Tamanho do gasto adicional aprovado na PEC deve impactar juros, diz economista
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, aponta os efeitos da expansão dos gastos do governo para e economia do país
Em entrevista à CNN, a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, apontou que o tamanho do gasto adicional aprovado nesta terça-feira (6) na PEC do Estouro deve impactar a perspectiva de juros no país.
“Podemos ver um pequeno alivio do mercado com a aprovação da PEC, mas se compararmos o mercado de juros de hoje com o que tínhamos 1 mês atrás, é uma deterioração bastante relevante, principalmente nos juros futuros, que são muito importantes para os investimentos. Tivemos um pequeno alívio, mas perto do que tínhamos, para a perspectiva de juros no brasil, a gente vê uma grande deterioração desde que a Pec da Transição começou a ser discutida”, avalia.
Para a economista, o mais relevante dessa PEC foi a magnitude do gasto adicional. “Vemos neste final de ano o governo realmente chegando muito perto do teto, faltando recursos para alguns programas, o orçamento para 2023 com alguns cortes significativos para alguns programas, então alguma recomposição era esperada, algum gasto fora do teto era esperado, mas em uma magnitude mais próxima de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões. Os R$ 145 bilhões como foi aprovado e a forma como está sendo aprovada traz bastante incerteza para o mercado. E essa expansão fiscal deve ter um impacto significativo para as contas públicas no próximo ano.”
O sentimento de incerteza no mercado se reflete também, diz Vitoria, além dos juros, nos dados de confiança do empresário do setor de serviços e de infraestrutura. “Todos eles apontaram uma queda bem expressiva entre outubro e novembro. Existe um sentimento de incerteza no mercado que já gera dúvida sobre o crescimento da economia no próximo ano.”
A reversão do impacto negativo, diz Rafaela Vitoria, pode vir com medidas de contrapartida e de controle de crescimento de gastos no próximo ano. “O que estamos vendo hoje é o fim do teto de gastos, que foi uma âncora tão importante, então o que vai vir no lugar dessa âncora. Essas propostas podem trazer um pouco mais de tranquilidade nos próximos meses.
A economista ressalta ainda que falta o novo governo dizer como vai “fechar a conta” desse aumento de gastos. ” Justamente falta a peça chave dessa equação que é o ministro da Economia ou da Fazenda, que é quem de fato paga essa conta, sobre como essa conta vai ser paga não só em 2023, mas um problema para o futuro do ajuste fiscal que a gente vai ver nos próximos anos, como isso vai ser feito.”
Rafaela Vitoria destaca que o primeiro ano de um novo governo seria de “arrumação de casa” e não de expansão de gastos. “Estamos vendo sinalização, já no primeiro ano, começa gastando mais, e de R$ 145 bilhões a mais. Fica a dúvida como serão os próximos anos, como será o controle de gastos. Lembrando que o Brasil passou por reformas e negociações de gastos, para que a gente chegasse com gasto sobre o PIB próximo a 18,5%, menor do que foi herdado de 19% a 20%. Foi um trabalho duro de conter despesas e a já iniciar governo com expansão é uma sinalização que não vai em linha com a responsabilidade fiscal que a gente gostaria de ver.”, avalia.
*Texto publicado por Ana Carolina Nunes