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    Eleições 2022

    Fernando Molica: votação de Bolsonaro e eleição de deputados e senadores do PL consolidam direita

    Primeiro turno mostra que guinada à direita não ficou restrita a 2018

    Fernando Molicada CNN

    O resultado do primeiro turno das eleições mostra que a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 não ocorreu apenas graças a uma confluência de fatores como os ecos das manifestações de 2013/2014, Lava Jato, crise econômica, impeachment de Dilma Rousseff e popularização de redes sociais.

    Toda a confusão da época dificultava a percepção do nascimento de uma força até então pouco considerada. Os 43,20% de votos em Bolsonaro e a eleição de oito senadores e de, pelo menos, 98 deputados federais pelo PL revelam que a direita brasileira encontrou um jeito de expressar de maneira organizada na política.

    É um rosto radical, na prática menos identificado com o liberalismo econômico e comportamental adotado em outros países e mais ligado ao extremismo conservador de Donald Trump, uma direita ainda presa ao fisiologismo que marca do PL de Valdemar Costa Neto – mas, enfim, há uma cara.

    Passada a ditadura, a direita sequer tinha coragem de dizer o próprio nome por temer óbvias associações com o período militar. Após o acidente de percurso personificado por Fernando Collor de Mello, o viés mais conservador da política brasileira aliou-se a um PSDB que então tentava justificar a social democracia presente em sua sigla e que encontrou no então PFL um fiador para os planos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso.

    O isolamento e falta de representatividade da direita ficariam evidentes na eleição presidencial de 2002. Os quatro principais candidatos – Lula (PT), José Serra (PSDB), Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) – apresentavam propostas identificadas com a centro esquerda.

    Naquele ano, a centro direita conseguiria marcar presença apenas em vagas de candidatos ao cargo de vice-presidente – entraram no jogo o PL, PMDB e PTB . Nem os nanicos eram de direita – a lista de presidenciáveis tinha mais dois representantes, ambos de partidos de esquerda radical, PSTU e PCO. A hegemonia petista nesta e nas eleições seguintes colaboraria para manter os conservadores alijados do núcleo de poder.

    Mas a campanha de Bolsonaro em 2018 revelaria a existência de um país que até então evitava se manifestar em voz alta. Deu protagonismo a brasileiros que defendiam a ação indiscriminada da polícia, não aceitavam casamentos homoafetivos, discordavam da demarcação de terras indígenas, eram contra cotas em universidades, e que achavam que todos os políticos eram ladrões – menos um.

    Brasileiros que se sentiam oprimidos pelo que então se chamava de politicamente correto e que não se identificavam com partidos de centro direita que ensaiavam uma adesão à pauta liberal, como o DEM de Rodrigo Maia, o PSDB reformatado por João Doria e o Novo que ensaiava seus primeiros passos.

    A identificação com Bolsonaro surgiu a partir da chamada pauta de costumes; a exemplo do que ocorreu com o próprio candidato, a adesão às teses econômicas liberais viria depois. Uma conversão tardia e capenga mas que se encaixaria com perfeição ao discurso meritocrático da maioria das igrejas pentecostais: no lugar da socializante Teologia da Libertação católica – decisiva na formação do PT -, entraria a Teologia da Prosperidade, lógica baseada no esforço individual, na riqueza que vem do esforço e que representa uma benção divina.

    Pouco importa que o PL seja um ex-aliado do PT, que o partido seja comandado por um condenado no Mensalão, que o liberalismo de Bolsonaro seja contaminado por intervenções estatais como no caso dos combustíveis, que ninguém ouse mais gritar ‘Pega Centrão’, que o outrora satanizado toma lá-dá cá da política tenha ganhado a forma da boa nova do orçamento secreto, que suspeitas de corrupção se espalhem pela Esplanada dos Ministérios e se materializem em imóveis comprados em dinheiro vivo.

    Os pecados do bolsonarismo e do PL são relevados em troca da promessa de restauração de uma ordem que se considerava perdida para o gigante Golias do petismo, monstro associado à corrupção e à degradação dos costumes. Os novos davis da política mostraram que pretendem ocupar seu lugar na arena política – gostaram de comer o fruto do poder, e descobriram que antes de Bolsonaro é que andavam nus.

    Este texto não representa, necessariamente, a opinião da CNN Brasil.

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