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    Eles se apaixonaram nos anos 1980 e se reconectaram 23 anos depois

    Norte-americana e australiano se uniram depois de outros casamentos e separações

    Francesca Streetda CNN

    Grace Migliaccio decidiu, no último minuto, não entrar no avião.

    Era o verão de 1984. A norte-americana, uma recém-graduada com 20 e poucos anos, tinha colocado todas as suas economias num voo de longa distância de sua casa em Washington, DC, nos EUA, para visitar o seu namorado australiano, John Hiron, na terra dele.

    O casal havia se encontrado numa festa no começo daquele ano, alguns dias antes de John ter de deixar a cidade – ou assim deveria ser. Os primeiros dias do relacionamento foram um turbilhão – e, depois de se apaixonar por Grace, John estendeu sua viagem o máximo que pode.

    Eles estavam, como Grace conta, “ultra e loucamente apaixonados”. Mas o visto de John ia expirar e ele precisou voltar para casa. Depois disso, o namoro de Grace e John ficou restrito às cartas. A lenta correspondência levava semanas para viajar entre os países, e a distância física entre elas criou uma separação emocional difícil de superar.

    Com a data do voo de Grace se aproximando, a preocupação só aumentava. “Sonhei que estava cometendo um erro imenso”, contou Grace ao CNN Travel. “Tinha um nó no estômago dizendo que eu não deveria ir”. Não ajudou o fato de Grace “não ser do tipo aventureira”, como ela admite.

    Procurando tranquilidade, Grace espontaneamente ligou para John. O casal raramente falava ao telefone devido às altas tarifas de longa distância, mas ela estava se sentindo cada vez mais desesperada.

    “Eu precisava que ele dissesse, ‘você está fazendo a coisa certa’”, lembrou. “Mas ele não estava em casa”.

    A mãe de John atendeu e disse que daria o recado. Passaram-se 36 horas até que ele telefonou de volta para Grace. Nesse meio tempo, a ansiedade dela só aumentou.

    “Devo ir?”, Grace perguntou, quando John finalmente retornou a chamada. “Se você quiser”, foi a resposta dele.

    Para Grace, a aparente indiferença do namorado encerrou a dúvida. “Eu não entrei no avião. Ele foi ao aeroporto para me buscar, para me pegar, e eu não saí — eu não estava no avião”.

    “Eu disse a coisa errada, sem dúvida”, relatou John, que culpa sua imaturidade pela resposta. O australiano queria que ela fosse, mas simplesmente não sabia como expressar isso e a longa distância era difícil.

    Quando Grace não apareceu, John e seus amigos foram direto do aeroporto para o pub. Rodeado de copos de cerveja, o rapaz ouviu dos amigos que encontraria outro alguém e seguiria em frente. Mas John sabia que tinha perdido algo que não seria facilmente substituído.

    Alguns dias mais tarde, ele ligou para a norte-americana para perguntar o que dera errado. Numa conexão cheia de ruídos, Grace e John lutaram para articular como se sentiam. Encerrar o assunto parecia impossível.

    “Eu sei que vamos namorar outras pessoas, mas não devemos nos casar com ninguém”, decretou Grace, sentindo que o telefonema — e o relacionamento — estava chegando ao fim.

    “Por que?”, perguntou John, a milhares de quilômetros de distância na casa de seus pais em Perth.

    “Porque nunca vamos amar alguém da maneira como nos amamos”, declarou a moça.

    Direções diferentes

    Nos meses seguintes, Grace diz que se sentiu “arrasada”. Mas ela tentou não imaginar como seria a vida se tivesse embarcado naquele voo. Em vez disso, “começou a tentar tocar adiante”.

    “Comprei um carro com o dinheiro com o qual eu ia para a Austrália, para que eu não pudesse ter a tentação de mudar de ideia mais tarde”, recordou.

    Os meses se transformaram em anos e John e Grace continuaram na esfera de contato um do outro. “Eu ligava de vez em quando”, contou John. “Um ano eu liguei e ela havia se casado. Noutro, liguei novamente e os pais dela haviam morrido”.

    Às vezes, John tentava, mas não conseguia falar com ela — Grace tinha se mudado, e ele se virava para encontrar o novo número. Não havia redes sociais ou e-mail para ajudar na busca, e uma vez o australiano chegou a telefonar para um diretório internacional nos EUA para encontrar a ex-namorada.

