucesso no tribunal.

    No entanto, se Trump realmente infringiu a lei (e tendo em conta a força das provas de insurreição apresentadas nas denúncias criminais da Comissão Parlamentar de 6 de Janeiro), o caso cria um dilema ainda mais profundo: não processá-lo iria abrir um precedente que coloca ex-presidentes acima da lei.

    “Se um presidente pode incitar uma insurreição e não ser responsabilizado, então não há limite para o que um presidente pode ou não fazer”, afirmou Adam Kinzinger, ex-deputado republicano por Illinois e membro da comissão parlamentar.

    “Se ele não é culpado de um crime, então, sinceramente, temo pelo futuro do país, porque agora todo futuro presidente pode dizer que o limite é fazer tudo o que puder para ficar no poder”, continuou.

    Já é 2024

    Goste-se ou não, com o seu anúncio em novembro, Trump lançou os Estados Unidos na próxima campanha presidencial. Mas dúvidas incomuns obscurecem seu futuro depois de sete anos dominando o Partido Republicano.

    O lançamento de campanha murcho, somado à derrota eleitoral de 2020 e ao desempenho ruim em 2022 dos candidatos escolhidos a dedo por ele (todos negacionistas do resultado das eleições), mancharam a aura de Trump.

    Potenciais figuras alternativas para sua política populista e nacionalista, como o governador da Flórida Ron DeSantis, podem testar a ligação de Trump com sua base conservadora de leais adoradores. Mesmo que consiga se afastar dos tribunais, Trump deve mostrar urgentemente que ainda é o homem forte do GOP, já que cada vez mais republicanos o consideram um ônus.

    Biden está perto de dar ao povo um novo fato histórico: uma campanha de reeleição de um presidente com mais de 80 anos. O seu sucesso ao evitar a vitória total dos republicanos nas eleições de meio de mandato tem causado ansiedade entre os democratas em relação à reeleição.

    E a carta mais forte na manga de Biden é que ele já derrotou Trump uma vez. Ainda assim, ele não seria capaz de jogá-la se Trump sair de cena e outro candidato potencial do GOP emergir. Aos 44 anos, DeSantis, por exemplo, tem pouco mais da metade da idade atual do presidente (80).

    Com 2023 começando, um replay do duelo entre Trump e Biden na Casa Branca –algo que as pesquisas mostram que os eleitores não querem– é a melhor aposta. Mas a política em mudança, os acontecimentos importantes nos próximos meses e os caprichos do destino significam que não há garantia de que o cenário será o mesmo no final do ano.

    O mundo está ficando mais perigoso

    A invasão russa da Ucrânia no ano passado mostrou como os eventos globais do exterior podem redefinir uma presidência. A liderança de Biden do Ocidente contra a agressão não provocada da Rússia será uma peça central impressionante do seu legado.

    Mas o presidente russo, Vladimir Putin, mostra todos os sinais de que vai lutar durante anos.

    A Ucrânia, por sua vez, diz que não vai parar até que todas as suas forças se esgotem. Assim, a capacidade de Biden de impedir que a guerra se transforme num desastroso confronto entre a Rússia e a Otan será constantemente testada.

    Ninguém sabe por quanto tempo os eleitores dos EUA e da Europa irão suportar os preços elevados da energia e enviar milhares de milhões de dólares dos contribuintes para armar a Ucrânia se as economias ocidentais mergulharem na recessão em 2023.

    Biden tem sua cabeça ocupada também em outro lugar. Uma alarmante possibilidade de choque entre um jato chinês e um jato militar dos EUA sobre o Mar da China Meridional durante as festas de fim de ano indica como as tensões na região, especialmente sobre Taiwan, poderiam desencadear outro impasse.

    Biden também enfrenta crises nucleares crescentes com o Irã e a Coreia do Norte. Somados à tensão nuclear da Rússia, são fatos que sugerem o início de uma nova era perigosa de conflito e risco globais.

    A economia à beira do abismo

    Poucas vezes foi tão difícil avaliar o cenário econômico. Em 2022, a maior inflação dos últimos 40 anos e a bolsa em queda coincidiram com taxas de desemprego historicamente baixas, o que criou uma estranha sensação simultânea de ansiedade e bem-estar econômico.

    A questão chave para 2023 será se a alta de juros, o remédio pesado do Federal Reserve que, projetado para reduzir o custo de vida, pode trazer um pouso suave sem desencadear na recessão que muitos analistas acreditam estar a caminho.

    Os confrontos entre os gastos do governo e as possíveis paralisações também podem representar novas ameaças ao crescimento.

    A economia estará fora do poder de controle de qualquer líder político, mas seu estado no final do ano desempenhará um papel vital em uma eleição que definirá os Estados Unidos, nacional e globalmente, após 2024.

    Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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