Primeiro-ministro do Japão ordena investigação sobre Igreja da Unificação
Escândalo crescente liga o Partido Liberal Democrata ao controverso grupo religioso; governo convocará reunião na próxima semana para examinar as condições do inquérito
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ordenou uma investigação sobre a Igreja da Unificação em meio a um escândalo crescente que liga seu Partido Liberal Democrata (LDP, em inglês) ao controverso grupo religioso.
Kishida anunciou a investigação durante uma sessão parlamentar na segunda-feira (17) e disse que seria realizada usando “o direito de fazer perguntas” da Lei das Corporações Religiosas.
Em 30 de setembro, Kishida afirmou que uma linha direta de telefone estabelecida no início daquele mês havia recebido mais de 1.700 pedidos de consulta sobre a igreja.
O governo “levou seriamente em consideração as muitas vítimas, a pobreza e as famílias desfeitas que não receberam ajuda adequada”, disse ele. Ele acrescentou que era difícil dizer quando a investigação terminaria.
O governo convocará uma reunião na próxima semana para examinar as condições do inquérito, o primeiro estabelecido sob o “direito de fazer perguntas”.
A Igreja da Unificação, formalmente conhecida como Federação das Famílias para a Paz e Unificação Mundial, ganhou destaque no final da década de 1950 e tornou-se uma organização global na década de 1980. Continua a ser manchete internacional por seus casamentos em massa, nos quais milhares de jovens casais se casam ao mesmo tempo, com algumas noivas e noivos se encontrando pela primeira vez no dia do casamento.
A igreja, que ainda é proeminente em partes da Ásia, está sob maior escrutínio global desde que o ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi assassinado no centro do Japão em julho.
A emissora pública japonesa NHK informou na época que o suspeito tinha como alvo o ex-primeiro-ministro porque acreditava que o avô de Abe – outro ex-líder do país – havia ajudado a expansão de um grupo religioso contra o qual ele guardava rancor.
A CNN não conseguiu confirmar de forma independente a que grupo Yamagami estava se referindo, ou quaisquer ligações entre Abe e qualquer grupo contra o qual o suspeito nutria ódio.
Mas a Igreja da Unificação se manifestou depois, dizendo que a mãe do suspeito era um membro que participava de seus eventos cerca de uma vez por mês. Um porta-voz disse que soube que a mãe do suspeito estava passando por dificuldades financeiras por volta de 2002, mas acrescentou: “Não sabemos quais foram as causas ou como afetaram as circunstâncias familiares”.
O próprio suspeito nunca foi membro da igreja, disse o porta-voz.
A igreja disse que recebeu uma mensagem de apoio de Abe em um evento que organizou, mas que o ex-primeiro-ministro não era um membro registrado da igreja, nem fazia parte de seu conselho consultivo. Acrescentou que estava intrigado com relatos de suposto ressentimento contra o grupo pelo suspeito e que “cooperaria totalmente” com a polícia.
Mas a suspeita pública em relação ao grupo – e uma reação contra suas práticas de arrecadação de fundos – continua a aumentar depois que uma investigação em agosto pelo LDP do Japão descobriu que mais da metade de seus legisladores tinha laços com a Igreja.
Vários funcionários de alto escalão, incluindo o ex-ministro da Defesa Nobuo Kishi, disseram que receberam ajuda em eleições anteriores de membros da Igreja.
Kishida expurgou essas autoridades e pediu desculpas por suas ligações com a igreja, prometendo cortar os laços de seu partido com o grupo.
Dependendo do resultado da investigação iminente e de um julgamento do tribunal, a Igreja da Unificação pode perder seu status de corporação religiosa e benefícios fiscais subsequentes, informou a NHK na segunda-feira. O grupo, no entanto, ainda poderia operar como uma entidade.