FMI eleva em 1,1 ponto perspectiva do PIB brasileiro em 2022, para alta de 2,8%
Fundo passou a ver expansão do Produto Interno Bruto do Brasil em 2022 de 2,8%, 1,1 ponto percentual acima da estimativa anterior, feita em julho
O Fundo Monetário Internacional passou a ver crescimento bem mais forte do Brasil este ano, em linha com a tendência para a América Latina e Caribe, refletindo uma atividade mais forte do que o esperado no primeiro semestre.
Em seu relatório Perspectiva Econômica Global, divulgado nesta terça-feira, o Fundo passou a ver expansão do Produto Interno Bruto do Brasil em 2022 de 2,8%, 1,1 ponto percentual acima da estimativa anterior, feita em julho.
Para 2023, entretanto, a atividade deve registrar forte desaceleração, com crescimento de apenas 1,0%, de acordo com o FMI, que fez um ajuste de 0,1 ponto para baixo em sua estimativa para o ano.
Os novos números são parecidos com aqueles projetados pelo Banco Central, que vê expansão de 2,7% do PIB este ano e de 1,0% no próximo. O Ministério da Economia também prevê expansão de 2,7% para o PIB em 2022, mas é bem mais otimista para 2023, enxergando uma alta de 2,5%.
A mudança para o Brasil no relatório do FMI veio em linha com revisões para a região da América Latina e Caribe, cuja estimativa de crescimento em 2022 melhorou em 0,5 ponto, para 3,5%. Para 2023, a estimativa é de expansão de 1,7%, 0,3 ponto a menos do que no relatório anterior.
A atividade melhor do que o esperado no primeiro semestre para a região deve-se, segundo o FMI, a “preços favoráveis de commodities, condições de financiamento externo ainda favoráveis e a normalização das atividades em setores dependentes de contato”.
O FMI alertou, no entanto, que o crescimento na região deve desacelerar no final de 2022 e 2023 diante do enfraquecimento de parceiros comerciais, aperto das condições financeiras e alívio nos preços de commodities.
Para o grupo de mercados emergentes e economias em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte, o FMI elevou a estimativa de crescimento este ano em 0,1 ponto e baixou a do próximo em 0,2 ponto, a 3,7% em ambos os casos.
“O ambiente externo já é bastante desafiador para muitos mercados emergentes e economias em desenvolvimento. A forte apreciação do dólar amplia de forma significativa as pressões domésticas de preços e a crise do custo de vida para esses países”, alertou o FMI.
O Fundo destacou ainda que os fluxos de capital não se recuperaram, e que muitas economias de baixa renda e em desenvolvimento continuam com problemas de dívida.
“Os choques de 2022 vão reabrir feridas econômicas que haviam sido apenas parcialmente cicatrizadas após a pandemia”, completou.
O FMI destacou que revisões negativas foram mais pronunciadas para economias avançadas do que para emergentes e em desenvolvimento, ampliando a divergência em relação ao crescimento.
“Em resumo, o pior ainda está por vir, e para muitas pessoas 2023 irá se parecer com uma recessão”, afirmou.
Inflação brasileira
O FMI também destacou o cenário inflacionário em seu relatório, lembrando que a alta dos preços disparou para os maiores patamares em várias décadas no mundo, provocando aperto da política monetária e dos orçamentos das famílias, bem no momento em que diminui o apoio fiscal relacionado à pandemia.
Para o mercado emergente e economias em desenvolvimento, a inflação deve subir de 5,9% em 2021 para 9,9% em 2022 e desacelerar a 8,1% em 2023.
A inflação ao consumidor no Brasil, conforme calculada pelo FMI para o final de período, deve ficar em 6,0% este ano e 4,7% em 2023.
Especialistas consultados pelo Banco Central projetam um IPCA de 5,71% para este ano e de 5% para 2023.
Economia global
O FMI cortou sua previsão de crescimento global para 2023 em meio a pressões conflitantes da guerra na Ucrânia, preços altos de energia e alimentos, inflação e taxas de juros acentuadamente mais altas, alertando que as condições podem piorar significativamente no próximo ano.
O Fundo disse que suas mais recentes previsões do Relatório Perspectiva Econômica Global mostram que um terço da economia mundial provavelmente contrairá no próximo ano, marcando um início preocupante para as primeiras reuniões anuais presenciais do FMI e do Banco Mundial em três anos.
“As três maiores economias, Estados Unidos, China e zona do euro, continuarão estagnadas”, disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, em comunicado. “Em suma, o pior ainda está por vir e, para muitas pessoas, 2023 parecerá uma recessão”.
O FMI disse que o crescimento do PIB global no próximo ano desacelerará para 2,7%, em comparação com uma previsão de 2,9% feita em julho, à medida que as taxas de juros mais altas desaceleram a economia dos EUA, a Europa luta com os preços do gás em alta e a China enfrenta os bloqueios contínuos contra a Covid-19 e um enfraquecimento setor imobiliário.
O Fundo mantém sua previsão de crescimento para 2022 em 3,2%, refletindo uma produção mais forte do que o esperado na Europa, mas um desempenho mais fraco nos Estados Unidos, após um tórrido crescimento global de 6,0% em 2021.
O crescimento dos EUA este ano será de apenas 1,6% – um rebaixamento de 0,7 ponto percentual em relação a julho, refletindo uma inesperada contração do PIB no segundo trimestre. O FMI manteve sua previsão de crescimento dos EUA para 2023 em 1,0%.
Inflação global é prioridade
O FMI disse que sua perspectiva está sujeita a um delicado ato de equilíbrio dos bancos centrais para combater a inflação sem apertar demais, o que pode levar a economia global a uma “recessão desnecessariamente severa” e causar interrupções nos mercados financeiros e dor para os países em desenvolvimento. Mas apontou diretamente para o controle da inflação como a maior prioridade.
“A credibilidade duramente conquistada dos bancos centrais pode ser prejudicada se eles julgarem mal novamente a persistência teimosa da inflação”, disse Gourinchas. “Isso seria muito mais prejudicial para a futura estabilidade macroeconômica.”
O Fundo prevê que a inflação dos preços ao consumidor atingirá um pico de 9,5% no terceiro trimestre de 2022, caindo para 4,7% no quarto trimestre de 2023.
Uma “combinação plausível de choques”, incluindo aumento de 30% nos preços do petróleo em relação aos níveis atuais, pode prejudicar consideravelmente as perspectivas, disse o FMI, empurrando o crescimento global para 1,0% no próximo ano – um nível associado à queda ampla da renda real.
Outros componentes deste “cenário negativo” incluem uma queda acentuada no investimento no setor imobiliário chinês, forte aperto das condições financeiras causado por depreciações cambiais de mercados emergentes e mercados de trabalho permanecendo superaquecidos, resultando em menor produção potencial.
O FMI calculou uma probabilidade de 25% de o crescimento global cair abaixo de 2% no próximo ano – um fenômeno que ocorreu apenas cinco vezes desde 1970 – e disse que há mais de 10% de chance de uma contração do PIB global.