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    Eleições 2022

    Sergio Vale: Tempos políticos difíceis à frente

    Independentemente de quem ganhar no dia 30 de outubro, a polarização crescente dos últimos anos vai se manter ativa.

    Sergio Vale

    A uma semana da eleição praticamente, a distância entre Lula e Bolsonaro diminui e isso significa, independentemente de quem ganhar, que a polarização crescente dos últimos anos vai se manter ativa. Mas há nuances a se observar que trazem riscos à esquerda para os próximos anos.

    Caso Lula vença, ele terá que mostrar um governo muito mais ao centro do que tem sinalizado em suas falas e vai ter que compor mais do que o PT gostaria. Isso será essencial para que consiga entregar uma política econômica razoável que consiga gerar crescimento econômico e atração política a centro esquerda nos próximos anos. Ainda não sabemos que caminho Lula tomará, pois não ficou claro seu projeto econômico para os próximos anos.

    No caso de Bolsonaro, um segundo mandato em geral vem com um presidente mais enfraquecido, como foi o caso de FHC e Dilma. O orçamento secreto promete embates entre a Justiça e o Congresso com possíveis casos de corrupção aparecendo e decisões contrárias ao Judiciário ocorrendo. Será difícil Bolsonaro se desvencilhar totalmente disso, mas se ocorrer algo mais grave, tem o potencial de paralisar ainda mais o Congresso.

    Bolsonaro seguirá com sua marcha autoritária, ganhando espaços no Congresso e avançando com sua pauta de costumes. Na economia, dado que o mundo estará em recessão, será um primeiro ano de entrega menor do que 2022 e ajustes que terão que ser feitos. O desgaste potencial de Bolsonaro está montado, mas não necessariamente garante uma virada para a esquerda em 2026.

    Salvo algo imprevisível ocorrendo no meio do caminho, a forte expansão dos evangélicos e uma consolidação do Auxílio Brasil no imaginário da população mais pobre poderá dar mais força à direita nos próximos anos. Diga-se de passagem que, não fosse Lula, é muito provável que Bolsonaro ganhasse essa eleição com mais facilidade do que está sendo.

    O grande problema no governo Bolsonaro é que seguirá um fortalecimento político do Legislativo em detrimento do Executivo e o balanço dos três poderes estará cada vez mais em desequilíbrio. Em um regime presidencialista como o nosso, ficar com a indefinição de governança entre Executivo e Legislativo não é positivo para um próximo presidente que tenha mais consciência do papel de presidente. Bolsonaro se sente confortável em ter terceirizado o governo para o Congresso, mas não me parece que será o caso no futuro de qualquer outro presidente. Bolsonaro segue sendo atípico até neste quesito.

    De qualquer maneira, a relação entre Congresso e Executivo terá que ser rediscutida, com Lula já começando agora e com Bolsonaro tendo que esperar um próximo presidente. Dado que vários partidos do Congresso que agora lideram o governo foram partícipes dos escândalos de corrupção recente, seja o Mensalão, seja o Petrolão, podemos ter tempos difíceis com um Congresso paralisado e um Executivo inoperante.

    Pensando nas reformas necessárias, estamos fadados a um período difícil, com avanços muito restritos nos que precisaremos e, consequentemente, baixa capacidade de crescimento.

    Estabilidade política faz parte de qualquer cenário de crescimento futuro e parece que poderemos entrar em novo ciclo desestabilizante à frente. Será mais uma oportunidade perdida em um mundo que cada vez mais vai depender de nosso conhecimento em energia renovável e de nossas commodities. Mas o Brasil é campeão em perder oportunidades, como mostra nossa história.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

    Fotos – Os apoios a Lula e Bolsonaro no segundo turno

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