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    Especialistas americanos descartam integrar o Brasil às cadeias de valor

    Ambiente de negócios do Brasil é visto por fontes americanas ouvidas pela CNN Brasil como muito desfavorável

    Lourival Sant'Anna

    Um dos temas da reunião entre o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, na reunião de segunda-feira (5) em Brasília, foi o deslocamento de parte das cadeias de valor industriais da China para o Brasil, para suprir o mercado americano. Especialistas americanos não veem chance de isso acontecer.

    O ambiente de negócios do Brasil é visto por fontes americanas ouvidas pela CNN como muito desfavorável, e, além disso o país fica mais distante dos Estados Unidos do que outras opções para fazer os chamados friend-shoring e near-shoring — a instalação de plantas manufatureiras em países amigos ou países próximos, respectivamente.

    Uma advogada americana cujo escritório, com sede em Washington, tem grandes clientes que fazem negócios com o Brasil, deu um exemplo. Uma empresa americana que ela atende enviou um produto, que foi retido na Alfândega do Aeroporto de Guarulhos, porque ele não era perfeitamente idêntico à descrição no “manifesto”, o documento de importação.

    A retenção em si não teria acontecido em outros países, disse ela, porque as discrepâncias eram irrelevantes. A empresa recorreu e a Receita Federal passou a cobrar uma multa, que foi se avolumando ao longo da retenção.

    Mesmo quando a empresa aceitou pagar a multa, não conseguia mais retirar o documento, por ter entrado com o recurso. O drama se estendeu por dois anos e a multa ganhou um valor significativo, gerando prejuízo para a empresa, conta a advogada.

    “As empresas vão dizer: ‘Para que vou querer levar as cadeias de valor para um país complicado e distante como o Brasil, se posso fazer isso em ambientes de negócios mais convidativos e mais próximos dos Estados Unidos?’”, prevê a especialista.

    Uma diplomata americana, que trabalhou no Departamento de Estado nos governos republicanos de George W. Bush e de Donald Trump, acredita que esses deslocamentos devem ser feitos prioritariamente para países latino-americanos que já têm acordos de livre comércio com os Estados Unidos, como o México e a Colômbia, por exemplo. “Não existe ambiente político nos Estados Unidos para novos acordos de livre comércio e nem o governo Lula parece inclinado para isso”, analisa a diplomata.

    Ela participou da decisão do governo Trump de apoiar o ingresso do Brasil na Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em outubro de 2019. Segundo a diplomata, foi uma decisão pessoal de Trump atender ao pedido do presidente Jair Bolsonaro.

    Mas a medida enfrentou forte resistência de altos funcionários da área comercial, que consideravam que o Brasil está muito longe de seguir os padrões da OCDE. A resistência de Lula e do PT às reformas, disse a diplomata, torna essa distância maior ainda.

    Na visão dessas fontes, a área com mais potencial de cooperação entre os dois governos é a climática, prioridade do presidente Joe Biden. Nesse campo, os americanos reconhecem que há um caminho a ser percorrido. Pelo menos enquanto os democratas estiverem no governo nos EUA.

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