Com Petrobras, transição mira preços e privatização de refinarias
Assuntos foram centro das conversas realizadas nesta semana no Rio de Janeiro
A equipe de transição do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT) escolheu duas prioridades para a passagem de bastão na Petrobras: a política de precificação dos combustíveis e o plano de venda das refinarias da companhia.
A reunião que tratou sobre preços foi realizada nesta segunda-feira (5). Interlocutores da Petrobras ouvidos pela CNN apontaram um interesse do novo governo em criar uma ferramenta para controlar mais os preços dos combustíveis, algo alternativo à atual política que prevê o alinhamento ao mercado internacional.
Na campanha, Lula já falava em “abrasileirar” o preço dos combustíveis, com críticas à abertura de mercado para as importadoras que traziam o produto para cá. Mas na visão da atual direção da Petrobras, esse plano é muito difícil de ser concretizado.
Na prática, o Brasil não é autossuficiente em combustível, muito embora produza petróleo cru que seria o bastante para toda a demanda interna. Ao manter o preço de mercado, a Petrobras abre espaço para que as importadoras supram a demanda residual das distribuidoras com lucro razoável.
Abaixar o preço seria fechar as portas do mercado para essas importadoras, gerando um vácuo no abastecimento. A solução mais óbvia, que já foi inclusive usada no passado, antes da criação desse sistema em 2016, seria o subsídio. Ou seja, a Petrobras compra o que não conseguir entregar das importadoras mas justamente pelo preço desajustado, acaba vendendo mais barato e assume o prejuízo.
Essa saída não é vista como tão simples pelos executivos da estatal, porque derrubaria o valor de mercado da companhia e traria muito mais responsabilidade à Petrobras, especialmente em momentos de oscilações externas de mercado.
Um meio termo entre a aplicação dos preços de mercado e o subsídio seriam programas políticos e sociais, via Congresso ou Ministério de Minas e Energia. Algo como o Vale-gás ou auxílios a taxistas, motoristas de aplicativo e caminhoneiros. Nas conversas com a equipe de transição, no entanto, não ficou claro se esse será o caminho adotado pelo governo de Lula.
Nesta terça-feira, a Petrobras anunciou mais uma redução nos preços dos combustíveis, com queda de 40 centavos no litro do diesel e de 20 centavos no litro da gasolina. A justificativa foi a mesma adotada em todas as mudanças desde 2016, quando Michel Temer (MDB) era o presidente e Pedro Parente comandava a Petrobras: alinhar os valores ao mercado internacional.
Apesar de críticas do atual presidente, essa política foi mantida sem grandes interferências ao longo dos quatro anos da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
Da mesma forma, o plano estratégico da Petrobras para 2023-2027, aprovado na semana passada, prevê a continuidade da venda de refinarias, assunto central do encontro realizado na manhã desta terça-feira (6/12).
A ideia de integrantes do grupo temático de Minas e Energia montado pelo PT é interromper o plano e até reverter a venda de refinarias, comprar de volta mesmo. A intenção é oferecer aos compradores a possibilidade de devolução.
Para interlocutores da Petrobras, evitar futuras vendas pode ser menos complicado, mas a manobra de tentar recomprar refinarias parece ser arriscada. O “fantasma” de Passadena complicaria as negociações, mesmo depois de a ex-presidente Dilma Rousseff ter sido inocentada pelo TCU na compra da refinaria americana.
Para dirigentes da Petrobras ouvidos pela CNN, um “cavalo de pau” na estratégia da Petrobras, recomprando ativos vendidos poderia afugentar investidores e prejudicar a imagem da companhia, inclusive internacionalmente, depois de um árduo processo de recuperação pós Operação Lava-jato.