    Para Grace, essas chamadas intermitentes eram doces, mas tristes.

    “Eu jurava que não ia mais falar com ele, que não tinha motivo. É que isso mexia com minhas emoções”, admitiu. “Mas, toda vez que ele ligava, eu atendia, claro. E depois prometia que era a última vez que falaria com ele”.

    Décadas se passaram. Grace e John namoraram e se casaram com outras pessoas, e depois tiveram filhos.

    “Vinte e dois anos mais tarde, eu havia superado esse relacionamento”, ela contou.

    Mesmo assim, guardava todas as cartas de John.

    “Eu sempre tinha as cartas aonde quer que eu fosse ou com quem estivesse; não importa quantas vezes eu me mudei, as coisas que ele me deu vinham comigo”.

    Então, num dia em janeiro de 2007, John ligou para Grace repentinamente. Os dois não estavam em contato há algum tempo. Nesse meio tempo, ambos haviam passado por momentos desafiadores — coincidentemente, tanto ela quanto ele tinham se separado recentemente de seus cônjuges.

    “Eu disse que havíamos terminado e eu não estava mais casado. E Grace disse a mesma coisa”, lembrou o australiano.

    “Foi surpreendente que nós dois estivéssemos separados”, contou a norte-americana. Os dois conversaram um pouco, falando sobre o fim de seus casamentos e como se sentiam com isso. John mencionou que um acessório chamado webcam estava ficando mais comum e sugeriu que eles poderiam fazer uma videochamada em algum momento.

    “Fui para a loja de conveniência local, comprei uma webcam externa, liguei e depois tive de descobrir como usá-la. E então vimos um ao outro pela primeira vez em 22 anos”, Grace contou.

    A imagem era ligeiramente pixelada. Grace demorou um pouco para se acostumar com o cabelo cinza de John. Mas, apesar dos anos, ambos se reconheceram imediatamente.

    “É engraçado como a mente engana os olhos, e você vê a pessoa de 22 anos, não vê a pessoa que está com 45; em sua mente, você vê a pessoa nova”, continuou.

    “E assim, desde o minuto em que nos vimos de novo, sentimos uma emoção muito grande, uma reação quase visceral”.

    Foi também um pouco estranho.

    “Não tínhamos muito a falar no início porque, afinal, o que há para falar?”, ela lembrou. “Apenas como você está lidando com divórcio, como estão as crianças, como estão lidando com a situação. A gente se ajudava assim, nos atualizando sobre nossas vidas, onde estávamos e o que estava acontecendo”.

    Ainda assim, os dois se programaram para se falar de novo e, nos meses seguintes, fizeram várias videochamadas. Grace e John se sentiram atraídos um pelo outro e as chamadas viraram um ponto alto em suas vidas.

    “Eu chegava em casa vindo do trabalho, me sentava para assistir TV e deixar a webcam ligada, daí a gente conversava a noite inteira”, contou o homem.

    Grace Migliaccio e John Hiron no Taj Mahal, na Índia, em 2019 / John Hiron e Grace Migliaccio

    Depois de algum tempo, John sugeriu que ele poderia ir aos EUA e eles iriam se encontrar pessoalmente.

    Grace ficou hesitante – será que era uma ideia péssima? Ela foi conversar com sua conselheira matrimonial, que sugeriu que ver John poderia trazer um encerramento muito necessário.

    “Ela disse que seria bom que a gente se visse, e depois não se visse nunca mais. Então seria algo seguro, eu não ia começar nada complicado, já que, afinal, estamos tão longe um do outro. Foi o conselho dela. E o tiro saiu pela culatra…”

    Reencontro nos EUA

    Grace pegou John do aeroporto de Newark em março de 2008. Esperando em um táxi com uma garrafa de champanhe e morangos cobertos de chocolate, ela passou o dia pensando naquele momento, anos atrás, quando ela não embarcou.

    Quando viu John novamente, Grace conta que “foi como pegar de volta um pedaço perdido de mim mesma que eu não sabia que estava perdido há tanto tempo”.

