“Unicórnios” desaparecem com mercado de IPOs paralisado nos EUA
Só duas empresas abriram capital nas bolsas americanas em outubro, número mais baixo para o mês em 11 anos
Os “touros” de Wall Street podem ter voltado em outubro, já que os “ursos” parecem ter entrado em hibernação. Mas há outra fera, mesmo que mítica, que esteve praticamente ausente do mercado de ações durante todo o ano: os unicórnios.
Tem havido pouca demanda para empresas privadas fazerem suas estreias com ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês).
Só duas empresas abriram o capital nas bolsas americanas no mês passado. De acordo com dados da empresa de pesquisa de IPOs Renaissance Capital, esse foi o mês de outubro mais lento para o mercado de IPOs desde 2011.
Além disso, apenas 66 empresas abriram o capital até agora este ano, uma queda de mais de 80% em relação ao ano anterior.
Vários unicórnios – o apelido dado a startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais – teriam adiado os planos de abrir o capital neste ano. Muitos podem fazê-lo em 2023, se o mercado melhorar.
Essa lista supostamente inclui o serviço de compras de supermercado Instacart, o site de mídia social Reddit e a gigante de tecnologia financeira Stripe.
SPACs em queda
A demanda por empresas que se tornam públicas por meio de fusões com as chamadas “empresas de aquisição de propósito especial”, as SPACs, também implodiu. Apenas 82 empresas abriram capital por meio desse mecanismo até agora este ano, de acordo com a SPAC Research. É bem menos que as 613 de 2021.
Os problemas no mercado das SPACs são mais preocupantes porque, quando uma empresa abre o capital assim, normalmente tem cerca de 18 a 24 meses para encontrar uma parceira com a qual se fundir antes de ser legalmente forçada a liquidar e devolver o dinheiro aos investidores.
O líder em SPACs Chamath Palihapitiya foi forçado a fechar várias de suas empresas. Os investidores lendários Sam Zell e Bill Ackman também abandonaram as SPACs neste ano, depois de não conseguirem identificar uma startup viável para adquirir.
Ainda assim, há alguma esperança de que o mercado de IPOs tradicionais possa estar se recuperando lentamente.
Uma das duas companhias que abriram o capital em outubro foi a Mobileye, uma empresa de carros autônomos que pertencia à gigante dos chips Intel. A demanda foi forte pelas ações da Mobileye: as ações foram cotadas acima da faixa de oferta e subiram quase 40% no primeiro dia de negociação.
Possíveis IPOs represados
Isso mostra que ainda há demanda de investidores por empresas que estão em mercados dinâmicos e em rápido crescimento. Com isso em mente, outros unicórnios podem se tornar públicos em 2023 se a janela do IPO abrir novamente.
A corretora de criptomoedas FTX, a líder de produtos esportivos Fanatics, a proprietária do Fortnite, Epic Games, e o aplicativo de banco móvel Chime estão entre os principais candidatos a IPO em 2023, segundo analistas de Wall Street.
Mas os IPOs das duas startups mais valiosas do planeta parecem menos prováveis.
Uma delas, a ByteDance, proprietária do TikTok, pode valer US$ 140 bilhões, de acordo com a empresa de pesquisa CB Insights.
Uma listagem de suas ações, porém, pelo menos nos EUA, provavelmente não acontecerá tão cedo, dada a tensão econômica entre o governo de Joe Biden e a China em relação às restrições às exportações de semicondutores americanos.
As empresas chinesas podem optar por abrir o capital em Hong Kong ou em Xangai em vez de Nova York.
As companhias chinesas de capital aberto também têm sido submetidas a mais escrutínio pelos reguladores dos EUA este ano. A SEC, a comissão de valores imobiliários dos EUA, investigou o IPO do aplicativo de carona da China Didi, por exemplo.
O outro nome na lista é o da SpaceX. A empresa de exploração espacial liderada por Elon Musk vale US$ 127 bilhões, de acordo com a CB Insights. Musk, porém, praticamente descartou um IPO da empresa.
O CEO da Tesla e novo proprietário do Twitter sugeriu, por outro lado, que um IPO do negócio de internet via satélite da SpaceX, o Starlink, poderia ocorrer, mas não antes de 2025.
Portanto, investidores famintos pela a abertura de capital de algum novo megaunicórnio como a Uber, a fabricante de caminhões elétricos Rivian ou o Airbnb podem ter que esperar um pouco.