Opinião: Enquanto o inverno avança na Ucrânia, Putin tem uma nova tática de repressão
À medida que as forças ucranianas continuam seu avanço para recapturar a estrategicamente importante cidade de Kherson, a campanha militar russa mudou para privar os civis de eletricidade e calor
Com as noites chegando rapidamente à medida que o inverno se aproxima, as luzes estão se apagando em toda a Ucrânia.
Esta semana, a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk, chegou a alertar os cidadãos que fugiram do país quando a Rússia invadiu a não voltar para casa neste inverno, em meio a apagões causados por greves na rede elétrica.
“Precisamos sobreviver a este inverno”, disse ela, acrescentando que “[se as pessoas voltarem] a rede elétrica pode falhar”.
O racionamento de eletricidade tornou-se a nova realidade sombria da guerra, enquanto a Rússia tenta destruir a capacidade econômica da Ucrânia e forçar seus líderes à mesa de negociações.
A Rússia atacou a infraestrutura crítica da Ucrânia com uma enxurrada de mísseis e ataques de drones nas últimas semanas – 30% das usinas de energia do país foram destruídas, segundo o presidente Volodymyr Zelensky.
Seu ministro da Energia alertou que a Ucrânia pode precisar importar eletricidade para sobreviver ao inverno. Até recentemente, a Ucrânia exportava eletricidade para o mercado da União Europeia (UE).
Aumentando a pressão
O fraco desempenho do exército russo no campo de batalha, principalmente nos últimos meses, fez com que o presidente Vladimir Putin e seus generais mudassem de tática. À medida que as forças ucranianas continuam seu avanço para recapturar a estrategicamente importante cidade de Kherson, a campanha militar russa mudou para privar os civis de eletricidade e calor.
Enquanto os ucranianos estocam velas e lenha em preparação para quedas de energia em temperaturas de inverno que caem regularmente abaixo de -20 graus Celsius, os líderes ocidentais estão tendo que considerar o que podem fazer para evitar que Putin alveje civis ucranianos e crie um desastre humanitário.
Para os países europeus, há uma preocupação real de que a devastação da infraestrutura energética da Ucrânia possa colocar a economia de joelhos e aumentar drasticamente o número de refugiados que se dirigem para o oeste. Estima-se que 8 milhões de ucranianos tenham fugido para países da UE para escapar da guerra, de acordo com dados da Schengen Visa.
Putin está cada vez mais tendo que lutar a guerra por novos meios assimétricos porque o baixo desempenho do exército russo corre o risco de perder no campo de batalha se ficar ainda mais desmoralizado. A espetacular retirada das forças destacadas no nordeste da Ucrânia em setembro foi um indicador da fragilidade dos militares russos.
Por outro lado, o exército ucraniano continua a mostrar maior resiliência do que o Kremlin esperava. Os países ocidentais forneceram equipamentos e treinamento suficientes para montar uma contraofensiva séria e ameaçar retomar todo o território capturado desde o início da invasão em grande escala em fevereiro.
A recente mobilização da Rússia de cerca de 300.000 soldados parece caótica com relatos de que alguns foram enviados para o front sem equipamento adequado ou qualquer forma de reciclagem. Esses reforços rapidamente se tornarão um passivo em vez de um ativo se não estiverem motivados a lutar.
Para a população russa, a mobilização inicial significa que o conflito na Ucrânia não é mais uma abstração vista na televisão na forma de uma “operação militar especial”, como Putin continua chamando. Em vez disso, é uma guerra em que se espera que os russos comuns morram por razões que não são claras nem convincentes.
Energia como arma de guerra
A mudança de Moscou para as usinas de energia é uma clara violação do direito internacional humanitário. Seu objetivo é infligir sofrimento à população civil e persuadir os ucranianos de que o preço de continuar lutando é muito alto.
Nos primeiros meses da guerra, ataques com mísseis russos destruíram a maior refinaria de petróleo da Ucrânia e muitas de suas instalações de armazenamento de combustível. O objetivo era impedir o exército ucraniano de mover seus veículos. Apesar da interrupção inicial que levou à escassez de diesel e gasolina em Kiev e em outras grandes cidades, a Ucrânia encontrou suprimentos alternativos de vários países da UE que até agora se mantiveram firmes.
Ao mesmo tempo, os esforços de Putin para usar o gás como arma para persuadir os aliados europeus da Ucrânia a parar de apoiar o esforço de guerra fracassaram, apesar dos enormes custos de subsidiar alternativas caras aos suprimentos da Gazprom.
Fundamentalmente, a Alemanha, a maior economia europeia que importava 55% de seu gás da Rússia antes da guerra, agora tem gás suficiente armazenado de outras fontes para passar o inverno sem grandes interrupções.
Como o Ocidente deve responder
Para combater a última escalada de Putin, os governos europeus precisam estar prontos para aceitar mais refugiados no curto prazo. Ao mesmo tempo, os países da OTAN devem fornecer mais armamento para reforçar as defesas aéreas da Ucrânia, bem como fornecer os recursos para ajudar os engenheiros ucranianos a reparar os danos nas usinas de energia.
Putin está em uma corrida desesperada contra o tempo. Quanto mais a guerra durar, maior o risco de que as perdas econômicas e humanas da Rússia enfraqueçam seu controle do poder. O apoio à guerra está diminuindo e as sanções ocidentais sem precedentes estão cada vez mais cobrando seu preço.
China e Índia, aliados mais importantes da Rússia, também expressaram preocupação com as ações de Putin.
Enquanto Moscou tenta intimidar o Ocidente com a possibilidade de implantar uma arma nuclear na Ucrânia, escolheu uma estratégia convencional para tentar reverter sua sorte no campo de batalha.
Até agora, a Ucrânia lidou bem com os efeitos econômicos da guerra. Os serviços básicos, incluindo transporte e telecomunicações, continuaram e, apesar de uma desvalorização de 30%, a moeda não entrou em colapso.
No entanto, o déficit orçamentário do país está aumentando e deve chegar a US$ 40 bilhões até o final do ano, o equivalente a 30-40% do PIB.
Com a Rússia focada em destruir o setor de energia, a necessidade da Ucrânia de apoio macrofinanceiro de seus aliados ocidentais pode crescer dramaticamente.
O verdadeiro teste do compromisso ocidental com a Ucrânia está prestes a acontecer. Para a Ucrânia ser a vencedora desta guerra, os governos ocidentais vão precisar cavar muito mais fundo e fornecer ao país os recursos militares e financeiros necessários para continuar lutando.