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    Mercado de carbono e financiamento climático devem ser principais temas da COP27

    Brasil terá importante papel sobre as contribuições do agronegócio para mitigar mudanças climáticas

    Pedro Zanattado CNN Brasil Business , em São Paulo

    Nesta semana terá início a 27ª edição da Conferência das Partes (COP, na sigla em inglês para Conference of the Parties), organizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e que busca discutir soluções e planos para os principais desafios climáticos globais. Neste ano, o evento ocorre entre os dias 6 e 18 de novembro em Sharm El Sheikh, no Egito.

    A edição faz parte das negociações entre os 197 países signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), que viabiliza a elaboração anual das COPs desde 1995.

    Na conferência, os países reúnem-se com o propósito de debater a redução de emissão de gases poluentes na atmosfera, embasados nos mais recentes dados científicos que monitoram os impactos atuais e futuros do aquecimento global. Sendo assim, muitas propostas discutidas estão relacionadas com mudanças em modelos e políticas econômicas para reduzir os impactos ambientais.

    Em 2021, a conferência avançou em importantes aspectos para limitar o aquecimento global em 1,5°C. O CNN Brasil Business antecipa os principais temas relacionados à economia que devem estar em pauta em 2022 e relembra as soluções acordadas na edição anterior.

    O que esperar da COP27

    Em relatório, a XP aponta que esta edição da COP deve colocar em evidência temas como o financiamento climático, mercado de carbono e obstáculos geopolíticos.

    Sobre o financiamento climático, a pauta se volta à meta de US$ 100 bilhões em financiamento às nações em desenvolvimento que até o momento não foi cumprida e pode ser prejudicada por conta do atual contexto geopolítico.

    Segundo o relatório, a falta dos repasses alimentou a lacuna de credibilidade e dificultou a capacidade desses países de planejar novas ações climáticas.

    Marcella Ungaretti, head de Research ESG da XP, diz que o financiamento deve ser discutido, principalmente, “para mitigação, adaptação e perda e danos”.

    “O que agora é necessário na COP27 são metas claras de financiamento para mitigação, adaptação e perdas e danos, que devem ser complementadas por um plano de entrega dos países desenvolvidos para aumentar a transparência e acessibilidade dos valores financiados, sendo este um tema-chave”.

    Além disso, também são esperadas definições sobre o mercado de crédito de carbono, outro tema que foi destaque em 2021 e deve permanecer nesta edição. Uma das maiores conquistas da COP26 foi a criação de regras básicas para definir como os créditos de carbono podem ajudar os países a cumprir seus planos de mitigação das mudanças climáticas .

    Enquanto em Glasgow os negociadores concordaram com os princípios, agora, no Egito, espera-se que seja definido uma regulamentação desse mercado e seus mecanismos.

    Por fim, as mudanças e consequências causadas até aqui pelo conflito entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu farão parte das conversas na conferência, uma vez que muitos dos planos de países europeus voltados à pauta climática devem sofrer paralisações ou um aumento de prazos para a conclusão.

    “O complexo clima geopolítico pode parecer um impedimento para o progresso na COP27, mas também o vemos como uma oportunidade de nova colaboração. Neste ano, os países terão uma nova oportunidade de mostrar seu progresso climático, bem como assumir novos compromissos para um bem comum, e pretendemos monitorar de perto os desdobramentos”, avalia Ungaretti.

    Já professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Vinícius Vieira tem uma avaliação menos otimista para a capacidade e perspectiva de colaboração entre os países da Europa nesta redução.

    “Nós temos como principal preocupação o que se passa na Europa. Estará no começo da estação mais fria e com dificuldades para obtenção de energia por conta da guerra. As questões [ambientais] ficam em segundo plano, uma vez que o principal é resolver a situação politica. A Europa tem a pauta verde mas, agora, com custos [de vida] mais elevados e a Rússia bloqueando a transferência de commodities e energia, ela perde força no curto prazo”, disse.

    Vieira cita o exemplo da Alemanha, onde o chanceler, Olaf Scholz, ordenou que os ministros se preparem para manter todos as três usinas nucleares restantes do país em funcionamento até meados de abril para afastar uma possível crise de energia.

