Covid-19: especialistas fazem recomendações para acabar com ameaça à saúde pública
Artigo publicado na revista Nature apresenta uma lista de 57 recomendações elaboradas a partir do consenso entre especialistas para acabar com a ameaça à saúde pública causada pela Covid-19
No dia 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou situação de pandemia pela abrangência global dos impactos causados pela Covid-19.
À época, o diretor-geral Tedros Adhanom apontou que o mundo registrava mais de 118 mil casos e 4.291 mortes em 114 países. O último boletim epidemiológico divulgado pela OMS informa que até o dia 6 de novembro, 629 milhões de casos confirmados e 6,5 milhões de mortes foram relatados em todo o mundo.
Com o avanço da vacinação contra a doença, houve uma flexibilização de medidas de prevenção, com a retomada de serviços e grandes eventos, além da retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras. No atual cenário epidemiológico surge a pergunta: quando vai terminar a pandemia?
Um artigo publicado na revista Nature apresenta uma lista de 57 recomendações elaboradas a partir do consenso entre especialistas para acabar com a ameaça à saúde pública causada pela Covid-19. O trabalho foi desenvolvido por um painel composto por 386 cientistas de 112 países.
Liderado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal), o estudo conta com a participação de dez cientistas brasileiros, sendo cinco da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
As orientações destacam a importância de se desenvolver uma comunicação efetiva, fortalecer os sistemas de saúde, enfatizar a vacinação, promover medidas de prevenção, expandir os tratamentos e combater as desigualdades.
Ameaça persistente e perigosa
Os cientistas listam uma série de fatores que fazem com que a Covid-19 permaneça como uma ameaça persistente e perigosa. Além dos casos e mortes no mundo, o vírus SARS-CoV-2 também prejudicou o atendimento de outras doenças. Outro desafio são os impactos causados pela Covid longa.
Os pesquisadores apontam que o vírus acumula mutações ao longo do tempo, o que pode fazer com que, eventualmente, ele consiga escapar da resposta imune provocada pelas vacinas e por infecções anteriores.
Uma das variantes mais recentes é a BQ.1, uma sublinhagem de BA.5, da Ômicron, que carrega mutações em pontos importantes do vírus. A OMS aponta que a cepa já foi detectada em pelo menos 65 países, incluindo o Brasil, e apresenta uma prevalência de 9%.
“Apesar dos notáveis avanços científicos e médicos, a resposta do mundo à Covid-19 foi prejudicada por fatores políticos, sociais e comportamentais mais amplos, como informações falsas, hesitação em se vacinar, coordenação global inconsistente e distribuição desigual de equipamentos, vacinas e tratamentos”, dizem os cientistas.
Destaques
Entre as recomendações com maior grau de consenso entre os especialistas estão ações que envolvam sociedades e governos no enfrentamento da pandemia. No que diz respeito à imunização, está a adoção de uma abordagem “vacinas mais”, que emprega medidas de saúde pública e apoio financeiro para complementar a vacinação. Do ponto de vista da comunicação, há sugestões de melhoria nas estratégias para reconstruir a confiança do público e envolver as comunidades na gestão das respostas.
O painel de especialistas contou com diversas áreas do conhecimento, além de diversidade geográfica e participação de profissionais acadêmicos, de instituições de saúde, governos, organizações não governamentais e outros.
A partir de uma metodologia específica, as declarações e recomendações foram submetidas a diversas rodadas de avaliação até alcançar um grau de consenso elevado. Das 57 recomendações, 51 tiveram 95% ou mais de aprovação e apenas seis apresentaram divergência superior a 5%.
Além das recomendações, o artigo traz 41 declarações que expressam consensos sobre o estado atual e os desafios no enfrentamento da pandemia.
“As declarações e recomendações de consenso resultantes podem servir como uma base sólida para a tomada de decisões para acabar com o Covid-19 como uma ameaça à saúde pública e permitir uma retomada mais durável das atividades sociais, culturais, religiosas, políticas, de saúde, econômicas e educativas, com menor ônus para as populações vulneráveis”, dizem.
As recomendações foram divididas em seis áreas:
1 – Área: Sistemas de saúde
Recomendação: A preparação e o planejamento de resposta à pandemia devem adotar uma abordagem de toda a sociedade, que inclua várias disciplinas, setores e atores (por exemplo, negócios, sociedade civil, engenharia, comunidades religiosas, modelagem matemática, militares, mídia e psicologia).
2 – Área: Comunicação
Recomendação: Líderes comunitários, especialistas científicos e autoridades de saúde pública devem colaborar para desenvolver mensagens de saúde pública que construam e aumentem a confiança individual e comunitária e usem os meios preferidos de acesso e comunicação para diferentes populações.
3 – Área: Prevenção
Recomendação: Todos os países devem adotar uma abordagem “vacinas mais”, que inclua uma combinação de vacinação contra a Covid-19, medidas de prevenção, tratamento e incentivos financeiros.
4 – Área: Iniquidades pandêmicas
Recomendação: A preparação e a resposta à pandemia devem abordar as iniquidades sociais e de saúde pré-existentes.
5 – Área: Comunicação
Recomendação: As autoridades de saúde pública devem fazer parcerias com indivíduos e organizações confiáveis em suas comunidades para fornecer informações precisas e acessíveis sobre a pandemia e informar as mudanças de comportamento.
6 – Área: Vacinação
Recomendação: O financiamento governamental, filantrópico e da indústria deve incluir um foco no desenvolvimento de vacinas que forneçam proteção duradoura contra diversas variantes do SARS-CoV-2.
7 – Área: Comunicação
Recomendação: Os profissionais e autoridades de saúde pública devem combater proativamente informações falsas com base em mensagens claras, diretas e culturalmente responsivas, livres de jargões científicos desnecessários.
8 – Área: Sistemas de saúde
Recomendação: As estratégias de preparação e resposta devem adotar abordagens de todo o governo (por exemplo, coordenação multiministerial) para identificar, revisar e abordar a resiliência nos sistemas de saúde.
9 – Área: Iniquidades pandêmicas
Recomendação: As organizações globais de comércio e saúde devem se coordenar com os países para negociar a transferência de tecnologias que permitam aos fabricantes de países de baixa e média renda desenvolver vacinas, testes e terapêuticas de qualidade garantida e acessíveis.
10 – Área: Tratamento e cuidados
Recomendação: Promover a colaboração multissetorial para acelerar o desenvolvimento de novas terapias para todas as fases da Covid-19 (por exemplo, ambulatório, hospitalização e Covid longa).
(Com informações de Maíra Menezes, do Instituto Oswaldo Cruz)