Pesquisas eleitorais também erraram previsões nas últimas duas eleições nos EUA
Levantamentos nos Estados Unidos cometeram equívocos em 2016 ao não conseguir apontar a vitória de Donald Trump
As pesquisas de intenção de votos erram. No Brasil e no mundo. Nos últimos anos, talvez com um pouco mais de frequência. Nos Estados Unidos, não conseguiram apontar a vitória de Donald Trump à presidência em 2016 e não indicaram a votação correta que ele teria quatro anos depois, quando perdeu para Joe Biden. As mudanças e ajustes feitos entre as duas eleições ainda não foram suficientes.
Tom Malloy é analista de dados das pesquisas feitas pela Quinnipiac, a universidade do estado de Connecticut que faz pesquisas eleitorais respeitadas em todo o país. Eles também erraram em 2016. Não previram a vitória de Trump, da mesma maneira que Ronald Reagan foi bem melhor nas urnas do que nas enquetes. Mas no caso de Trump, 1 em cada 10 pessoas que a instituição entrevistou se recusaram a dizer em quem votariam.
Malloy diz que hoje está difícil acertar as previsões e que ele, depois de passar pela guerra do Vietnã, pelo movimento de direitos civis e por tantos momentos históricos marcantes, nunca viu o país em uma situação tão polarizada como se vê hoje. “É um mundo muito diferente, com muita desconfiança, medo”, afirma. Ele acredita que muitas pessoas temem que a opinião delas fique registrada em algum lugar, seja usada de alguma maneira.
Brian Winter foi Correspondente da agência de notícias Reuters no Brasil de 2010 a 2015. Hoje é brasilianista e editor-chefe da revista Americas Quarterly. Quando o resultado oficial do primeiro turno foi divulgado, ele ficou impressionado com a diferença entre as pesquisas e o número final. A distância entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que era de 15 pontos percentuais nas pesquisas, caiu para 5. Frustrado, ele chegou a dizer nas mídias sociais que não comentaria mais resultado algum de pesquisa até o fim das eleições.
“Tem algo aí que precisa ser consertado”, afirmou.
Winter esteve no Brasil três semanas antes do pleito e ouviu do diretor de uma importante empresa de pesquisas que ele próprio estava intrigado. Achava que a diferença entre os dois candidatos era metade do que a pesquisa dele próprio apontava. Para esse diretor, muitos eleitores estavam mentindo a respeito de suas intenções. Especialmente para os grandes institutos. Os mais respeitados.
Essa desconfiança com relação às grandes empresas e o medo de revelar o voto não acontecem somente no Brasil. “É uma história que tem se repetido em vários países do mundo”, diz Winter. Ele cita os casos do Brexit, na Grã-Bretanha, mas lembra que, no Brasil, o Censo de 2020 não foi realizado, o que dificultou muito o trabalho das empresas de pesquisa. Elas ficaram sem parâmetro confiável para estimar o tamanho de vários grupos e comunidades.
Como nos Estados Unidos e no Brasil as pesquisas subestimaram os votos do candidato mais conservador, Brian Winter fez questão de ressaltar que a posição política não é o problema. O que pesa é o eleitor achar que o sistema está contra ele, por algum motivo. Por isso ele citou o caso da Argentina, em 2018.
“O Maurício Macri ainda era presidente. Houve a chamada primária, que é quase um teste da eleição. As pesquisas estavam muito erradas. Elas davam uma vantagem para o Macri, mas o Alberto Fernández levou as primárias e acabou ganhando a eleição presidencial. Foi o mesmo fenômeno, mas do outro lado do espectro político, com eleitores de esquerda que que temiam ou achavam que o sistema era mais de direita e não queriam admitir seu voto”.
Brian Winter destaca que, acima de tudo, as pesquisas não são ciências exatas. Não são como as fórmulas de física e química porque tentam retratar o comportamento humano sempre um tanto imprevisível.