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    Alerta sobre questão fiscal chama a atenção em decisão do Copom, avaliam economistas

    Analistas não descartam novo ciclo de alta dos juros, a depender dos resultados da PEC do Estouro e da indefinição sobre equipe econômica e política fiscal

    Última reunião em que a taxa foi alterada, em 3 de agosto, houve alta de 0,5 ponto percentual.
    Última reunião em que a taxa foi alterada, em 3 de agosto, houve alta de 0,5 ponto percentual. GettyImages

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business em São Paulo

    O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) optou, nesta quarta-feira (7), pela manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano pela terceira vez seguida.

    A decisão já era esperada em consenso pelo mercado. Contudo, especialistas avaliam que o alerta feito pela instituição sobre as incertezas com relação ao cenário fiscal do país é o destaque da reunião desta quarta-feira.

    “O Comitê acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação, com potenciais impactos sobre a dinâmica da inflação prospectiva”, diz o comunicado do Copom.

    Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, chama a atenção para o trecho do comunicado e explica a preocupação com relação ao aumento de gastos através das propostas como a PEC do Estouro e suas consequências para as decisões do BC.

    “Uma trajetória explosiva das contas públicas certamente afetará as expectativas, o que faria o Banco Central prolongar o atual patamar de juro ou até retomar o ciclo de altas”, analisa Sanchez.

    Já a analista da XP, Tatiana Nogueira, destaca as projeções para a taxa de juros nos próximos anos.

    “O BC deve manter a taxa por um período prolongado para garantir a convergência da inflação à meta. Quando olhamos para suas projeções, no modelo de referência, vemos uma alta tanto para o ano de 2023 quanto para o ano de 2024, que são anos relevantes no horizonte de política monetária. Ainda é uma alta bastante marginal, mas reforça a mensagem de que o comitê precisa se manter vigilante nos próximos meses”.

    O atual patamar da Selic é o mais alto desde novembro de 2016, quando a taxa básica estava em 14% ao ano.

    Essa é a terceira vez seguida que o Comitê mantém a taxa inalterada, após uma sequência de 12 altas, iniciada em março de 2021, quando a Selic estava em 2% ao ano. A última reunião em que a taxa foi alterada, em 3 de agosto, houve alta de 0,5 ponto percentual.

    Outro ponto levantado por especialistas ouvidos pela CNN é sobre um possível “alívio” com relação à política fiscal, que poderia “tranquilizar” o BC. Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual, explica que isso não virá apenas do montante de gastos para o ano que vem, mas também a partir de uma maior clareza sobre o arcabouço fiscal, ainda indefinido.

    “Vale lembrar que um alívio fiscal não vem apenas do tamanho do gasto no ano que vem. Ele vem, sobretudo, de qual será o novo arcabouço fiscal que ainda vai continuar indefinido até o meio de 2023, dado a proposta apresentada na PEC. E também não temos com muita clareza se a politica de crédito subsidiado deve retornar ou não. E, se retornar, a que nível vai retornar. São muitos pontos de risco”, disse.

    O Inter, em seu comunicado após a reunião do Copom, relata também o cenário externo como mais um fator, aliado às incertezas internas, que pode dificultar a convergência da inflação para a meta.

    “A avaliação dos riscos para a inflação permanece a mesma, com o desaquecimento da economia global e impacto baixista nos preços das commodities por um lado, e as potenciais mudanças na política fiscal por outro, podendo retardar a convergência da inflação para a meta”, avalia Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter.

    Expectativas

    Sobre as perspectivas para as próximas reuniões do Copom, Tatiana Nogueira, da XP, afirma que, em seu entendimento, é cedo para afirmar que mudanças devem ocorrer em um curto prazo.

    “Entendemos que ainda é muito cedo para o Copom fazer qualquer mudança de condução de politica monetária. Acreditamos que ele vai continuar nessa posição de ‘esperar para ver’. Ver sinais mais claros do que vai vir no arcabouço fiscal daqui para frente”.

    Com o mesmo entendimento, Rafaela Vitória, do Inter, diz que a “ausência de uma proposta de novo arcabouço fiscal deixa mais incerteza no cenário e pode desancorar as expectativas de inflação no médio e longo prazo, como já observado na precificação dos títulos de juros no mercado”.

    Os especialistas acreditam na manutenção do atual patamar de 13,75%, pelo menos, durante todo o primeiro semestre de 2023. Contudo, existe o alerta para um novo ciclo de alta de juros, a depender do montante de gastos extrateto que for aprovado pelo Congresso na PEC do Estouro.

    “Seguimos com o cenário de taxa Selic. Caso a PEC da Transição seja aprovada com licença em torno de R$ 100 bilhões, esperamos que a taxa Selic siga em 13,75% até agosto de 2023, quando deve iniciar o ciclo de cortes, fechando 2023 em 11,50%. Caso a PEC da Transição seja aprovada com uma licença mais próxima de R$ 200 bilhões, acreditamos que ou Copom retomará o ciclo de alta no 2° trimestre de 2023 ou de postergar o início do ciclo de cortes para o 4T23 ou 1T24”, avalia Nicolas Borsoi – Economista-Chefe da Nova Futura.