Eleição, alta de juros: relembre como foi 2022 para Ibovespa e dólar
Bolsa chegou a bater os 120 mil pontos e o dólar passou dois meses abaixo de R$ 5, mas piora internacional e insegurança política azedaram os mercados na segunda metade do ano
Em um ano marcado por uma guerra, uma eleição e por juros passando dos 13%, tanto a bolsa de valores quanto o dólar repetiram, em 2022, a volatilidade em que estão presos desde 2020, quando a pandemia desembarcou no mundo e nos mercados.
Isso significa que ambos ficaram transitando entre altos e baixos um tanto distantes entre si, e que em quase nenhum momento romperam nem o teto e nem o piso entre os quais vêm oscilando há quase três anos.
O Ibovespa, por exemplo, em poucos momentos desde meados de 2020 ultrapassou os 120 mil pontos ou caiu muito abaixo dos 100 mil. Em 2022, sua pontuação máxima foi de 121.570, marcados em 1 de abril, e a mínima, de 14 de julho, 96.121 – a menor desde novembro de 2020.
O dólar, por sua vez, transitou dos R$ 5,70 em que começou o ano, nos primeiros dias de janeiro, até os R$ 4,59 a que desceu em 4 de abril, ensaiando uma temporada de quase três meses abaixo dos R$ 5, faixa que praticamente não cruzava desde o começo da pandemia. Logo, porém, cruzaria de volta para cima disso.
Em abril, bons dados sobre a economia norte-americana animavam as bolsas mundo afora e os preços de commodities pressionados pela guerra na Ucrânia injetavam otimismo nos mercados de exportadores como o Brasil.
Já em julho, quando a bolsa atingiu o fosso e o dólar já voltava para os R$ 5,40, um quadro de inflação recorde e juros subindo nos Estados Unidos deixavam mais claro o que o ano teria a trazer para a economia global.
No Brasil, a aprovação da PEC das Bondades, em junho, que despejou benefícios na economia, com verba extra e fora do teto de gastos, a poucos meses das eleições, foi mais um revés para a regra que controla o rumo das despesas públicas e ajudou a azedar o mercado doméstico.
Em 2022, o Ibovespa encerrou o ano acumulando alta de 4,68%, aos 109.734,6 pontos. O dólar caiu 5,3% em 2022 e encerrou o ano cotado a R$ 5,27.
Juros acima de 13%
“A bolsa tinha tudo para ir bem, o crescimento econômico foi forte, mas os juros jogaram água no chopp”, diz o sócio da Nord Research, Bruce Barbosa. “Depois das eleições, com a política de Lula mostrando a que veio, piorou ainda mais.”
Em trajetória ininterrupta de alta desde março de 2021, quando saiu dos 2%, a taxa Selic foi aumentada pelo Banco Central até chegar aos 13,75%, em agosto.
É o maior nível dos juros desde 2016 e um convite a tirar o dinheiro de uma bolsa de valores vacilante para deixar numa generosa e segura renda fixa – que, naturalmente, viu as aplicações crescerem.
Após o término das eleições presidenciais, em 30 de outubro, e a confirmação de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente, a bolsa chegou a comemorar a conclusão sem grandes sobressaltos de um pleito que foi turbulento, e quase chegou de volta aos 120 mil pontos. O dólar também flertou com o piso dos R$ 5 novamente.
Mas durou pouco. Uma sucessão de más notícias da equipe de transição para o mercado financeiro, que incluíram críticas à austeridade fiscal, uma PEC fura-teto bilionária e tentativas de mudar a Lei das Estatais reverteram, mais uma vez, o ensaio de melhora dos mercados.
Em menos de dois meses entre as eleições, em outubro, e o início de dezembro, o Ibovespa perdeu o equivalente a R$ 577 bilhões em valor de mercado, mostrou um levantamento da plataforma de investimentos TradeMap. Só a Petrobras caiu quase 10% em um único dia, e viu evaporarem R$ 30 bilhões do seu valor de mercado.