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    Azul prevê chegar a 200 cidades em 2023, deve quadruplicar em Congonhas

    Embora seja a maior companhia aérea do país, segundo dados da Anac, a Azul detém apenas 26 autorizações para voos e decolagens em Congonhas

    Por Aluisio Alves, da Reuters

    A Azul prevê uma ampliação de cerca de 30% de suas rotas em 2023, apoiada em parte com a conquista de um número significativo de slots no aeroporto paulistano de Congonhas, disse o presidente-executivo da companhia aérea, John Rodgerson.

    “Devemos crescer bem em Congonhas a partir do ano que vem”, disse Rodgerson em entrevista à Reuters na matriz da companhia em Alphaville, São Paulo.

    Embora seja a maior companhia aérea do país, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a Azul detém apenas 26 autorizações para voos e decolagens (slots) em Congonhas, enquanto suas rivais — Gol e Latam — têm quase de 250 cada. Há anos, a companhia pleiteia para receber um número maior de licenças no terminal.

    “A nova regra é mais justa”, disse o executivo.

    Mudanças aprovadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) em julho incluem distribuição dos 86 slots no aeroporto de Congonhas para incentivar a competição, sendo 45 novos e 41 antes detidos pela antiga Avianca Brasil.

    Em relatório do mês passado, o Bradesco BBI estimou que 84 das licenças vão para a Azul. Isso significa que a capacidade da companhia no terminal vai mais do que quadruplicar a partir de 2023.

    O acréscimo de capacidade da Azul em Congonhas reflete em parte o esforço do governo federal para ampliar a quantidade de voos no terminal, aumentando assim as receitas que deve receber da operação por um ente privado, após a espanhola Aena ter vencido o leilão pela concessão do aeroporto no mês passado.

    Rodgerson evitou citar números, mas disse que a Azul, que receberá um avião novo da Embraer a cada dois meses nos próximos anos, passará a vender passagens oriundas dos novos slots em março.

    Segundo o executivo, os novos slots vão ajudar a Azul nos planos de elevar o total de destinos atendidos no Brasil em 2023, das atuais 154 para 200 cidades, com foco em regiões de alto crescimento econômico, no Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. A frota atual da companhia é composta por 164 aeronaves.

    Os planos revelam como a Azul planeja capitalizar a gradual recuperação do setor aéreo do país dos efeitos da pandemia da Covid-19, que praticamente congelaram os voos por vários meses, deixando como consequência um amontoado de dívidas bilionárias.

    Do fim de 2019, antes da pandemia, até junho passado, a relação dívida líquida/Ebitda de Azul subiu de 2,7 para 6,2 vezes, a R$ 16,9 bilhões.

    Com maior foco na operação doméstica, a Azul vem se recuperando mais rapidamente do que suas rivais e tem se valido do crescimento melhor do que o esperado da economia do país em 2022 para acelerar as receitas, mais do que dobrando em relação ao ano passado, para R$ 16 bilhões, disse Rodgerson.

    “Tivemos recorde de vendas em setembro e neste mês devemos alcançar a marca de mil voos diários”, afirmou o executivo. O número é cerca de 10% maior do que no fim de 2019.

    “Vamos bater recorde de yield (receita por quilômetro voado) no quarto trimestre”, adicionou o presidente da Azul, explicando que, apesar da combinação de juros e inflação altos nos últimos meses, ainda há uma forte demanda reprimida por voos no país.

    Na frente internacional, o executivo disse que a Azul não pretende renovar um acordo de codeshare com a United Airlines, que venceu recentemente. Segundo ele, a companhia brasileira quer ter maior flexiblidade para acordos com outras aéreas norte-americanas que tenham uma operação mais robusta a partir da Flórida, como a JetBlue.

    Combustível de aviação

    Rodgerson estima que o aumento da ofertas de voos deve ajudar a reduzir preços das passagens aéreas, um dos produtos que mais têm pressionado a inflação no país, com alta de 75% em 12 meses até agosto, enquanto a inflação pelo IPCA subiu 8,73%.

    Essa evolução espelha sobretudo o salto de aproximadamente 170% do preço do querosene de aviação nos últimos três anos, na esteira da escalada do petróleo e do dólar.

    Segundo o executivo, o maior problema é a estrutura de custos usada pela Petrobras, responsável por cerca de 90% do QAV usado no país, que reflete variação dos preços internacionais do produto, variação cambial e custo do transporte do combustível.

    “Mas se é produzido aqui, não faz sentido cobrar pelo custo do transporte do combustível”, argumentou Rodgerson.

    Em outra frente, o presidente da Azul disse estar otimista com a possibilidade de conseguir gradual redução da alíquota de ICMS sobre QAV em novos Estados, a exemplo do que aconteceu em São Paulo, onde caiu de 25% para 12% até 2020, quando foi elevada para 13,3%. O setor tenta renovar a alíquota de 12% por mais quatro anos.

    Vai voar?

    Rodgerson disse que a multiplicação de destinos atendidos no Brasil abrirá uma nova fase de crescimento para a Azul, processo no qual ele vai se concentrar nos próximos anos.

    Nesta semana, a empresa surpreendeu o mercado ao anunciar a nomeação do vice-presidente de receitas, Abhi Shah, como presidente da Azul, reportando-se a Rodgerson, que segue como CEO.

    O executivo explicou que a mudança foi para tornar a administração da companhia mais parecida com o que já acontece em grandes companhias aéreas dos Estados Unidos, tirando do CEO (presidente-executivo) o envolvimento direto em algumas obrigações cotidianas da gestão, e liberando-o para cuidar de estratégia.

    “Eu não vou embora daqui”, disse Rodgerson.

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