Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Opinião: uma noite péssima para alguns candidatos apoiados por Trump

    Joe Biden disse que "onda republicana" prevista não aconteceu nestas eleições de meio de mandato nos EUA

    Da CNN

    Os autores da seção CNN Opinion expressam suas opiniões sobre o resultado das eleições de 2022. As opiniões expressas neste texto são deles.

    Scott Jennings – DeSantis mostra que pode fazer o que Trump não consegue

    O governador da Flórida Ron DeSantis enviou uma mensagem clara a todos os eleitores republicanos na terça-feira (8) à noite: o meu caminho é o caminho para uma maioria nacional, e o caminho do ex-presidente Donald Trump é o caminho para as desilusões futuras e para o sofrimento contínuo.

    Há quatro anos, DeSantis ganhou sua primeira corrida ao governo com menos de um ponto percentual de diferença. Em 2022, sua vitória de quase 20 pontos contra o candidato democrata Charlie Crist enviou a mensagem de que DeSantis, e não Trump, pode conquistar os eleitores independentes que decidem as eleições.

    A vitória decisiva de DeSantis oferece o lampejo de um futuro em que o Partido Republicano poderá realmente ganhar o voto popular numa corrida presidencial – algo que não acontece desde George W. Bush, em 2004.

    Ao mesmo tempo, muitos dos candidatos que Trump apoiou em 2022 sofreram nas urnas e ficou claro, através da pesquisa de boca de urna da CNN, que o ex-presidente (com o seu índice de favorabilidade de 37%) seria um candidato duvidoso nas eleições de 2024, caso conquiste a nomeação presidencial republicana pela terceira vez.

    O meu amigo Patrick Ruffini, da consultoria Echelon Insights, tuitou uma observação fundamental: DeSantis recebeu um enorme apoio entre latinos em 2022, muito maior quando comparado com Trump em 2020.

    Em 2020, Biden ganhou no condado de Miami-Dade, fortemente latino, por sete pontos. DeSantis virou o condado na terça-feira e terminou com uma vitória de 11 pontos percentuais.

    Em 2020, Biden ganhou no condado de Osceola por quase 14 pontos. Dessa vez, DeSantis assegurou o condado por quase sete pontos a mais, marcando um total de 21 pontos.

    O governador combinou sua força entre latinos com seu apoio entre brancos de classe trabalhadora, profissionais que vivem nos subúrbios e moradores das áreas rurais. É uma coligação que poderia ganhar a nível nacional, ao contrário do apelo limitado de Trump entre vários segmentos tradicionais de voto republicano.

    No ano passado, foi o candidato republicano ao governo da Virginia, Glenn Youngkin, que causou um terremoto num estado que apoiava Biden. Agora, foi DeSantis trabalhando sozinho (Trump se reuniu com Marco Rubio, mas não com DeSantis no final da campanha) que mostrou o que pode acontecer quando os instintos políticos necessários para um republicano bem-sucedido se combinam com a competência administrativa.

    DeSantis demonstrou que, em vez de Trump, ele é a melhor hipótese entre republicanos para derrotar Biden (ou algum outro democrata) em 2024. Com Trump planejando anunciar em breve usa campanha de reeleição, DeSantis tem muito a pensar e pode ter um trampolim sólido para se lançar como concorrente do ex-presidente.

    Scott Jennings, um colaborador da CNN e conselheiro de campanha republicano, foi assistente especial do presidente George W. Bush e conselheiro de campanha do senador Mitch McConnell. É sócio da RunSwitch Public Relations em Louisville, Kentucky. Siga-o no Twitter em @ScottJenningsKY.

    Jill Filipovic: Nova-iorquinos não foram intimidados por exageros. Agora, a governadora precisa mostrar a que veio

    A democrata Kathy Hochul venceu a corrida ao governo do estado de Nova Iorque, ainda bem. O seu adversário, Lee Zeldin, não é o típico republicano moderado que normalmente tenta a sorte num estado democrata. Na verdade, ele se opõe ao aborto e queria que os eleitores confiassem em sua palavra de que não iria mexer com as leis do aborto de Nova York.

    Zeldin foi apoiado pela Associação Nacional de Rifle quando estava no Congresso. É um parceiro de Trump que votou contra a certificação das eleições de 2020 no congresso depois de enviar um texto com o antigo chefe da Casa Branca, Mark Meadows, e supostamente planejar contestar o resultado das eleições de 2020 antes mesmo de eles serem contados.

    Os cidadãos do estado de Nova York enviaram uma mensagem definitiva: os nossos valores são importantes, mesmo em momentos de profunda incerteza.

