A tokenização é a parte mais promissora da Web 3.0
A Web 3.0 se tornou, recentemente, um dos assuntos mais comentados no mundo da tecnologia e dos negócios. A Web 1.0 (anos 1990) foi fundamentalmente uma grande onda de digitalização onde jornais e revistas se tornaram portais, por exemplo. Naquele período, a produção e acesso à informação eram centralizadas e a interação do público se limitava às caixas de comentários. A Web 2.0 (anos 2000) trouxe protagonismo ao usuário, especialmente, com a chegada das redes sociais. A quantidade de conteúdo produzido se multiplicou drasticamente, mas, o fluxo de informação continuou centralizado com a nova geração de big techs como Facebook e Google.
A Web 3.0 possui 4 características essenciais: descentralização, privacidade, segurança e a posse (NFTs, tokens, etc). É este último atributo que considero o que será mais rapidamente tangibilizado com aplicações que não serão necessariamente digitais no seu fim e que poderá trazer o impacto mais abrangente nos modelos de negócio.
Muitos associam, automaticamente, NFTs às aplicações ligadas à criação, negociação e ao colecionismo de artes digitais, como no caso dos ‘’Bored Apes’’. E se usarmos NFTs e a tokenização de ativos usufruindo o melhor de suas características como a segurança, rastreabilidade e velocidade para destravar processos lentos e burocráticos em setores tradicionais da economia? É exatamente isso que tem sido feito por algumas empresas.
Recentemente, a empresa aérea low-cost argentina FlyBondi anunciou que será a primeira companhia do setor a usar blockchain em sua operação comercial ao vender passagens aéreas usando NFTs com a criptomoeda USDC. Qual o impacto prático? Um usuário compra a passagem aérea e caso não possa voar naquela data pode rapidamente comercializar o direito de vôo com a venda deste NFT. Outra possibilidade é que a passagem tenha sido comprada com antecedência com uma tarifa reduzida e o proprietário do token resolva revender em caso de alta dos preços, exatamente como faria com uma obra de arte. Isso seria impossível considerando o funcionamento atual do mercado aéreo. Essa comercialização secundária foi inclusive prevista pela FlyBondi sendo que ela mesma lucra com a operação. Como o token é rastreável e conta com um contrato inteligente (smart contract), a empresa decidiu empregar uma comissão de 11% a cada vez que uma passagem tiver sua titularidade trocada.
Outro setor que já utiliza NFTs é o imobiliário. Vale lembrar da diarista Docelina de Barros que adquiriu uma casa na cidade de Porto Alegre (RS) graças à nova modalidade proposta por uma startup que associa a matrícula do imóvel a um NFT. Sem comprovação formal de renda por vias formais, ela sempre enfrentou dificuldades para acessar as linhas de crédito que permitiriam financiar a compra do imóvel. Com a utilização do próprio imóvel como garantia, ela conseguiu oficializar a transação em menos de 3 dias. Em Portugal, a Ordem dos Notários (tabeliões) aprovou a compra e venda de imóveis a partir de carteiras digitais.
São exemplos que demonstram como é possível combinar o melhor da tecnologia de vanguarda para desbloquear valor, aumentar a inclusão e o acesso ao crédito e reduzir fricção nas transações entre usuários. Esse é o futuro DeFi – Descentralized Finance (Finanças Descentralizadas) que está apenas começando. Se na última década acompanhamos o aumento de competitividade e soluções menos complicadas propostas por fintechs, daqui para frente veremos usos cada vez mais cotidianos amparados por tecnologias como blockchain e NFTs.
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