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    Mulheres processam Apple após terem sido perseguidas por ex–namorados com AirTag

    Produto, criado originalmente para rastrear objetos pessoais, está sendo usado também para rastrear pessoas sem consentimento prévio

    Sofia Kercherdo CNN Brasil Business* , em São Paulo

    A Apple está sendo processada por duas mulheres americanas que dizem que dispositivos AirTag — usado para geolocalização  — facilitam o rastreamento e ação de perseguidores contra vítimas.

    O produto, criado originalmente pela Apple para rastrear objetos pessoais, como mochilas, chaves, carteiras e até carros, pode estar sendo usado para rastrear pessoas sem consentimento prévio — o chamado stalking (perseguição).

    Segundo a ação coletiva apresentada na segunda-feira (5) no Tribunal Federal de São Francisco, o ex-namorado de uma das vítimas prendeu um AirTag à cavidade da roda de um pneu de seu carro. O dispositivo foi supostamente pintado e amarrado em um saco plástico para disfarçá-lo.

    Outra mulher alegou que seu ex-marido rastreou seus movimentos colocando um AirTag na mochila de seu filho. Embora ela tenha tentado desativá-lo, outro apareceu em seu lugar.

    O rastreamento levou até mesmo a um assassinato, segundo processo judicial. Uma mulher foi baleada pelo ex-namorado após ser perseguida por meio do dispositivo no estado de Ohio; outro homem foi perseguido e atropelado pela ex-namorada em Indiana após esconder um AirTag em seu carro.

    Problema antigo

    A Apple lançou o AirTag em 2021, e hoje ele custa cerca de R$ 370. Contudo, logo após seu lançamento, alguns especialistas alertaram que os aparelhos poderiam ser usados ​​para rastrear indivíduos sem consentimento.

    O problema não passou despercebido pela empresa: no início de 2022, a Apple adicionou mais proteções ao AirTag para reduzir rastreamentos indesejados.

    Em nota, a empresa afirmou que trabalhou com grupos de segurança e agências de aplicação da lei para identificar mais maneiras de atualizar seus avisos de segurança, incluindo alertar as pessoas mais cedo e mais alto se o pequeno rastreador Bluetooth estiver rastreando alguém.

    “O AirTag foi projetado para ajudar as pessoas a localizar seus pertences pessoais, não para rastrear pessoas ou propriedade de outra pessoa, e condenamos nos termos mais fortes possíveis qualquer uso malicioso de nossos produtos. O rastreamento indesejado tem sido um problema social há muito tempo, e levamos essa preocupação a sério no design do AirTag”, disse.

    O novo processo alega que essas medidas fizeram pouco para proteger as vítimas. “Embora a Apple tenha construído proteções no produto AirTag, elas são lamentavelmente inadequadas e fazem pouco, ou nada, para alertar prontamente os indivíduos se estiverem sendo rastreados”, afirmou.

    “Condenamos nos termos mais fortes possíveis qualquer uso malicioso de nossos produtos”, disse a empresa/ Đức Trịnh/ Unsplash

    Segurança digital

    Segundo Eduardo Fucci, advogado especializado em Direito Digital e Tecnologia, as tecnologias de rastreamento e geolocalização não são novidade e existem dispositivos que já estão em circulação no mercado há alguns anos — por exemplo, dispositivos para evitar a fuga ou facilitar a identificação de cães e gatos.

    No caso da Apple, o diferencial do Air Tag é a sua relação com o ecossistema de produtos da empresa e as ditas configurações de privacidade, que impossibilitam que um terceiro acesse dados que o dono do Air Tag não gostaria que fossem acessados.

    Mas, segundo o especialista, é preciso destacar o risco que um dispositivo de rastreamento pequeno, acessível e, em algumas circunstâncias, imperceptível, pode causar à privacidade de terceiros.

    “Juridicamente, a questão pode ser analisada sob o aspecto das legislações de proteção de dados e do direito constitucional à privacidade, além dos crimes previstos nas diferentes legislações. No caso de leis como a LGPD, por exemplo, nem sempre é possível aplicá-las a esses casos, pois as infrações ocorridas podem ter fins particulares e não-econômicos”, explica ele.

    Isso não significa que a vítima esteja desamparada: como ocorreu nos Estados Unidos, é possível recorrer ao judiciário. “É importante consignar que qualquer abalo à privacidade de uma pessoa sem previsão legal ou justificativa em nosso sistema jurídico, consideradas as circunstâncias, é inconstitucional”, diz.

    No caso específico da Apple, e considerando o sistema jurídico brasileiro, seria muito difícil ela ser responsabilizada diretamente por um caso de stalking envolvendo um Air Tag.

    “Em princípio, a Apple não teria responsabilidade direta, o que não significa que uma discussão mais ampla sobre a necessidade de regulamentação desse tipo de dispositivo de rastreamento não seja necessária e cabível para a nossa sociedade”, finaliza.

    A CNN entrou em contato com a Apple, mas não obteve resposta.

    *Sob supervisão de Ana Carolina Nunes e com informações de CNN internacional

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