    Eleitores norte-americanos em local de votação em Michigan / 08/11/2022 REUTERS/Evelyn Hockstein

    Além disso, Hochul fez história como a primeira mulher eleita para o cargo de governadora em Nova York.

    Nos últimos dias, a eleição parecia ser mais apertada do que foi realmente. Parte disso é simplesmente a matemática eleitoral habitual: o partido minoritário tem tipicamente uma vantagem no meio do mandato, e os republicanos são uma minoria em Washington, com um democrata na Casa Branca e uma maioria democrata no Congresso.

    As pesquisas no estado de Nova York não tiveram um aspecto tão bom para a Hochul como deveria ter num estado solidamente azul (democrata): os eleitores que falaram com pesquisadores enfatizaram os medos do crime e a economia; os direitos ao aborto surgiam, mas não pareciam tão definitivos nas eleições para o governo.

    As pesquisas não foram perfeitas. Acontece que os nova-iorquinos são, na verdade, os nova-iorquinos: sem temer as notícias exageradas de crime (embora eu ache que a criminalidade é, sim, um problema que os democratas devem abordar, a cidade de Nova York continua sendo um dos lugares mais seguros do país); determinados a defender a diversidade racial, étnica e sexual que faz com que o nosso estado seja grande; e comprometidos em enfrentar a tirania de um partido antidemocrático que forçaria as mulheres a manter uma gravidez e maternidade não desejadas.

    No entanto, os democratas não devem achar que está tudo ganho. As questões que os eleitores levantaram (inflação e crime) são preocupações reais. E as razões que muitos eleitores apontaram – os direitos ao aborto, as normas democráticas – permanecem ameaçadas.

    A tarefa da governadora Hochul é agora lidar com as preocupações dos eleitores, enquanto mantém de pé os valores de Nova York: abertura, decência, liberdade para todos. Porque foi isso que os nova-iorquinos fizeram: a maioria de nós não votou a partir do medo e da reação, mas sim dos últimos resquícios de esperança e otimismo. Votamos a favor do que queremos. E agora queremos que a nossa governadora traga resultados.

    Jill Filipovic é jornalista de Nova York e autora do livro “OK Boomer, Let’s Talk: How My Generation Got Left Behind.” Siga-a no Twitter.

    Douglas Heye: Na Carolina do Norte, a questão do crime ficou gigante

    A corrida ao senado da Carolina do Norte recebeu menos atenção do que a de alguns outros estados. Isso  possivelmente foi resultado de uma campanha com candidatos menos conhecidos do que aqueles da Geórgia, Pensilvânia e Ohio.

    Nas últimas semanas de campanha, várias pesquisas traziam os candidatos – a ex-presidente do Supremo Tribunal do Estado, a democrata Cheri Beasley, e o deputado republicano Ted Budd – separado por um ponto percentual ou menos.

    Talvez mais do que em qualquer outra campanha do Senado, a questão do crime se agigantou na Carolina do Norte, com Budd alegando nos seus discursos que o estado tinha ficado muito mais perigoso. Esse ponto de discussão, juntamente com o seu foco na inflação, pode ter levado o candidato à vitória na votação de terça-feira.

    Beasley, ao contrário, focou mais as atenções no aborto, fazendo do tema sua plataforma central de campanha e dizendo que defenderia não apenas os direitos reprodutivos das mulheres, mas também a proteção do local de trabalho e a igualdade salarial.

    Os dois candidatos disputavam a vaga deixada pelo senador republicano Richard Burr, que se aposentou. Apesar de ser visto como um estado vermelho (republicano) – embora seja menos solidamente republicano do que os estados vizinhos ao sul -, a Carolina do Norte escolheu cinco democratas entre os últimos seis governadores e dois dos últimos seis senadores.

    O ex-presidente Barack Obama venceu no estado em 2008, mas perdeu-o em 2012 por uma das margens mais apertadas da nação. Embora Donald Trump tenha vencido no estado em 2016 e 2020, ele nunca recebeu 50% dos votos.

    Imagem de arquivo: O presidente dos EUA, Joe Biden, e o ex-presidente Barack Obama em cerimônia em Washingtou. 7 setembro, 2022. REUTERS/Evelyn Hockstein/Arquivo /

    Douglas Heye é o ex-chefe de gabinete do antigo líder da maioria do Congresso, Eric Cantor, estrategista do Partido Republicano e comentarista político da CNN. Siga-o no Twitter em @ScottJenningsKY.

    Sophia A. Nelson: O que a derrota de Stacey Abrams significa

    Muitos de nós suspeitávamos que a deputada democrata Val Demings, da Flórida, que coordenou o impeachment na Congresso, teria uma batalha difícil para remover o atual senador Marco Rubio de sua vaga, e, portanto, sua derrota não foi surpresa. Com 98% dos votos contados, Rubio venceu facilmente, conquistando 57,8% dos votos contra 41,1% de Demings.