    “Foi fantástico. Muito emocionante”, contou John da reunião deles. “Foi como se o tempo não tivesse passado, foi muito familiar e confortável”.

    Antes da chegada de John, Grace se preocupava com silêncios desconfortáveis. Ela preparou tópicos de conversa, mas nem precisou deles. Depois de apenas alguns dias juntos, as décadas pareciam ter sumido. Os dois começaram a conversar sobre se encontrar novamente em um ano.

    Mas, à medida que passaram mais tempo juntos, os dois perceberam que eram mais do que apenas velhos amigos. A conexão que eles sentiam em 1984 ainda estava lá, e esperar um ano para se reunir parecia impossível.

    “Ficamos pensando no que faríamos. Porque agora nós não podemos mais nos separar. Cometemos um erro – talvez fôssemos jovens demais, talvez tenha sido o erro correto naquela hora e as coisas funcionaram como deveriam ser. Mas não podíamos simplesmente continuar separados”, disse a norte-americana.

    Uma noite, eles releram as cartas que Grace tinha mantido por todos aqueles anos.

    “Foi um momento em que choramos, vendo a profundidade da emoção daquela época, e como pudemos deixar isso escapar”, relatou Grace.

    Então eles se lembraram daquela conversa telefônica em 1984 logo depois de Grace não entrar no avião.

    “Eu falei: ‘Uau, há 22 anos eu disse que não devemos nos casar com outra pessoa’. E ele terminou a frase ‘… Porque nunca amaremos alguém do jeito que a gente se ama’”. “Ele se lembrava disso e deu um aperto no peito. O que faríamos agora? Vai ser difícil e complicado”.

    Grace e John viviam em lados opostos do globo. Ambos estavam passando pordivórcios. Ambos tinham filhos que amavam, e queriam fazer parte de suas vidas.

    Seguir seus corações era complicado. Ainda assim, vários meses depois, Grace visitou John na Austrália Menos de um ano depois disso, John se mudou para os EUA e os dois se casaram. “Foi emocionante porque esperamos uma vida, de fato, para dizer essas palavras”, disse Grace sobre o dia do casamento.

    Apaixonar-se novamente, 23 anos mais tarde, foi tão doce e complicado quanto “eufórico”.

    Algumas pessoas amadas se chatearam com a união. Alguns amigos pensaram que ambos estavam passando por crises de meia idade. Para John, mudar-se para o outro lado do mundo, longe dos filhos, foi particularmente difícil. “Foi muito duro”, contou.

    “Foram dois anos bem difíceis com a mudança”, completou a esposa. Mas, à medida que a poeira se assentava, John e Grace conseguiram passar um tempo significativo na Austrália, bem como nos EUA.

    Eles viraram uma família mista intercontinental, reunindo os seus filhos sempre que podiam. Alguns dos filhos de John estudaram e trabalharam nos EUA desde então. “É incrível que os cinco filhos se deram muito bem”, contou o australiano.

    “Podemos juntar todo mundo nas férias e todos ficam bem, se divertem”. “No fim, passando a dor, tornamos a vida de nossos filhos muito maior, e demos um grande exemplo de amor”, pontuou Grace.

    Recuperando o tempo perdido

    Hoje, 15 anos após o reencontro, John e Grace ainda vivem nos EUA, onde “estão recuperando o tempo perdido”. “Quase parece que nunca nos separamos”, como lembrou John.

    Os dois aproveitam, como contou Grace, para fazer “muitas viagens, aventuras e experiências para criar uma vida de memórias num período de tempo mais curto e comprimido”. Os parentes e amigos que originalmente eram contra a união voltaram atrás.

    Já Grace e John acreditam que as coisas aconteceram da maneira que deveriam ter. “Funcionou do jeito que precisava”, afirmou o australiano, que diz que a decisão de estar juntos não foi fácil, mas sempre valeu a pena.

    “Se tentássemos continuar a partir de 1984, provavelmente não teríamos sido maduros o suficiente para passar por esse período para chegar aonde estamos hoje”, refletiu Grace.

    “Dá uma tristeza, mas sei que tenho o melhor dele agora. Então, não dá para ser algo realmente triste, porque tudo funcionou da maneira que deveria, apesar de todos os nossos erros, incluindo eu não embarcar naquele avião”.

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