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    Marieta Severo estrela “Duetto”: pessoas precisam saber o que foi a ditadura

    Elenco e produção do filme que estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas contam como foi gravar um longa-metragem intimista tendo a política nas entrelinhas

    Isabella Fariada CNN

    Marieta Severo está gripada, mas, mesmo assim, topou conversar com a CNN.

    “Essa gripe me pegou muito brabo, ainda mais para suspender espetáculo”, diz ela. “Nessas, a gente não manda atestado médico, manda de óbito, mesmo”.

    A atriz está, até novembro, com o espetáculo teatral “O Espectador” no Teatro Poeira, no Rio de Janeiro. Alguns dias de apresentação foram cancelados, mas com a melhora, antibiótico e cortizona, segundo Marieta, ela voltará à produção em breve.

    Ativa como sempre foi, a atriz quer continuar fazendo seus trabalhos no teatro e no cinema e, para isso, ela diz que ter autoconfiança é fundamental.

    “Faço psicanálise e não paro. Tenho meus erros, minhas dificuldades, minhas limitações, quero sempre lidar com eles e expandir meus espaços”.

    O espaço cinematográfico que ocupa no momento é com o filme “Duetto”, dirigido por Vicente Amorim. Ambientado em 1965, na Itália e no Brasil, o filme conta a história de Lucia (Marieta Severo) e sua relação com a neta Cora (Luisa Arraes).

    Depois da morte do pai de Cora, ambas vão morar na Itália com o intuito de mudar um pouco de ares. Ao chegarem lá, somos apresentados à irmã de Lucia, Sofia (Elisabetta de Palo) e, de cara, já se percebe um ressentimento escondido entre as duas, fruto de algum trauma de anos atrás.

    “A perda de um filho é o que leva essa mulher a refazer os laços com o passado dela, é muito violento, drástico e muito modificador, porque acho que Lucia faz o que ela faz em função da construção da vida da neta”, diz Marieta.

    Na verdade, tudo nesse filme é dito nas entrelinhas e no silêncio. Há a relação familiar permeada por segredos, o luto de uma filha que projeta o pai em tudo que vê e a própria atmosfera política do longa.

    A ditadura militar no Brasil havia começado fazia um ano e a Itália passava por uma crise econômica grave. Não se trata de um filme político, mas, com certeza, a política paira no ar durante o longa-metragem inteiro, afetando, inclusive, as vidas dos personagens.

    “É preciso haver um conhecimento por parte da população de que a ditadura é o pior dos regimes”, diz Marieta.

    Quando perguntada sobre as mudanças que gostaria de ver no Brasil para o futuro, ela exclama “Nossa, mãe!”, e responde:

    “Em primeiro lugar, afastar o perigo de um regime autoritário, é a coisa que mais me angustia. Sei o que é viver minha juventude em um regime ditatorial, que era violento, que torturava, que fazia horrores com as mulheres”.

    Por fim, ela diz que não vale a pena se alongar sobre isso, mas finaliza dizendo que um resgate social do país nos próximos anos é essencial.

    Núcleo Feminino em Duetto

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    Filme brasileiro “Duetto” chega aos cinemas nesta quinta-feira (29)/ Divulgação

    A política está ali, mas é o formato intimista do longa seu verdadeiro trunfo.

    São histórias sensíveis que vão se entrelaçando, com mulheres complexas, polêmicas e reais.

    “Acho que o filme tem essa capacidade de penetrar no cerne humano sem dourar quem tem razão”, diz Marieta Severo. “São quatro mulheres ali, se desconstruindo, se reconstruindo, em situações muito difíceis, muito penosas, mas que vão sendo resolvidas”.

    Luisa Arraes, que interpreta Cora, concorda.

    Ela diz que, normalmente, personagens femininas são mais rasas que uma piscina de criança.

    “Isso acontece em Hamlet por exemplo. Você tem a Ofélia, aquele saco de personagem em comparação aos personagens masculinos que são mais complexos”.

    Luisa agradece Vicente Amorim por conduzir a história dessas mulheres de uma forma tão respeitosa.

    “Eu devo muito às atrizes com quem eu trabalhei: a Marietta, a Luisa, a Elisabetta”, diz o diretor. “Fui apenas um acessório para essa história feminina”.

    Para Vicente Amorim, a vantagem de ser fazer um filme de época é a não-intervenção da tecnologia nas relações. No filme, elas vão de relações familiares até as amorosas.

    “Não há como fazer um drama contemporâneo que não seja mediado pela falta de tecnologia, sem isso, a relação entre os personagens de intensifica”, diz o diretor.

    Da Netflix para o cinema

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    Michele Morrone estrela o filme “Duetto” como o cantor Marcello Bianchini/ Divulgação

    A ideia de filmar parte do longa na Itália veio do tio da roteirista Ritta Buzzar, que era da Calábria.

    “Ele me contava muitas coisas dos anos 1960 e era apaixonado pela música italiana da época”, diz.

    Uma parte importante da história de “Duetto” é musical: Cora adora o cantor italiano Marcello Bianchini (Michele Morrone) que também era ídolo do seu pai falecido. Ao chegar na Itália, a personagem tem a oportunidade de vê-lo em um festival de música. Ritta, então, uniu o útil ao agradável.

    “Havia um interesse de fazer uma coprodução com a Apúlia (região da Itália) e para fazê-la, eu precisava de, pelo menos, um ator de Apúlia. Aí escolhemos o Michele”, diz.

    Michele Morrone é atualmente uma das caras mais conhecidas do streaming por ter protagonizado o filme “365 Dias” da Netflix. Em “Duetto”, o ator canta três músicas. O visual e os trejeitos, porém têm inspiração confirmada.

    “O Marcello foi inspirado em um cantor italiano verdadeiro, o Luigi Tenco”, diz João Segall. “Havia uma questão que circunda a morte dele, que acabamos trazendo para o filme também”.

    Assim como Luigi, o personagem Marcello é um cantor de protesto, que tem como objetivo expor as dificuldades de se viver na Itália nos anos 1960.

    Ainda com a política entremeando o filme, Marcello, Cora e Lucia têm todos algo em comum: o luto pelo país de onde vieram.

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