    A noite de terça-feira foi difícil para candidatas negras. Além do fracasso de Demings, a juíza Cheri Beasley perdeu por pouco sua corrida ao Senado pela Carolina do Norte.

    Mas a grande dor no coração da noite foi a derrota de Stacey Abrams, que perdeu a corrida para o governo da Geórgia para o atual governador Brian Kemp – uma repetição da sua derrota para ele há quatro anos, quando os dois buscaram uma vaga que estava em aberto.

    Abrams agitou a corrida de 2018 expandindo o mapa eleitoral, alistando mais mulheres e pessoas não brancas que compareceram em números recorde – mas ela ficou aquém de conquistar a cadeira de governadora da Geórgia. Além disso, na terça-feira ela perdeu para Kemp por uma margem muito maior do que em 2018.

    Se Abrams tivesse sucesso, teria sido a primeira mulher negra a se tornar governadora de um estado dos EUA. Agora, os EUA ainda aguardam quando uma mulher negra poderá chegar lá.

    Entretanto, um vencedor cada vez maior da noite foi o governador da Flórida, Ron DeSantis, que derrotou o democrata Charlie Crist.

    A grande noite de DeSantis solidifica o que alguns acham que é uma posição convincente para buscar a nomeação para candidato à presidência pelo Partido Republicano em 2024. Foi uma noite forte noite para os Republicanos no estado.

    É difícil para um democrata ganhar em estados do sul profundo. Tal como Demings, Beasley e Abrams demonstraram, é particularmente difícil para uma mulher negra ganhar num estado da região. Na verdade, isso nunca aconteceu.

    Todas as três mulheres eram estrelas bem qualificadas e bem financiadas em seu partido. Mas, quando olhamos para os números da votação final, aparece uma história familiar. Tomemos Demings, por exemplo, uma antiga agente responsável pela aplicação da lei (ela foi chefe da polícia de Orlando) que, no entanto, não recebeu os grandes endossos de oficiais da lei. Rubio conseguiu, embora nunca tenha usado um distintivo.

    Foi um sinal vermelho para mim, pois mostrou o quanto gênero e raça ainda importam nas mentes dos eleitores masculinos e nos corretores de poder da minha geração e entre os mais velhos. Para as mulheres negras, um duplo fardo tanto da raça como do gênero estão em jogo. É a história incômoda de nossas vidas.

    Manifestanes a favor e contra o aborto protestam do lado de fora da Suprema Corte dos EUA / 01/11/2021 REUTERS/Evelyn Hockstein

    Quanto a Abrams, acho que Kemp foi ajudado pelo afastamento de Trump e pela modulação da sua mensagem de campanha para apelar às mulheres suburbanas e aos independentes.

    Abrams, entretanto, apenas não teve o mesmo apoio e entusiasmo desta vez em torno de sua candidatura. Isso é lamentável, mas o fato de ela perder por uma margem tão grande diz muito mais.

    No final das contas, essas três mulheres não têm nada a lamentar. Eles executaram grandes campanhas, e criaram grandes plataformas futuras para si. E cada uma delas colocou mais uma fenda no teto de vidro em busca de um lugar nas mansões do Senado e dos governos dos EUA.

    Sophia A. Nelson é jornalista e autora do novo livro “Be the One You Need: 21 Life Lessons I Learned Taking Care of Everyone but Me.

    Isabelle Schindler – Em Michigan, os direitos ao aborto fizeram a diferença

    A fila de estudantes que se inscreveu para votar no dia das eleições se estendeu pelo campus da Universidade de Michigan, com estudantes esperando mais de quatro horas para votar. Havia um sentimento palpável de emoção e urgência em torno da eleição no campus. Para muitos jovens, especialmente para as mulheres, havia uma questão motivadora na participação: o direito ao aborto.

    Um dos temas mais importantes e contenciosas nas urnas em Michigan foi a Proposta 3 (comumente conhecida como Prop 3) que codifica o direito ao aborto e outras liberdades reprodutivas, como o controle do nascimento, na Constituição do Estado do Michigan.

    Desde a derrubada decisão Roe contra Wade (que regula o aborto no país), muitos moradores do estado de Michigan temiam o retorno de uma lei de 1931 que proíbe o aborto, mesmo em casos de estupro e incesto, e que contém penalidades criminais pesadas para os provedores de aborto.

    Embora os tribunais tenham impedido que a antiga lei surtisse efeito, os eleitores queriam consagrar os direitos reprodutivos na Constituição do Estado e votaram esmagadoramente a favor da Prop 3, chegando à aprovação de 55%.