    Foco brasileiro

    Na avaliação de especialistas, neste ano, grande parte da agenda brasileira deve se voltar sobre o mercado de crédito de carbono e as contribuições do agronegócio para mitigar as mudanças climáticas.

    Segundo o professor de relações internacionais da ESPM Leonardo Trevisan, no plano nacional, o Brasil deve se projetar visando o mercado global de crédito de carbono. Um estudo do ICC Brasil, braço da International Chamber of Commerce no país, mostrou que o mercado de carbono pode trazer receitas de até US$ 100 bilhões ao país.

    “Este mercado pode gerar cerca de US$ 100 bilhões. O Brasil tem em torno de 65% de energia renovável, muitas empresas e bancos estão interessados, até pela pauta ESG estar em alta”.

    Já no cenário externo, Trevisan menciona que um dos principais temas que devem aparecer diz respeito à mudança do modal energético dos países da Europa afetados pela guerra na Ucrânia.

    Segundo o especialista, o conflito e o corte do fornecimento de gás e combustíveis por parte da Rússia para países da União Europeia fez com que muitos territórios do bloco colocassem um “pé no freio” nas mudanças para uma matriz energética mais sustentável.

    O agronegócio, sendo um dos principais setores responsáveis pelo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, também será largamente debatido.

    Em meados de outubro, a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) entregou ao governo brasileiro um documento em que destaca os cinco temas imprescindíveis para o país apresentar na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-27).

    A CNA destaca a “complexa missão de impulsionar a adoção das medidas que permitam reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEEs), alinhadas com os desafios e necessidades de cada país ilustrados por suas contribuições nacionalmente determinadas (NDC), e favorecer medidas de adaptação que permitam com que cada país reduza impactos dos extremos climáticos”.

    Os temas listados no documento são:

    • Nova meta quantificada de financiamento climático;
    • Mecanismos focados em adaptação;
    • Adoção do plano de ação para agricultura, resultado das negociações de Koronívia;
    • Operacionalização dos mecanismos de mercado de carbono;
    • Recomendações de ordem geral aos negociadores brasileiros.

    Para Vinícius Vieira, é essencial que o agronegócio se coloque a frente no debate sobre alternativas para alcançar maior sustentabilidade, no entanto, o especialista lembra que para desenvolver soluções desse tipo é preciso investimento em tecnologia. Uma vez que esse tipo de investimento é considerado de risco, o especialista explica que o contexto geopolítico atrapalha nesse tipo de iniciativa, já que os investidores preferem ações mais conservadoras.

    “Em linhas gerais, a entidade ela indica que temos no agronegócio um papel fundamental para a questão climática. Mas eles colocam que é necessário financiamento e, para ter tecnologias mais avançadas, precisamos de capital de risco e o mundo está em uma situação delicada para ter esse capital de risco e financiar projetos focados na mitigação das mudanças climáticas”.

    Além disso, de maneira geral, os especialistas comentam que o Brasil deve se colocar como nação preferencial para investimentos internacionais pelas condições que possui de produzir energia de forma verde e sustentável.

    Resultados da COP26

    No ano passado, a conferência reuniu cerca de 197 líderes mundiais e alcançou alguns resultados importantes. O primeiro deles foi o compromisso dos países desenvolvidos de cumprir a promessa de US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático aos países em desenvolvimento mais afetados pela crise climática.

    Além disso, houve a aprovação do emblemático Artigo 6 do Acordo de Paris, definindo a criação das diretrizes básicas para o comércio entre países e agentes privados no mercado regulado de carbono, embora ainda tenham pontos importantes a serem fechados.

    Por fim, o evento culminou na elaboração do 1° pacto climático internacional que referencia os combustíveis fósseis e aborda limites ao uso do carvão, em que os países concordaram em “reduzir gradualmente” o uso do mesmo e “eliminar gradualmente” os subsídios aos combustíveis fósseis.

    Apesar de a China, Índia e Estados Unidos serem os maiores emissores de carvão do mundo, os três países não entraram na aliança. O carvão abastece mais de 1/3 da energia consumida em todo o mundo e é o maior contribuinte para as mudanças climáticas.

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