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      Talita Matos - Antropóloga e sócia fundadora da Singuê

      Talita Matos é formada em Antropologia e Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e possui mestrado em educação inclusiva na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

      É cofundadora da Singuê, consultoria de diversidade, equidade e inclusão.

      Trabalhou por 15 anos com programas de impacto social com temas como educação pública, inclusão de pessoas com deficiência, relações étnico-raciais e empreendedorismo social.

      Talita inclusive foi CEO do Impact Hub Floripa, considerada a maior comunidade de empreendedores de impacto do mundo.

      Como uma mulher negra do sul do país, a temática de gênero e raça sempre permeou as suas reflexões e práticas trazendo sempre uma perspectiva afrocentrada para tudo que desenvolve.

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    Na cultura ou no ambiente corporativo, Brasil precisa valorizar mais seus talentos negros

    “Revelar a importância de brasileiros e brasileiras notáveis, cujas realizações são em geral ignoradas pela sociedade que ajudaram ou ajudam a construir”. Essa é a missão anunciada por Nei Lopes na introdução de sua obra já clássica Afro-Brasil reluzente: 100 personalidades notáveis do século XX.

    O livro passeia por biografias variadas, da escritora Carolina de Jesus ao cantor e compositor Gilberto Gil, do intelectual e político Abdias do Nascimento à atriz Zezé Mota, de Cartola a Pelé, de Marielle Franco a Maju Coutinho. O próprio Nei Lopes, intelectual, escritor e sambista de mão cheia, poderia ser incluído nessa lista de “afro-brasileiros reluzentes”.

    Dois elementos unem personagens tão díspares: a importância de sua contribuição para a cultura nacional e a chaga do racismo presente em suas trajetórias.

    A obra enseja uma série de reflexões neste mês da Consciência Negra. Em primeiro lugar, ela faz pensar no quanto o combate ao racismo e à desigualdade precisa avançar para que o Brasil não repita neste século o erro de ignorar (ou subvalorizar) o talento de suas personalidades pretas.

    Mas ela também faz pensar nas pessoas negras “não reluzentes”, isto é, naqueles incontáveis profissionais anônimos que, apesar dos obstáculos, atingiram sucesso em seu campo de atuação ou, ao contrário, que tiveram a ascensão barrada devido à cor de sua pele.

    Nesse caso, uma das tarefas que temos pela frente é aumentar cada vez mais a presença desses profissionais em cargos estratégicos e posições de liderança nas corporações. Para além das garantias de condições dignas de trabalho e renda, que torna o benefício social evidente, as próprias empresas também têm muito a ganhar com isso, pois estarão incorporando novas vivências, novos olhares ao seu processo decisório.

    Mas é bom ressaltar que esse movimento não acontece de forma natural. Empresas de fato engajadas em uma agenda social e na transformação de seu modelo de governança estão, por exemplo, investindo em consultorias especializadas para o acompanhamento desses profissionais e para dirimir eventuais conflitos provocados pelo aumento da diversidade no interior da corporação.

    É preciso também que as corporações exerçam seu papel na mitigação do racismo na cultura organizacional, na gestão e processos de recrutamento e desenvolvimento de pessoas, bem como ofereçam oportunidades de desenvolvimento e aprendizado na trajetória profissional, haja vista que parte expressiva da população negra vem de famílias de baixa renda e possuem menor acesso geral à educação formal historicamente, e menos ainda, a educação executiva.

    A obra de Nei Lopes reverencia cem negras e negros que, apesar de todas as circunstâncias adversas, conseguiram romper o véu do racismo e ganhar notoriedade. Neste mês da Consciência Negra, cumpre lembrar que esse véu precisa ser rompido também no universo corporativo.

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