    É uma grande proeza dada a campanha coordenada contra a proposta. Tanto os grupos pró-vida como a Igreja Católica opuseram-se fortemente a ela, e muitos anúncios afirmaram que ela era “muito confusa e muito extrema”.

    A questão do aborto foi um importante ponto focal da campanha da governadora Gretchen Whitmer e o seu adversário republicano, Tudor Dixon. Os grupos pró-Whitmer destacaram sistematicamente o apoio de Dixon a uma proibição quase total do aborto e os seus comentários anteriores de que ter um bebê a partir de um estupro poderia ajudar uma vítima a se curar da violência.

    A vitória retumbante de Whitmer  no estado de Michigan deve-se, em parte, a uma reação contra as posições extremas de Dixon sobre a questão.

    Após a derrubada de Roe vs. Wade, muitos jovens se sentiram impotentes e desesperados sobre o futuro dos direitos ao aborto. No entanto, em vez de jogar a toalha, os eleitores do Michigan foram às urnas e apoiaram a governadora Whitmer e a Proposta 3, mostrando que o estado apoia a autonomia corporal e o direito de escolher.

    Isabelle Schindler é bolsista da Ford School of Public Policy da Universidade de Michigan. Ela é diretora de campo da College Democrats em seu campus e trabalhou como membro da UMICH para promover a votação.

    David Thornburgh – Os eleitores independentes foram cruciais na Pensilvânia

    As reflexões da manhã após o dia da eleição podem ser um pouco confusas: números mudando até tarde da noite, dados incompletos e uma narrativa ainda em formação. Ainda assim, como um observador eleitoral na Pensilvânia de longa data, vejo três conclusões claras:

    1) Os moradores da Pensilvânia (ou apenas PA) não aceitam candidatos antissistema extremistas. O candidato do Partido Republicano ao governo, Doug Mastriano, quebrou o molde de praticamente qualquer candidato estadual nas últimas décadas.

    Centro de votação em Harrisburg, na Pensilvânia / 8/11/2022 REUTERS/Mike Segar

    O estado que entregou vitórias para a centro-direita e centro-esquerda, como o meu pai, governador Dick Thornburgh, o senador Bob Casey e governador Tom Ridge, deu ao democrata Josh Shapiro uma vitória gigante de dois dígitos.

    2) “Você não é daqui e eu sou” e “Fique com o homem” provaram ser mensagens suficientemente poderosas para o democrata alternativo John Fetterman vencer a sua corrida ao Senado, embora por uma margem muito menor.

    Amplificado por mais de 300 milhões de dólares em despesas de campanha dos dois lados (a corrida ao Senado mais cara no país), os dois temas simples pegaram pela autenticidade peculiar e teimosa que faz parte do DNA político da Pensilvânia.

    3) Na terra do Independence Hall, os eleitores independentes fizeram uma diferença significativa. Praticamente todas as pesquisas desde o início de ambas as corridas mostraram os dois candidatos de partido com margens espelhadas entre os membros do seu próprio partido.

    Mais de 90% dos democratas disseram que votavam em Shapiro ou Fetterman e perto de 90% dos republicanos disseram o mesmo de Mastriano ou Oz. Os 20 a 30% dos eleitores da PA que se consideram eleitores independentes podem ter sido mais decisivos do que a maioria dos adivinhadoras imaginava.

    A maioria das pesquisas mostrou Shapiro e Fetterman com impressionantes líderes entre os eleitores independentes.

    Eles podem não ter sido os MESMOS eleitores: os apoiadores independentes de Shapiro podem ser antigos eleitores republicanos descontentes com Trump; os independentes de Fetterman podem ser jovens eleitores mobilizados pela questão dos direitos ao aborto (cerca de metade dos jovens eleitores são independentes a nível nacional).

    O significado crescente desse voto independente em eleições próximas pode aumentar a pressão sobre ambos os partidos para revogar primárias fechadas e assim permitir a penetração de independentes. Ambos partidos vão precisar de mais tempo e oportunidade para cortejá-los no futuro.

    Com a Flórida ficando ainda mais republicana, a Pensilvânia pode se tornar o maior e mais importante estado pêndulo do país: vale a pena ver enquanto nos movemos inexoravelmente para 2024.

    David Thornburgh é um líder cívico de Pensilvânia há muitos anos. Ex-CEO do Comitê dos Setenta, ele agora preside a iniciativa do grupo de votação da PA para revogar primárias fechadas. Ele é o segundo filho do ex-governador e do procurador-geral dos EUA Dick Thornburgh, republicano.

    (Publicado por Anna Gabriela Costa, da CNN)

    Tópicos